
Caracterizada pela dificuldade de iniciar o sono e mantê-lo de forma contínua, ou pelo despertar antes do horário desejado, a insônia se tornou um problema de saúde pública. Estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam que 72% dos brasileiros sofrem de doenças relacionadas ao sono. A consequência é uma saúde física e mental mais frágil. O que poucos sabem é que dormir bem vai muito além de ter um bom colchão ou travesseiro. A rotina diurna e a capacidade que temos de relaxar diante das adversidades da vida impactam na hora de descansar.
Com um método que cuida da saúde integral do indivíduo, há mais de 40 anos o Spa Médico Kurotel instituiu o sono como um dos seus pilares. Desde então, hóspedes de todo o Brasil e do mundo vivem em Gramado uma experiência de bem-estar que impacta diretamente na qualidade do sono. O cuidado vai muito além de oferecer acomodações com uma cama confortável, iluminação suave ou aromaterapia. A atenção é ampla, profunda e efetiva, através de acompanhamento profissional interdisciplinar, aliado à tecnologia e a um ambiente onde literalmente se respira saúde.
Em entrevista, a diretora médica do Kurotel, Mariela de Oliveira Silveira, explica como o cuidado integral da saúde impacta na qualidade do sono e como o Spa Médico tem estruturado ações em busca da longevidade e de uma vida com mais qualidade.
Quais áreas da saúde um sono de má qualidade pode impactar?
Dormir mal impacta em várias áreas. Na metabólica, por exemplo, uma noite mal dormida traz menos desejo para a prática de atividade física. Quando não se chega aos estágios mais reparadores do sono, os hormônios grelina e leptina se desregulam, fazendo com que o indivíduo ingira até 300 calorias a mais por dia em relação às pessoas que mantiveram a qualidade do sono. O desejo por ingerir doces aumenta. Diminui-se a capacidade de ação do hormônio do crescimento que reduz a gordura e aumenta a massa muscular e controla o nível de glicose no sangue, por isso, metabolicamente há prejuízos.
Um sono mal dormido ainda pode aumentar a chance de Alzheimer e quadros de demência. Há pesquisas que fazem relação do sono com o aumento da prevalência de alguns tipos de câncer. A dispneia, apneia e hipopneia estão relacionadas a chance de morte subida provocadas por doenças cardiovasculares. Quando esse problema é tratado, o paciente diminui para 1/3 a chance de morte por doença cardiovascular. Em resumo, impacta todas as áreas da vida. Por isso no Kurotel estamos aperfeiçoando o nosso trabalho para as questões voltadas para a qualidade do sono, porque hoje se tornou um aspecto de saúde pública.
Esses quadros relacionados ao sono costumam atingir mais homens ou mulheres?
Diferentes estudos demonstram que atingem entre 20% e 40% mais mulheres. Homens tem mais apneia, problema respiratório que impacta no sono, mas por outro lado, as questões comportamentais são mais presentes nas mulheres. A questão do multitasking para a mulher é predominante. Ela está trabalhando fora, mas ela que cuida das demandas da casa, dos filhos, e isso tem uma consequência no sono, à medida que esse público fica sobrecarregado e tem mais dificuldades para relaxar.
No Kurotel os hóspedes chegam com queixas específicas de sono ou esse quadro tem sido percebido durante a avaliação médica?
Muitas vezes esse não é o fator número um que traz as pessoas ao Kurotel. Ela se sente estressada muito mais comumente do que percebe a insônia. Atendemos muito pessoas com quadros de estresse, burnout, profissionais workaholic. Elas chegam reportando estarem esgotadas, sem energia, com a capacidade de raciocínio lenta, entre outros sintomas. Quando vamos investigar o sono, a insônia aparece, mas as pessoas não costumam fazer essa relação direta. Há um aspecto cultural que contribui para essa falta de percepção dos impactos do sono na saúde. No Brasil, as pessoas deixam de dormir para trabalhar, por exemplo, se torna um aspecto de produtividade. A siesta – sono de 20 a 30 minutos após o almoço para descansar – é comum em algumas culturas, mas aqui, por vezes, é visto como preguiça. Esses conceitos também precisam ser revisados para que os indivíduos entendam o papel do sono na saúde.

