
O tradicional restaurante de Porto Alegre faz parte da minha memória, está presente em lembranças que nem o tempo é capaz de apagar. E, embora eu ainda frequente o salão para almoços eventuais e ocasiões mais informais, foi em um recente jantar que reencontrei a Lela de 18 anos atrás.
O Bah nasceu praticamente com o Destemperados, em meados de 2007. Lembro da sensação de entrar pela primeira vez no local, ainda com aquele encantamento de quem estava criando repertório gastronômico.
Estávamos na fase de aprender, de provar tudo o quepodíamos. E a Capital, da mesma forma, começava a apresentar grandes nomes da cozinha e entrava, pela primeira vez, no roteiro dos apaixonados por comer e beber bem.
A culinária gaúcha, apresentada de forma contemporânea — com pesquisa, técnica e afeto —, compõe, desde o início, o cardápio da casa, que também foi pioneira em servir um menu degustação harmonizado em etapas.
Algo que, na época, víamos apenas em grandes restaurantes ao redor do mundo. Não à toa, quando recebíamos chefs e cozinheiros de todo o Brasil, o Bah era parada obrigatória.
Como esquecer da noite em que levamos Helena Rizzo para conhecer o que era servido por lá? Naquele dia, ao fim do jantar, comentei que a casa fazia um sagu espetacular.
Depois de algumas taças fuiparar dentro da cozinha com um pote gigante de sobremesa nas mãos, comendo direto do recipiente — o que, eu sei, é um grande pecado logístico pela perda do preparo. Mas era irresistível.
Essa história acabou virando uma das memórias mais doces da minha trajetória com a comida. Agora, o passado volta com tudo. O Bah retorna com o seu inesquecível menu degustação harmonizado, de forma fixa durante o jantar.
Os pratos são um passeio por cada cantinho do Rio Grande do Sul. Uma homenagem ao nosso Estado, que nos faz repensar o que entendemos por comida regional.
Passado resgatado em etapas
São cinco etapas que percorrem os sabores da nossa terra — e de quem cresceu à mesa dela. Fomos conhecer a novidade em primeira mão.
Começamos com um creme de batata-doce roxa com grostoli salgado, acompanhado de um espumante da serra gaúcha, que limpa e prepara o paladar. Um início delicado para abrir o apetite e aguardar a sequência de clássicos que vêm a seguir.

Depois, um prato que me derrete: tortéi de São Marcos — minha cidade natal — com manteiga de butiá e uma espécie de farofinha crocante de Amaretto. É de uma poesia que não dá vontade de terminar. A harmonização foi feita com o moscato giallo da Monte Sant’Ana, que reforçou esse toque doce e suave.

A terceira etapa traz o especial cordeiro desfiado da casa com batatinhas, uvas dedo-de-dama e manteiga em ponto de fumaça. Na taça, um corte de cabernet sauvignon e merlot da vinícola Lídio Carraro.
A quarta etapa é o clássico dadinho de costela com feijão preto mexido e a famosa farofa de erva-mate, acompanhado de um tannat de Dom Pedrito. Esse prato é o resumo do Bah: a prova de que tradição e contemporaneidade podem andar juntas, sem perder o sabor.

E aí vem o final, que é delicadeza pura: torta de ambrosia com nata batida, coulis de bergamota e flor de sal, fechando com um vinho branco da Pizzato, leve, aromático e memorável.

O poder da boa gastronomia
O Bah é isso. Um restaurante que não tenta ser outro. Que não muda para seguir modismos. Ele permanece. E, por isso mesmo, evolui.
Celebra seus 17 anos em 2025 e nos presenteia com um convite: para quem já conhece a casa, voltar; e para quem ainda não se sentou ali, de frente para o Guaíba, viver, pela primeira vez, essa experiência completa.
Carla Tellini, que está à frente do Grupo Press, é uma dessas pessoas que acreditam no poder da comida como expressão de território. E o Bah é a maior tradução disso.
Estar em um salão que conta a minha história me lembrou por que eu comecei o Destemperados. Porque a gente queria sentir, viver e compartilhar exatamente esse tipo de emoção. E se você me perguntar se vale a pena, eu vou responder com a propriedade de quem sabe a resposta há 18 anos: sim! Vale cada garfada, cada gole, cada memória.
Bah
Endereço: No BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300), no bairro Cristal.
Reservas: (51) 99878-1433.
Menu sem harmonização: R$ 240 por pessoa
Menu com harmonização: R$ 330 por pessoa
@bah_restaurante
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