Redação Donna
O autor americano Richard Louv cunhou o termo Transtorno do Déficit de Natureza para descrever o dano causado a crianças que não experimentam o mundo natural. Quando menino, crescendo na ponta do subúrbio de Kansas City, nos Estados Unidos, Louv podia passar da porta dos fundos da casa de seus pais diretamente para uma plantação de milho e, de lá, para um bosque. E ele o fez. E muito. Como resultado, diz, meio século depois:
- Tenho lugares para ir em meu coração, a plantação de milho e o bosque.
Já faz cinco anos desde que Louv publicou Last Child in the Woods (A Última Criança nos Campos, em tradução livre), best-seller nos EUA que explora o que acontece, aos indivíduos e à sociedade, quando as novas gerações param de brincar em meio à natureza. Transtorno do Déficit de Natureza, como chamou. Muitas coisas ocorreram desde então, mas a pergunta é a mesma: as crianças de hoje terão um "lugar para ir" em suas lembranças?
- Para elas, a natureza é mais uma abstração do que uma realidade física. As crianças de hoje podem falar a você da Amazônia, mas não da última vez em que entraram em um bosque sozinhas. Algo muito profundo aconteceu com a relação delas com a natureza - diz.
É uma síndrome que Louv encontrou pela primeira vez ao pesquisar outro livro no final da década de 80. Obra que é melhor resumida pelas palavras do pré-adolescente anônimo de San Diego que disse a ele na época:
- Gosto mais de brincar dentro de casa, porque é onde estão as tomadas elétricas.
Há também, fatores como a noção moderna de que o tempo de uma criança deve ser usado de forma construtiva - sem espaço para apenas passear em um bosque. Por uma série de razões, não se deixa os jovens chegarem nem perto da natureza por conta própria.
Uma enquete feita pela Children's Society, em 2007, mostra que 43% dos adultos acreditam que elas não deveriam ter autorização para sair de casa sem supervisão antes de completarem 14 anos. Mais crianças, ao que parece, dão entrada em hospitais depois de cair da cama do que por cair de árvores.
- Ossos quebrados costumavam ser um rito de passagem. Agora, tudo o que os pediatras veem são casos de obesidade e lesão por esforço repetitivo - afirma Louv.
A obesidade, porém, é apenas o mais visível dos problemas, mas há um corpo crescente de pesquisa mostrando que o tempo gasto no mundo natural tem um impacto significativo mais amplo do que o bem-estar físico.
Crianças podem crescer bem sem a natureza, mas, com isso, há um aumento notável em distúrbio de déficit de atenção, habilidade de aprendizado, criatividade e saúde mental, psicológica e espiritual. Louv destaca que, em algumas escolas dos EUA, mais de 30% dos alunos usam ritalina.
- Perdi a conta do número de professores que me contaram o quão diferentes eles se tornam quando você os deixa saírem para explorar a natureza. A natureza é a ritalina deles - conta.
E mais, quem vai se chatear em cuidar do planeta se não há mais ninguém com qualquer entendimento, interesse ou conexão com seu ambiente natural?
- O que estamos fazendo, em vez disso, é instaurando nas crianças um tipo de ecofobia. Estamos sobrecarregando-as com cenários de medo e desastre - argumenta o autor.