Qual programação de atividades o Kurotel oferece com foco na saúde do sono?
O nosso cuidado é amplo, profundo e efetivo e vai além de acomodações confortáveis. Oferecemos 42 atividades relacionadas ao sono e cada hóspede tem uma agenda diferenciada de acordo com a sua necessidade. Algumas pessoas podem ter dificuldades com o sono por questões urinárias, por exemplo. Esse hóspede passará por consulta ginecológica ou urológica. Contamos com um equipamento, o Ensella, que oferece um tratamento para incontinência urinária e fortalecimento pélvico. Tratando este aspecto, conseguimos olhar para aquilo que dificulta o sono. Outras pessoas têm um distúrbio respiratório que afeta o sono, ou problemas comportamentais – como se expor até altas horas a luz artificial -, por isso a agenda de uma pessoa será diferente da outra.
Na chegada do hóspede realizamos uma anamnese com foco no sono para entender seu histórico de saúde e seus comportamentos. Conseguimos avaliar e medir na prática a qualidade desse sono com a realização, por exemplo, de polissonografia do tipo 4 e sua análise, e da termografia com biofeedback - exame que permite medir a temperatura corporal e visualizar a sua distribuição na superfície do corpo para auxiliar no diagnóstico de condições de saúde que podem impactar no sono ou mesmo na capacidade de relaxamento do indivíduo. Também realizamos análise da termografia facial, além de um método próprio de higiene do sono, criada dentro do Kurotel. Estão incluídas, ainda, uma série de atividades físicas, de relaxamento, lazer, bem-estar e acompanhamento nutricional, além de cuidado com a saúde mental. Utilizamos todo o método Kur a favor do sono. É uma oportunidade de despertar para insigthse reflexões. O hóspede sai levando uma agenda de saúde para a vida.
Quando o sono passou a ser objeto de estudo e preocupação para o Kurotel?
O método Kur foi estabelecido pelo meu pai em 1971, mas ainda como estudante de Medicina, na década de 1960, ele percebia que a área tinha um olhar pequeno para a prevenção. O foco da Medicina era na doença. Ele se deu conta que a prevenção estava sendo negligenciada. Por este motivo ele pensou em criar um local onde as pessoas pudessem se sentir acolhidas, protegidas e experimentar o que é um estilo de vida mais saudável. O sono sempre foi um dos pilares trabalhados no Kurotel, mas pelas mudanças ocorridas nas últimas décadas têm sido mais importante olhar para ele.
Em 2024 montamos um grupo de estudos que se dedicou a revisar a problemática na atualidade, em razão das mudanças pelas quais não só o Brasil, mas o mundo inteiro vem passando. Temos percebido que as queixas relacionadas ao sono estão crescendo. Já oferecemos uma série de atividades que são relacionadas a melhorar a qualidade do sono, mas estamos focando em deixá-las mais estruturadas para alcançar um resultado ainda mais efetivo.
Quais as principais descobertas que o grupo de estudos já encontrou?
Agora em 2025 avaliamos 100 hóspedes adultos. Foram 65 mulheres e 35 homens. Utilizamos um questionário clínico estruturado para questões relacionadas ao sono. Desse montante, 29% apresentaram queixa do sono, sendo que 21% eram sedentários e 28% com obesidade. Outro dado que chamou a atenção foi que 33% utilizavam medicamentos para induzir o sono ou estimulantes. Destes, 16% não relataram mais queixa de sono após o uso da medicação. Esse é um dado preocupante.
Muitas pessoas acham que o sono se resolve com medicação, mas precisamos ter um plano de descontinuação onde esteja contemplado o estilo de vida, com uma rotina de exercícios, alimentação, higiene do sono, entre outros aspectos. O estudo demonstrou que 45% da nossa amostra ou tem queixa de sono ou utiliza medicação para dormir. Ou seja, quase metade dessa população apresentou distúrbios nessa área. Os dados reforçam a importância de abordagens integrativas e preventivas para melhorar o sono e reduzir a dependência de medicamentos.