
Nas prateleiras de supermercados e lojas de suplementos, os supercafés chamam atenção. Por fora, promessas de aumentar a energia para os treinos, ajudar na concentração e, até mesmo, garantir mais vitaminas na dieta. Dentro da lata, um pó que se assemelha a qualquer café solúvel. Especialistas alertam que é preciso cautela: os efeitos desses produtos nem sempre correspondem ao que é anunciado, e o uso em excesso pode causar prejuízos.
Os supercafés são versões turbinadas da bebida tradicional, enriquecidas com ingredientes como vitaminas, colágeno ou substâncias estimulantes, como taurina e cafeína extra. Alguns têm sabores adicionados, como doce de leite ou chocolate branco, por exemplo. A proposta é oferecer mais benefícios do que o café comum. Na internet, o preço de uma lata com 38 doses pode chegar a R$ 200.
— Eles são chamados pela indústria de bebidas funcionais, porque prometem melhora de energia, foco, auxílio no processo de emagrecimento, entre outras coisas. Separados, esses ingredientes têm benefícios. Mas não temos trabalhos que mostrem os efeitos de todos juntos em um mesmo produto, ou que comprovem que o supercafé é melhor do que o café normal — defende a nutróloga Jaqueline Costa Coelho.
Alguns produtos também contam com ingredientes termogênicos, como pimenta, canela e gengibre, que prometem acelerar o metabolismo e a circulação sanguínea. A nutricionista esportiva Maria Eduarda Alves cita, ainda, a adição de coenzima q10 (um antioxidante) e de triglicerídeos de cadeia média (TCM), que é um tipo de gordura que contribui para a saciedade.
Ela afirma que esses compostos oferecem uma experiência mais “glamourosa” para a xícara diária de café, que vem sendo difundida por influenciadores nas redes sociais. O preço alto, as embalagens atraentes e as promessas conquistam o público que busca melhorar o rendimento ou acabar com queixas comuns, como a deficiência vitamínica e falta de energia.
— A indústria usa vitaminas que seriam benéficas para as pessoas, mas que ali, em dosagens baixas, é uma suplementação posta fora, porque não vai ser o suficiente para realmente funcionar. São promessas vazias de acelerar o metabolismo ou melhorar a imunidade. E são ingredientes que encarem esses produtos. Em poucas palavras, é um café normal com brilho — avalia a nutricionista.
Consumir supercafés pode fazer mal?
É evidente que os supercafés podem trazer alguns benefícios, como mais energia e maior foco, graças à presença de substâncias como a taurina e a cafeína. No entanto, especialistas alertam que, além de nem todas as promessas das embalagens se confirmarem, o consumo excessivo desses produtos pode fazer mal à saúde – doses elevadas de estimulantes podem sobrecarregar o organismo.
— As pessoas não entendem o impacto que a cafeína pode causar. A dose recomendada por dia é de 400 miligramas. Alguns supercafés têm 250 miligramas de cafeína em uma dose. Se a pessoa tomar outros cafézinhos durante o dia, já ultrapassa o recomendado. Para quem é ansioso, pode piorar. Quem tem problema cardíaco pode ter arritmia ou palpitação — explica Jaqueline.
A nutróloga acrescenta que o excesso de cafeína pode atrapalhar a arquitetura do sono, fazendo com que a pessoa não consiga descansar adequadamente. Já a taurina em excesso pode sobrecarregar o coração e o sistema nervoso, sendo capaz de causar também agitação e alterações no ritmo cardíaco.
Maria Eduarda explica que alguns pacientes podem apresentar reações negativas a determinados ingredientes. Alguns produtos recorrem a adoçantes artificiais, como a sucralose, que podem causar desconfortos gastrointestinais. Pessoas com síndrome do intestino irritável, por exemplo, podem apresentar intolerâncias, distensões abdominais e outros problemas digestivos.
Substitutos do supercafé
Para obter mais energia e foco sem recorrer aos supercafés caros e com altas doses de estimulantes, as especialistas recomendam alternativas como café comum ou cápsulas de cafeína.
— Dependendo do supercafé que a pessoa usa, ela pode sentir que o café normal não faz mais efeito, porque o corpo vai se familiarizando com a cafeína. Aí recomendamos retirar a cafeína ou reduzir ao máximo por umas quatro semanas. Depois, dá para voltar a consumir café ou cápsulas, cuidando o horário e a dosagem — sugere a nutricionista esportiva.
Jaqueline defende que é importante que o paciente investigue as causas das queixas antes de recorrer a suplementos mágicos:
— Um jovem que treina usar supercafé é diferente de uma mulher no climatério. Precisa individualizar e avaliar esse cansaço, sonolência, falta de foco. Pode ser algum distúrbio nutricional, deficiência de nutrientes, depressão ou burnout no trabalho. As pessoas têm que pensar se estão dormindo bem, se alimentando corretamente, porque às vezes só estão buscando algo que resolva rápido um problema.



