
Aos 38 anos, Isis Valverde sempre usou a arte para se expressar. Embora estejamos mais acostumados a vê-la nas telas, a mineira, natural de Aiuruoca, também usa a escrita para comunicar seus sentimentos e transformar emoções em palavras. Assim nasceu Vermelho Rubro, seu segundo livro de poemas, lançado em setembro.
A escrita, contudo, não é novidade na vida da atriz. Vinda de uma família que gosta de escrever, Isis conta que começou o hábito ainda jovem, sendo que alguns textos de seu primeiro livro, Camélias em Mim (2019), foram escritos quando tinha 15 anos.
— Eu nunca tive pretensão de fazer um segundo livro. É muito louco isso, né? Porque realmente me vejo como atriz. Eu escrevo porque isso me liberta. Acho que as palavras não capturam você, elas te libertam. E isso faz muito sentido para mim.
Vermelho Rubro surgiu após reunir uma coletânea de poemas escritos ao longo dos últimos cinco anos. Durante esse período, Isis acompanhou a batalha da mãe, Rosalba Nable, contra um câncer de mama, em intensas sessões de quimioterapia e radioterapia em 2024. Por isso, a obra é dedicada à matriarca, a quem define como forte e resiliente:
— Ela merece todos os poemas do mundo — declara Isis. — Fui escrevendo e chegou uma hora que minha caixa de textos tinha 52 textos. Eu falei: "Misericórdia! Deixa eu entender o que vou fazer com isso aqui." Aí comecei a mexer, editar, apagar, colar, cortar... acho que é esse “Frankenstein” que a gente cria às vezes com a poesia — explica a atriz.
No prefácio, o renomado escritor, jornalista e produtor musical Nelson Motta ressalta como a poesia de Isis “desmonta a ilusão da vida perfeita de uma estrela pop”. Para ela, revelar suas fragilidades foi libertador:
— Eu acho que comecei a fazer isso não como uma forma de falar sobre a minha vida, ou para dizer que eu sou ou não sou alguma coisa. Acho que são as minhas humanidades, como todos nós temos. Às vezes tinha dificuldade de verbalizar essas histórias internas, esses devaneios, até essas dores que me mutilavam internamente. Eu pensava: “Como é que vou expor isso?” Descobri através da escrita e, quando comecei a escrever, vi que podia ir mais fundo.

Em entrevista a Donna, Isis Valverde reflete mais sobre o poder da escrita, fala do casamento com Marcus Buaiz e revela os planos de adaptação de Hilda Furacão para o teatro.
Confira a entrevista com Isis Valverde
Como é o seu processo criativo na escrita? Existe um ritual ou vem de forma espontânea?
Tem esses momentos de solitude, aquele em que você está se curtindo, escrevendo, dedicando um tempo para a escrita. Mas também tem momentos em que a escrita simplesmente vem, por exemplo, às 2h da manhã. Acordei com o início de um poema na cabeça. Você acha que eu parei de dormir para escrever? (risos).
A inspiração aparece e, se você não aproveita, ela vai embora. E também vem quando estou no avião. Aquela bagunça, criança chorando... tem momentos assim. Então, não tenho um ritual fixo. Mas existe esse momento de ficar sozinha quando estou finalizando um projeto. Eu sempre leio para minha mãe. Ligo para ela e digo: “Mãe, escuta aqui, escrevi isso.”
A maternidade mudou sua relação com a arte? Você sente que escreve ou interpreta de outra forma depois de ser mãe?
Muito! A maternidade não só transformou a forma como interpreto, mas também mudou a minha própria frequência, quase como se fosse uma mudança física mesmo, sabe? É uma nova maneira de sentir, de olhar para o mundo e, consequentemente, de me expressar através da arte.
Você sempre foi referência de beleza, mas no livro também aborda sobre transformações do corpo. Como lida com a passagem do tempo?
Da melhor forma possível. Com o tempo, a gente vai ganhando segurança, um autoconhecimento mais profundo e uma compreensão maior de si mesma. Aprendi a dizer não, a impor limites e a não ter medo de ir atrás do que acredito.
Também descobri que sempre é possível recomeçar quando sentimos que é a hora certa. Isso tudo me deixou muito mais segura de quem eu sou.
A infância em Aiuruoca aparece bastante na obra. De que forma essas raízes seguem presentes na Isis de hoje?
Aiuruoca é a minha casa, o lugar para onde sempre posso voltar. É a raiz que me sustenta, que me lembra quem eu sou e de onde venho. Carrego comigo infinitas memórias da infância: a simplicidade, o contato com a natureza, os valores que aprendi e levo comigo até hoje. Tudo isso segue presente na mulher que sou hoje.
Você se casou com Marcus Buaiz recentemente. O casamento trouxe novas camadas para sua escrita e sua forma de ver o amor?
O casamento traz novas formas de olhar sobre o amor. Mais do que a celebração em si, é sobre dividir a vida com alguém, aprender no cotidiano, no diálogo, na parceria. E isso reflete na minha vida como um todo.
Sobre projetos futuros, você comprou os direitos de Hilda Furacão para o teatro. Como tem sido esse processo e o que pode adiantar sobre a montagem?
Estamos nesse processo, é um projeto que estou muito imersa e contente também por poder trabalhar agora numa nova versão da história, desta vez para o teatro. A peça terá direção de Tadeu Aguiar e coprodução minha e da Priscila Prade, com estreia prevista para 2026, inicialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Vermelho Rubro, de Isis Valverde
- Citadel Grupo Editoria, 128 páginas, R$ 59,90




