
Antes associado majoritariamente aos homens, o transplante capilar tem se tornado opção também para as mulheres. Um levantamento divulgado recentemente pela Sociedade Internacional de Cirurgia de Restauração Capilar (ISHRS) aponta que, entre 2021 e 2024, houve um crescimento de 16,5% nos transplantes capilares femininos.
Para a médica dermatologista Gianna Zaffari Frey, o aumento da procura entre mulheres está relacionado ao avanço das técnicas cirúrgicas – que tornaram o procedimento mais acessível e facilitaram a recuperação – além da maior difusão de informações sobre o transplante capilar, que já não é mais visto como “coisa de homem”.
Além disso, a médica avalia que as mulheres estão recorrendo mais a procedimentos estéticos de modo geral, com o objetivo de melhorar aspectos da aparência que lhes causam incômodo.
— Os homens estão fazendo muito transplante capilar e as mulheres não ficam para trás. Há uma crescente na procura por todos os tratamentos estéticos e acredito que o transplante surfa nessa onda. Apesar de ser uma cirurgia, o procedimento é simples e seguro, tem uma recuperação não tão complicada e oferece resultados muito satisfatórios — explica Gianna.
O médico dermatologista Márcio Volkweis, que integra a diretoria da Associação Brasileira de Cirurgia de Restauração Capilar (ABCRC), observa que o público feminino já corresponde a cerca de 15% dos pacientes de sua clínica. O percentual é considerado alto, se comparado ao que se via anos atrás, conforme o cirurgião.
Contudo, Volkweis pondera que o transplante capilar feminino não é realizado por todos os médicos, pois exige uma abordagem diferente da utilizada em pacientes do sexo masculino, que formam o público mais comum do procedimento. O fato de o cabelo feminino, em geral, ser mais longo que o masculino também torna a cirurgia mais delicada e trabalhosa, segundo o médico.
— Por isso, muitas clínicas optam por atender apenas homens. Mas é completamente possível realizar o transplante nas mulheres — ressalta.
Mas, afinal, como o transplante capilar é feito?
O procedimento consiste na redistribuição de folículos capilares. Ou seja, o cabelo é retirado de uma área e colocado em outra, que se deseja preencher.
Os folículos devem ser retirados do próprio paciente. O mais habitual é que sejam extraídos da nuca, pois os fios dessa região são mais longevos e geneticamente resistentes à ação do hormônio di-hidrotestosterona (DHT), que está associado à calvície.
A técnica mais utilizada no Brasil e no mundo para essa retirada é a chamada FUE, do inglês Follicular Unit Excision (ou “extração de unidade folicular”, em tradução livre). Ela consiste na extração individual de cada folículo capilar, que depois será implantado na área desejada também fio a fio.
A diferença entre o transplante feminino e o masculino está na forma como a técnica FUE é executada. Nos homens, toda a área de onde os folículos serão retirados passa por raspagem, a fim de facilitar a extração. Já nas mulheres, embora também seja possível raspar o local, a questão é mais delicada por conta da relação que se tem com o cabelo.
— Um cabelo comprido vai levar anos para voltar ao mesmo tamanho, e a gente não pode impor esse trauma para a paciente — explica Volkweis.
Para contornar a necessidade de raspagem total da área doadora – o que torna o procedimento masculino mais simples e rápido –, são utilizadas variações da técnica:
- Raspagem parcial: apenas uma pequena área é raspada, resultando em um visual semelhante ao de um corte undercut, que pode ser facilmente escondido pelo cabelo mais comprido ao redor
- No-shave: os folículos são retirados em meio aos fios compridos, sem necessidade de raspagem. O fio retirado é cortado em tamanho menor, sem impactar o cabelo que permanecerá na área doadora
- Long hair: os fios são retirados e implantados ainda compridos, sem qualquer tipo de corte ou raspagem. Dessa forma, logo após o procedimento ser realizado, a paciente já consegue ter uma ideia de como será o resultado final do transplante
Tal visualização, contudo, é temporária. Isso porque, em um período de até 30 dias, todos os fios transplantados caem para que a raiz se regenere e cresça novamente – mesmo que sejam implantados fios longos.
Por essa razão, conforme Volkweis, a técnica long hair é a menos utilizada entre as três. A retirada de folículos compridos torna o transplante muito mais trabalhoso e demorado para o cirurgião, o que também aumenta o valor do procedimento.
Já o método mais simples é o da raspagem parcial. No entanto, devido à resistência de muitas mulheres em raspar o cabelo, ainda que parcialmente, a técnica mais adotada é a no-shave.
Essa abordagem quase dobra o tempo necessário para a extração dos folículos em comparação aos transplantes masculinos. Por outro lado, como a área calva nas mulheres costuma ser menor, a etapa de implantação tende a ser mais rápida — o que iguala o tempo total de duração do procedimento, de seis a oito horas.
Todas as etapas são realizadas com anestesia local, sem necessidade de sedação completa ou internação. A alta ocorre no mesmo dia.

Como é a recuperação
Nos dois primeiros dias após o transplante, a orientação é realizar repouso absoluto e evitar a exposição solar. A paciente sai da sala de cirurgia com o cabelo higienizado, de modo que não há necessidade de lavá-lo nesse período. Em alguns casos, quando há sangramento, a área de onde os folículos foram retirados também recebe um curativo.
