
Já reparou como o sabor de um prato muda quando a gente conhece a história por trás dele? E não estamos falando só da receita, mas do caminho que os ingredientes fazem até chegar à nossa mesa.
No fundo, comer bem não começa na cozinha — começa na terra. Vivemos um movimento urgente de reconexão com a comida de verdade.
Entender de onde vêm os alimentos, quem cultiva, como são plantados e até quais variedades existem tem sido parte da receita para uma alimentação mais consciente, diversa e saborosa. E, nesse caminho, o chef ocupa um papel fundamental. Ele não é só quem cria pratos, mas quem conecta o produtor a quem come.
Esse foi, mais uma vez, o espírito que tomou conta da Colheita dos Chefs 2025, evento que, desde 2014, reúne cozinheiros de todo o Brasil na horta experimental da Isla Sementes, em Itapuã, para viver uma experiência que começa no campo e se completa no prato.
O encontro, que neste ano celebrou os 70 anos da Isla e foi realizado em parceria com o Destemperados, é uma reflexão sobre como semear, colher, cozinhar e comer estão profundamente conectados.
– Na primeira edição, há 11 anos, fazer uma lista com 30 chefs que tivessem uma mínima conexão com o universo das hortaliças não foi fácil. Hoje, a gente vive uma realidade completamente diferente. As hortaliças são protagonistas em pratos, ambientes e realidades, não necessariamente ligados ao vegetarianismo ou veganismo – destaca a presidente da Isla Sementes, Diana Werner.
Cozinhar começa na terra
Durante o dia, chefs e influenciadores percorreram os canteiros, colheram hortaliças, raízes e folhas direto do pé, conheceram variedades pouco comuns no mercado e refletiram sobre como a escolha dos ingredientes pode impactar não só o sabor, mas o futuro da alimentação.
O menu do jantar servido nesta edição, contou com pratos feitos com os ingredientes colhidos por lá. A ideia foi justamente cozinhar tudo o que tinha disponível na Isla.

A assinatura foi do chef Marcelo Schambeck, proprietário do Capincho, em Porto Alegre:
– Chegamos cedo, colhemos e agora estamos cozinhando. Temos cenouras coloridas, repolho, várias folhas, ervas, beterraba branca, uma seleção de rabanetes, fizemos um sorbet de abóbora. Usamos tudo o que estava disponível aqui – compartilha o cozinheiro.
Hortaliça como protagonista
A Colheita também gerou conversas importantes sobre como os hábitos alimentares evoluíram e sobre o papel do chef como agente dessa mudança.
– Antigamente, as hortaliças, os legumes e as frutas eram coadjuvantes em um cardápio. Entravam para acompanhar. Hoje, no meu menu atual, há 12 etapas e só duas têm proteína animal. E mesmo nessas, não são a estrela. A gente tem uma cenoura com rôti de galinha, mas o protagonista é a cenoura – compartilha o chef Onildo Rocha, que reforça como o exercício de extrair sabor dos vegetais revela um caminho fértil, criativo e cada vez mais valorizado.
Plantar é a Receita
Ao completar sete décadas de história, a Isla lança oficialmente a campanha “Plantar é a Receita”, que sintetiza o propósito que vem guiando a empresa desde o início: mostrar que se alimentar bem começa na semente — e que essa transformação precisa envolver todos os elos da cadeia.
– Sabíamos que não poderíamos ficar olhando todo mundo se alimentar menos do que deveria, em um país com um clima tão interessante e diverso para o cultivo. A semente, na verdade, é um insumo barato, quando pensamos na responsabilidade que ela carrega e em todo o trabalho que precisa para existir. Plantar em casa é, hoje, uma alternativa econômica e acessível. Em teoria, todas as pessoas no país poderiam ter, pelo menos, uma ou duas bandejinhas de microverdes, que ocupam pouco espaço, custam R$ 2 e podem trazer um rol de vitaminas para uma família durante uma semana – explica Diana Werner.
Ainda, a presidente reforça que, ao longo desses 70 anos, a Isla nunca foi apenas uma empresa de sementes:
– A gente acredita que a alimentação pode mudar o destino de um país e que as pessoas que estão plantando podem mudar o próprio destino. Esse é o nosso maior desejo: que a gente continue tendo essa tendência da diversidade, espalhando abóboras lindas, cenouras coloridas, muitos tipos de tomates, alfaces, rabanetes, couves e mostardas. Que a gastronomia e a semente estejam sempre juntas nesse movimento.
Para Andrei Santos, Diretor de Planejamento Estratégico da Isla, que viveu de perto o nascimento da Colheita dos Chefs, essa conexão foi se construindo a partir de um olhar atento sobre os desafios do próprio mercado:
– Quando começamos, lá em 2013, percebemos que havia um grande distanciamento das pessoas com a origem dos alimentos. As pesquisas mostravam que o brasileiro estava consumindo poucas hortaliças, bem abaixo do recomendado. Foi aí que entendemos que não bastava oferecer diversidade de sementes, precisávamos gerar desejo, mostrar possibilidades, criar conexão. E quem melhor para fazer isso do que os cozinheiros, que transformam esses ingredientes em experiência? A Colheita dos Chefs nasceu dessa vontade: levar os chefs para o campo, para entender, valorizar e contar essa história com a gente – afirma.
Comida de verdade
A Colheita dos Chefs é, acima de tudo, um lembrete de que cozinhar começa na terra. Que comer bem começa quando escolhemos olhar para a origem do que colocamos no prato.
E, como bem resume o espírito desse encontro e da campanha lançada neste ano, Plantar é a Receita. Para um prato mais colorido. Para uma alimentação mais diversa. Para um futuro mais saudável, mais sustentável e mais saboroso.
