Redação Donna
Eles atraem os olhos dos curiosos, as lentes dos fotógrafos e surpreendem os pais. Tudo por conta do tamanho. Em pouco mais de um mês, três bebês nasceram no Rio Grande do Sul com peso equivalente ao de crianças de cinco meses. O maior deles foi Luana Lichkoviski, que veio ao mundo com incríveis 6,1 quilos e causou espanto no pequeno município de Alecrim, no norte do Estado.
A sequência de nascimentos fora dos padrões está na contramão da tendência. Nos últimos anos, estatísticas oficiais mostram que o peso médio dos recém-nascidos diminuiu e está próximo do mínimo considerado normal para a Organização Mundial de Saúde, que é de 3,1 quilos. Crianças com mais de quatro quilos, os chamados macrossômicos, são pouco frequentes. Em 2007, as maternidades gaúchas registraram apenas 5% de crianças com peso entre quatro e 4,9 quilos. Os recém-nascidos como Luana são tão raros que representam menos de 1% das estatísticas, mas preocupam os médicos. Ser muito fofinho no início da vida pode não ser nada saudável.
Engana-se quem acredita que a alimentação da mãe é a principal causa do excesso de peso dos bebês. Até as 32 semanas de gestação, a placenta é muito seletiva e deixa passar apenas o alimento necessário para o desenvolvimento do feto. Somente após esse período uma dieta gordurosa da mulher pode afetar a criança, mas não haverá tempo suficiente para deixá-lo com mais de 4,5 quilos.
Boa parte do sobrepeso dos bebês é causada por uma doença desenvolvida pela mãe: o diabetes gestacional. Alguns hormônios da gravidez podem desencadear o problema em mulheres com predisposição genética. O aumento da glicose materna é transmitida ao feto que, em defesa, libera insulina. As duas substâncias em conjunto estimulam o crescimento exagerado do bebê durante sua formação.
– Por isso, é importante detectar o diabetes durante a gestação. Assim, controlam-se os níveis de glicose na mãe, dando melhores condições de desenvolvimento à criança – alerta Maria Lúcia Oppermann, professora de ginecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A convergência de vários outros fatores também influi no peso do bebê ao nascer. Um deles é a idade da mãe. Mulheres com mais de 35 anos e que já têm filhos possuem mais chances de parir crianças robustas.
Do tamanho do berço
Recém-nascidos acima do peso podem ter problemas semelhantes ao de crianças obesas. Eles precisam monitorar os quilos com mais atenção pelo resto da vida.
Apesar de não sofrer mais com a balança, o gaúcho de Anta Gorda Amauri Citolin, que nasceu com sete quilos em 1972, não descuida da alimentação para não ver seu nível de colesterol subir além do nível ideal (leia mais abaixo). Contrariando as expectativas médicas de que ele carregaria problemas de saúde para o resto da vida, Citolin conta que hoje, aos 36 anos, leva uma vida normal, tranquilizando as mães de recém-nascidos grandes. Mas, para evitar as complicações futuras, é preciso redobrar os cuidados desde a hora do nascimento.
Os médicos evitam o parto normal para poupar o sofrimento da mãe e do bebê. Por causa dos ombros maiores que a média, a criança corre risco de sofrer asfixia, lesão nervosa e fraturas, enquanto a mãe pode ter laceração do períneo. Após o parto, o bebê precisa ainda passar por uma cuidadosa avaliação. O excesso de peso está relacionado com a má formação de órgãos, como a miocardiopatia hipertrófica (coração grande) – alteração herdada por Luana, que nasceu com 6,1 quilos, em Alecrim.
A hipoglicemia também está na lista de complicações. Durante a gestação, o bebê utiliza o excesso de glicose oferecido pela mãe diabética e produz mais insulina, o que atrapalha sua alimentação. Para evitar que isso ocorra, os médicos continuam dando glicose para a criança até seu corpo se adaptar e começar o processo de emagrecimento, o que tende a ocorrer em até cinco dias.