Redação Donna
Na noite de 18 de setembro, no famoso La Scala de Milão, muitas cabeças se viraram para ver Rosita Missoni, a matriarca de 82 anos da famosa grife italiana de malhas, caminhar até sua poltrona, quase no meio da primeira fileira. Eva Cavalli, de terninho branco, se sentou ao seu lado, e a abraçou gentilmente, assim como o marido, Roberto, todo de preto. Giorgio Armani, um dos muitos estilistas reunidos na festa patrocinada pela Condé Nast, também homenageou a mulher orgulhosa, de olhos brilhantes e cabelo branco bem penteado com uma trança na nuca.
Do palco, quando o espetáculo começou, o carismático tenor Vittorio Grigolo lhe mandou um beijo.
? Agora ele quer reencenar 'Lucia di Lammermoor', aquela para a qual fizemos os figurinos, em 1983 ? , contou ela, dias depois aos colegas, dando a impressão de estar mais divertida que comovida pela sugestão. Isso foi nos bastidores, antes do desfile primavera/verão da marca, onde três gerações da família supervisionavam as modelos ao mesmo tempo em que ajeitavam o cabelo e a maquiagem e eram seguidas por um verdadeiro séquito de repórteres que gritavam perguntas em italiano e inglês. Angela Missoni, diretora de criação da grife desde 1996, passeava para lá e para cá descalça, tirando fotos dos filhos com seu iPhone. Johnny, um buldogue inglês que viajava para todo lado com um deles, Francesco, estava esparramado a seus pés.
O que Rosita não mencionou foi que ela, o marido, Ottavio, o maestro e Luciano Pavarotti foram vaiados na estreia dessa mesma peça há trinta anos, quando a voz do cantor fraquejou no final da última ária. Sem dúvida, não foi um de seus grandes momentos, mas os Missoni sempre se mostraram fortes, principalmente as mulheres, vivendo suas vidas um tanto boêmias e raramente tediosas com bom humor e muita graça. São pessoas verdadeiramente adoráveis e talvez por isso não fora surpresa ver Rosita, quase ao fim de um 2013 horrendo, cheia de vida, usando um belo cardigã em ziguezagues vibrantes e não em trajes de viúva.
É difícil sequer imaginar a dureza que foi este ano para a família, começando no dia 4 de janeiro, com o desaparecimento, no litoral venezuelano, do pequeno avião que levava Vittorio, filho mais velho de Rosita e Ottavio, sua acompanhante e dois amigos da família que voltavam de férias. A seguir, Ottavio, ou Tai, como era conhecido, ex-astro das pistas que conheceu a mulher competindo nas Olimpíadas de Londres de 1948, foi hospitalizado em maio e morreu poucos dias depois, em casa, aos 92 anos.
Em junho, os restos da aeronave foram encontrados, mas só em outubro as autoridades puderam declarar que tinham recuperado os corpos dos passageiros. Na época, grande parte do clã estava em Nova York, onde Angela recebia um prêmio do Fashion Group International, e alguns voaram para Caracas imediatamente após o evento.
Faz quase vinte anos desde que Rosita e Tai transferiram o controle da companhia para os três filhos, Vittorio, Luca e Angela que, como diretora de criação e responsável das coleções femininas, sempre foi o rosto mais conhecido, escolhida pela família para transformar a Missoni de empresa famosa por seus suéteres em ziguezague em uma grife de moda mundial. Embora todo mundo faça a sua parte, com primos e netos participando até das campanhas publicitárias, fica óbvio que o futuro do negócio está nas mãos da caçula, hoje com 54 anos, e que a responsabilidade pesa sobre seus ombros.
Quem trabalha na empresa diz que a relação que Angela tinha com Vittorio era especialmente simbiótica porque ambos trabalhavam pela expansão da Missoni. Ela, concentrada em criar seu look; ele, que começou trabalhando em marketing, se tornou o principal executivo, fazendo planos para entrar em mercados novos como a China e introduzir novidades. Durante vários anos Luca criou as coleções masculinas, mas descobriu a felicidade profissional supervisionando os arquivos e montando projetos especiais relacionados a eles.
Embora a Missoni tenha se tornado um nome global, é, na verdade, relativamente pequena, com a venda de moda, perfumes e coleções para casa calculadas em torno de US$120 milhões.
Angela cresceu com a grife, fundada pelos pais em 1953, baseada em uma sugestão de Tai depois de ter visto os teares usados na confecção de xales da família da mulher. Ele introduziu fios multicoloridos nas máquinas, criando os padrões vibrantes que desde então se tornaram a marca registrada das peças de luxo da Missoni, tão tradicionais que muitos itens de sua coleção mais acessível, feita para a Target, se esgotaram assim que foram lançados; ao mesmo tempo, fez questão de proteger seu nome e estilo de vida dos riscos do crescimento exagerado.
Aos treze, Angela disse que sua única ambição era ter filhos, o que quase fez a mãe ter uma síncope.
Todas as mulheres da família de Rosita são trabalhadoras. Em sua fábrica, em Varese, a avó de Angela, Diamante Jelmini podia sempre se postar de pé, atrás do marido, Angelo, como fez sua bisavó, Giuseppina Torrani à sombra de Piero, mas ? eram elas que administravam a empresa ? , a mãe lhe contou. Rosita e Tai sempre ficaram lado a lado.
Angela nunca concluiu os estudos. Aos 19 anos, quando Vittorio comprou um casarão, ela se mudou para seu antigo apartamento, a menos de cinco minutos da casa dos pais, mas que não deixou de ser uma declaração de independência. Aos 23 anos, grávida de Margherita, disse à mãe que ia se casar. Embora trabalhasse de vez em quando para a empresa apenas pelo salário, foi só quando engravidou de Teresa, a terceira filha, que foi falar com o pai para anunciar que tinha decidido criar uma coleção de joias própria. (O casamento com Marco Maccapani durou sete anos. Desde então ela está com Bruno Ragazzi, empresário do setor têxtil.)
? Meu pai nunca interferiu na nossa vida, mas quando decidi que não ia mais trabalhar para ele, disse: Pode fazer o que quiser, mas sempre pense nessa companhia como um chapéu bem grande. Há espaço para seu próprio projeto.' Ele sabia que eu tinha que fazer alguma coisa minha para ganhar confiança ? , conta ela.
Angela continuou na empresa, criando roupas infantis e acessórios para licenciados, até que começou sua marca própria no início da década de 90.
Sua coleção primavera/verão trouxe uma versão mais sutil dos ziguezagues e incluiu um logotipo vintage escondido dentro dos padrões. Foi uma ruptura e alguns especialistas questionaram se o estilista tinha mudado. Angela Missoni, com a confiança renovada, parecia a mãe ao dizer: ? Se estou dizendo que é Missoni, é porque é! ?
? Eu conheço a história. Vai muito além do ziguezague ? , ela diz simplesmente.
Angela sempre gostou de colecionar amuletos, mas até este ano, nunca teve nada que realmente desejasse.
? Só uma vez vi uma estrela cadente e fiz um desejo para que tudo continuasse do jeito que estava ? , ela revela. Coisas ruins acontecem, mas coisas boas também e, em vez de chorar a morte de Vittoria, foi exatamente isso que falou para os filhos dele, Ottavio Jr., Giacomo e Marco.
? Eu sei que tivemos muita sorte na vida e sempre digo isso aos meus sobrinhos. Temos muita sorte. ?