
Orgulho e Preconceito e Zumbis, o livro de Seth Grahame-Smith, começa assim: "É uma verdade universalmente conhecida que um zumbi, uma vez na posse de um cérebro, necessita de mais cérebros". Essa primeira linha, pastiche de um dos começos de livro mais célebres da língua inglesa, dá o tom preciso do que esperar nas páginas seguintes: a estrutura da trama e mesmo frases literais do romance original de Jane Austen intercaladas por sequências de ação com espadas, invasões de mortos-vivos, refeições de cérebros e decapitações.
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É curioso que o "discurso oficial" das atrizes da adaptação cinematográfica tente vender seu filme como uma obra "empoderadora" e com foco nas mulheres, quando basicamente sua execução nasce de um roteirista de TV alterando a obra de Austen com tropos onipresentes em jogos de videogames pensados para garotos.
Para ficarmos na seara do horror, o resultado de Orgulho e Preconceito e Zumbis, o livro de Seth, está mais próximo de um Frankenstein, um monstro animado com partes desiguais de matéria morta. Grahame-Smith é eficiente em preservar um certo tom da prosa de Austen, mas perde o seu principal atributo, a ironia sutil que faz de cada livro da autora uma espécie de romance de horror a seu modo, enfocando a vida de mulheres que, numa idade que hoje consideramos ainda absurdamente jovens, tinham como única chance de um mínimo de independência um casamento vantajoso.
No universo à beira do apocalipse zumbi criado por Grahame-Smith, apesar de Lizzie e suas irmãs serem bem treinadas em artes de combate, sua mãe ainda é obcecada por casá-las, mostrando que a costura é preguiçosa e obedece a um único propósito: humor para quem ri de qualquer coisa.