Redação Donna
Enquanto uma artista de rua continuar percorrendo o metrô de Paris com uma caneta preta, a determinação do governo francês não será suficiente para banir o véu negro islâmico dos espaços públicos do país. Proibido em escolas públicas há seis anos e com veto das ruas marcado para 2011, o niqab (véu que deixa apenas os olhos à mostra) desperta atenção como marca registrada da grafiteira Princess Hijab.
O trabalho da artista é aparentemente simples: ela desenha um niqab, ou, nas suas palavras, "niqabiza" modelos em anúncios publicitários do metrô parisiense. Realizadas desde 2006, as intervenções ganharam visibilidade com o debate em torno da proibição do uso do símbolo islâmico por mulheres em espaços públicos no país - a lei foi aprovada em outubro.
Ao contrário do que se possa imaginar, a "princesa hijab" (hijab é o véu preto com o qual as mulheres islâmicas cobrem a cabeça) não é uma ativista e se nega a revelar se tem origem muçulmana. Apesar de adotar um nome feminino, a artista esconde sua identidade, até mesmo se é homem ou mulher - quando esteve com jornalistas, cobria a cabeça com capuz e usava roupas andróginas que não permitiam identificar seu sexo. Uma repórter do jornal britânico The Guardian que viajou a Paris para entrevistá-la disse estar claro que a artista de 20 e poucos anos não veste o símbolo que transformou em assinatura.
Seus fãs a idealizam como uma jovem rebelde do subúrbio de Paris que vai à capital deixar sua marca, imagem que não agrada Princess.
? Eu me posiciono como artista. Nunca pretendi ser a bandeira de uma comunidade ? disse à BBC.
Seletiva, grafiteira diminuiu o número de intervenções
A ideia de realizar as intervenções surgiu quando a artista trabalhava com moda e costumava desenhar uma espécie de burca colada ao corpo.
? Paris é a capital da moda. É um ato forte fazer isso aqui ? afirmou, referindo-se às "niqabizações".
Por uma estranha coincidência, o primeiro graffiti, em 2006, foi desenhado sobre um pôster da rapper francesa Diam's, recentemente convertida ao islamismo. Em quatro anos, Princess tornou-se seletiva com as intervenções. Tem feito de quatro a cinco por ano. A proteção aos espaços de publicidade no metrô de Paris aumentou e agora cada obra sua dura no máximo uma hora até ser limpa. Fotografados, os graffitis despertam atenção internacional ao circular na internet.
O alvo preferido da artista são as publicidades da marca H&M, loja de departamentos que ela argumenta terem democratizado a moda a preços baixos e tem entre suas clientes muitas mulheres trajando hijab.