A partir do terceiro dia, é possível usar acessórios na cabeça, conforme explica Volkweis. Bonés, chapéus e lenços podem servir como camuflagem para a área transplantada, além de ajudar na proteção solar.
Do quarto dia em diante, também está liberada lavar os cabelos. Essa lavagem deve ser feita com fricção moderada e, preferencialmente, com o auxílio de esponjas específicas, entregues ao paciente após a cirurgia. Não há necessidade de usar shampoo especial.
Depois de uma semana, as casquinhas dos folículos enxertados começam a se soltar, e é importante não arrancá-las. Após esse período, também é permitido retomar a prática de atividades físicas e a exposição ao sol, incluindo idas à praia e à piscina – desde que se controle o nível de exposição, pondera Volkweis:
— A orientação é a de sempre: evitar os horários mais críticos e usar proteção. Com transplante ou sem transplante, ninguém deve ficar uma hora torrando no sol.
Passada a primeira semana após a cirurgia, é possível retomar a rotina normalmente, mantendo apenas os cuidados com a lavagem dos cabelos e com o nível de exposição solar.
Quando os resultados aparecem
A paciência é a melhor aliada de quem realiza um transplante capilar. Antes de passar pela cirurgia, a paciente deve estar ciente de que o resultado final leva tempo para aparecer. Além disso, é preciso estar preparada para lidar com a queda dos fios transplantados, que pode ocorrer em até 30 dias e leva de três a quatro meses para que voltem a crescer.
Durante esse período de hibernação dos folículos, a aparência da região transplantada pode causar incômodo. Mas, conforme explica a médica Gianna Zaffari Frey, a maioria das pacientes lida bem com essa etapa.
— É um processo como o de qualquer outro procedimento. A gente tem que ir passando cada fase, aceitando e entendendo que, depois, o resultado será positivo. As pacientes que fazem a região frontal ficam mais assustadas com essa etapa, mas é algo fácil de disfarçar com um lenço ou uma faixinha. Com o passar do tempo, elas vão se adaptando e gostando cada vez mais — detalha Gianna.
A médica explica que os primeiros resultados visíveis começam a aparecer a partir de seis meses. Já o resultado final pode levar até um ano e meio – tempo necessário para que os fios ganhem espessura, densidade e brilho.
O ritmo de crescimento dos fios implantados varia conforme o comprimento de cada cabelo. Em madeixas longas, por exemplo, são necessários entre dois e dois anos e meio para que a área transplantada se iguale ao restante dos fios.
Quem procura o transplante feminino
Márcio Volkweis explica que o público que mais procura o transplante capilar feminino são mulheres na faixa dos 30 e poucos anos – idade em que o cabelo naturalmente começa a perder densidade e se tornar mais ralo, processo que, em algumas pacientes, pode ser mais intenso. Em geral, são mulheres com perda capilar acumulada ao longo da vida, que já tentaram outros tipos de tratamento sem alcançar o resultado desejado.
Há também um pico de procura próximo dos 50 anos, período em que muitas mulheres enfrentam a menopausa. O médico destaca que os hormônios femininos funcionam como “protetores” dos fios. Com a queda desses hormônios, é comum que a perda capilar se intensifique e os cabelos fiquem mais finos.
Outro perfil comum são as pacientes com diagnóstico de calvície. Embora a condição seja mais associada aos homens, ela também acomete mulheres. No entanto, conforme explica a médica Gianna Zaffari Frey, a calvície feminina se manifesta de forma diferente da masculina.
— Nos homens, ela se concentra no topo da cabeça e nas "entradas". Já nas mulheres, a calvície geralmente segue um padrão difuso, onde há uma diminuição da quantidade de cabelo em todo o couro cabeludo. Essa perda de volume incomoda muito as mulheres, porque a beleza feminina é muito associada ao cabelo — diz a dermatologista.
Segundo Gianna, também é comum que o transplante seja procurado por mulheres que não apresentam sinais de calvície, mas desejam reduzir o tamanho da testa. Nesses casos, o objetivo é avançar a linha capilar frontal.
A médica ressalta que, independentemente da motivação, é essencial que a paciente tenha fios suficientes para a coleta. Ou seja, se a calvície for muito severa e houver poucos folículos disponíveis, o transplante não poderá ser realizado.
Quanto custa um transplante capilar feminino
Os custos médios do transplante capilar feminino, considerando a técnica padrão, variam entre R$ 20 e R$ 25 mil. Conforme os profissionais consultados, o valor é semelhante ao do procedimento realizado nos homens.
Márcio Volkweis alerta que o transplante capilar deve ser realizado exclusivamente por médicos. Com a popularização do procedimento, é fundamental estar atento e desconfiar de valores muito abaixo do mercado, orienta o diretor da ABCRC.
— Não estamos falando de um corte de cabelo ou da colocação de um mega-hair, é uma cirurgia. Por isso, é muito importante investigar o profissional que vai realizar essa operação, checar se é especialista e se tem experiência. Não dá para se deixar levar por valores baixos ou anúncios nas redes sociais — ressalta o médico.



