Nova York - Quando Jovanotti, um pioneiro no rap italiano, estava começando, na década de 1980, ele e seus produtores tentaram emular o som dos Beastie Boys e de Run-DMC na produção de Rick Rubin. Eles tinham todos os equipamentos certos, como a máquina de ritmos Roland 808, mas independentemente do que fizessem, eles não conseguiam fazer suas faixas soarem tão poderosas.
- Tentamos fazer exatamente a mesma coisa, mas não conseguíamos aquele som rude - Jovanotti recordou recentemente. - Se você ouvir meus discos da época de 'Walk This Way', eles soam pequenos, e se eu tocar 'Walk This Way', ele ainda soará gigantesco.
Por fim, ele chegou a uma conclusão sobre música e geografia. "Não é só o Rick Rubin", explicou ele. "É o lugar."
O lugar é a cidade de Nova York, solo sagrado para qualquer fã de hip-hop e local especialmente mítico para um artista que aprendeu seu ofício muito longe. Desde que Jovanotti - um romano alto e de barba desgrenhada cujo nome verdadeiro é Lorenzo Cherubini - lançou seu primeiro single, em 1987, ele já vendeu milhões de discos e se juntou à fraternidade dos homens de nome único (Bono, Pavarotti). Ele concorre com um piloto de motos, Valentino Rossi, pelo título de usuário do Twitter com mais seguidores na Itália.
Mas Nova York continuou sendo uma desejo e, três anos atrás, ele iniciou sua peregrinação, realizando shows em séries ocasionais. Recentemente, Jovanotti (de 46 anos) mudou-se com sua família para um apartamento no bairro de Greenwich Village, e sua invasão americana começou de verdade. Em agosto, uma coletânea de sua obra, "Italia: 1988-2012" foi lançada nos Estados Unidos pela ATO Records, e ele também se apresentou no Terminal 5 de Nova York como parte de uma turnê nacional.
Quando questionado por que estava assumindo riscos num país que pode ser brutalmente indiferente ao pop de outros idiomas, Jovanotti disse ser estimulado pela energia da cidade e pela conexão com suas raízes musicais. Mas ele reconheceu que uma "ambição pura" também teve seu papel.
- Vocês respeitam Fellini aqui, vocês respeitam Roberto Benigni, Antonioni - argumentou ele. - Por que a música pop italiana está tão fora do radar? Quero apenas quebrar essa tradição.
- Ser alguém na América é o sonho de qualquer músico no mundo - acrescentou ele.
Sua formação é tão Velho Mundo quanto velha guarda. Ele cresceu nos arredores do Vaticano, onde seu pai trabalhava como guarda. Em 1979, aos 14 anos, ele viu uma reportagem na TV sobre o novo fenômeno musical que se formava em Nova York. Embora mal pudesse entender as palavras, ficou hipnotizado pela música "Rapper's Delight", da Sugarhill Gang. Ele via inúmeros sitcoms americanos como "Happy Days", um mundo bem distante dos conflitos políticos e econômicos da Itália naquela época.
- O pai era tão engraçado e gentil - disse ele sobre "Happy Days". - Meu pai estava sempre cansado e com fome, enquanto o pai de Richie Cunningham nunca sentia fome.
Suas primeiras gravações imitavam o rap americano, mas na década de 1990 ele começou a desenvolver uma voz mais eclética de compositor. Ele bebeu no romantismo sombrio das baladas italianas, e ritmos do pop latino e africano, levando a músicas como "L'Ombelico del Mondo" - um grande sucesso lembrado por qualquer turista que tenha passado pela Itália nos anos 90. Causas políticas e sociais também chegaram até sua obra.
Durante uma agradável refeição de três horas num restaurante italiano perto de sua casa, ele discutiu sua infância em Roma, a política italiana no pós-guerra e sua paixão pela cultura pop americana. Ele pode ser incrivelmente corriqueiro até soltar uma bomba que confirma sua posição entre a superelite, como: "Tive o privilégio de conhecer a ópera através de Luciano Pavarotti, que era um amigo meu - um verdadeiro amigo".
Esse magnetismo, e a energia de sua apresentação ao vivo, podem ajudá-lo a conquistar as plateias americanas. Assim como seu eclético e acessível estilo musical, garantiu Joseph Sciorra, do John D. Calandra Italian American Institute no Queens College. Ele também apontou que a chegada de Jovanotti vem depois de uma minionda de outros artistas pop italianos, como Vinicio Capossela, Carmen Consoli e Avion Travel - que vêm se apresentando nos clubes de Nova York e em alguns festivais americanos nos últimos anos.
- O potencial de sucesso para Jovanotti nos Estados Unidos é que ele é um artista pop consumado, e sabe como explorar o que é legal - afirmou Sciorra.
Para vendê-lo na América, a gravadora de Jovanotti, a ATO, está buscando "o público das comidas e vinhos", disse Jon Salter, gerente geral do selo. Isso significa divulgar seu trabalho em lojas como a Barnes & Noble, e em estações de rádio não comerciais, como a KEXP em Seattle e a WFUV em Nova York. Até agora, os formadores de opinião o adoram, mas isso não se traduziu em grandes vendas. De acordo com a Nielsen SoundScan, "Italia: 1988-2012" vendeu cerca de 1.000 cópias nos Estados Unidos.
Jovanotti pode se dar ao luxo de ir devagar. Ele está dividindo seu tempo entre Nova York e Itália, onde ainda é um superastro. No próximo verão, ele pretende realizar uma turnê em 15 estádios de futebol do país, podendo vender até 1 milhão de ingressos. "Não quero ficar rico nos Estados Unidos", explicou ele. "Isso nem mesmo passa pela minha cabeça."
Em vez disso, ele afirmou estar absorvendo a cultura americana, sugando toda a inspiração que conseguir de Nova York.
- É como os tomates da Itália - disse ele. - Vocês não podem ter tomates como aqueles aqui. No mercado Whole Foods eu encontro tomates maravilhosos. Mas os tomates que temos em julho na Itália? Aquilo é outra coisa.
The New York Times
Rapper italiano tenta a sorte em Nova York
Jovanotti quer quebrar a tradicional indiferença dos americanos em relação à música pop de outros idiomas
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