Redação Donna
Passando na rua com a família, dia desses, vi um carro que achei bonito, pequeno, feminino, e, como que pensando em voz alta, comentei:
? Taí um carrinho que eu gostaria de comprar.
Meu filho mais novo, de 19 anos, logo retrucou. Disse que o carro era pequeno para nós quatro.
? Eu sei, filho, eu só estou pensando que mais adiante, quando estivermos só eu e teu pai, poderemos ter um carro assim, pequeno.
? Ô mãe, tá querendo se ver livre da gente é?
Claro que não. Não tenho a menor pressa de ver minha casa vazia. Nem consigo imaginar o quarto dos meninos com as duas camas sempre arrumadas, a casa sem bagunça e silenciosa. E parece que eles também não têm pressa em sair. Fico feliz, pois é sinal de que se sentem bem na casa que também é deles.
Depois, mais tarde, sozinha, fiquei imaginando o que sentirei nestes momentos de despedida e como será a minha vida a partir de então. Porque uma hora, óbvio, isso vai acontecer. Eles, casando ou não, vão querer ter seu próprio canto, assim como eu quis, lá atrás, ter o meu. Nada mais justo.
Não posso negar que a aproximação deste dia de "desmamar" as crias me deixa um pouco aflita. Não com o fato de deixá-los partir ? porque isso é sinal de que tornaram-se adultos e responsáveis ? mas, com o sentido que darei à minha vida depois disso.
Não terei mais as tarefas que tanto me ocuparam, por mais de duas décadas: cuidar da alimentação deles, das roupas, dos horários, dos deveres, da saúde, da educação... Tudo isso ficará no passado, e terei tempo de sobra. O difícil, pelo menos por enquanto, é saber o que farei com essas horas a mais que o meu dia ganhará.
Quero acreditar que quando chegar a hora de deixá-los seguir em frente, vou conseguir encontrar maneiras de me sentir feliz e realizada, da mesma forma que me sinto hoje, com eles em casa.
Já começo a fazer planos para o futuro. Há anos tenho vontade de fazer um trabalho voluntário, que sempre fica postergado para quando eu tiver mais tempo. Quem sabe voltar a estudar? Aprender outras línguas? Escrever um livro? Viajar? Namorar mais o pai dos meus filhos?
Haverá tempo para tudo, eu imagino. E espero que saúde também. Até para, quando a saudade apertar, largar tudo e reencontrar meus meninos, seja onde for. Nem que seja só para dar um abraço e um beijo, e dizer que a porta de casa estará sempre aberta. É só chegar.