Após quase dois anos de pandemia, a ópera voltará ao palco do Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Tendo a questão racial como fio condutor, O Engenheiro, obra contemporânea do compositor carioca Tim Rescala, terá sua estreia nacional neste domingo (17), às 18h, com reapresentação na segunda-feira (18), às 20h. Os ingressos estão sendo vendidos na plataforma Sympla (a partir de R$40) e, caso não esgotem, poderão ser adquiridos na chapelaria do teatro duas horas antes de cada récita. Conforme novas determinações estaduais, será exigido comprovante de vacina contra a covid-19 na entrada.
Ambientado no dia da proclamação da República, em 1889, o espetáculo é apresentado em um ato, com regência de Evandro Matté, à frente da Orquestra Theatro São Pedro, e direção cênica de José Henrique Moreira. A trama tem enfoque na saga do engenheiro André Rebouças (1838-1898), interpretado pelo barítono mineiro David Marcondes, e nos bastidores do emblemático 15 de novembro, contando desde a reação da família real até sua posterior condenação ao exílio.
Filho de uma mulher negra alforriada e de um advogado português que se tornou conselheiro do imperador Dom Pedro II, Rebouças foi importante articulador do movimento abolicionista e um dos criadores da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Manteve-se monarquista e acompanhou Dom Pedro II em seu retorno a Portugal, tendo morado dois anos em Lisboa antes de se mudar para outros países e morrer em 9 de maio de 1898 na Ilha da Madeira.
Um dos destaques da obra é o fato de ser brasileira e contemporânea. Segundo Matté, há poucas óperas sendo compostas nacionalmente hoje. O maestro também ressalta a importância da arte como veículo de debate sobre questões relevantes como a racial. Soma-se a isso o fato de ser uma apresentação de fácil compreensão musical, com libreto escrito pelo próprio compositor.
— É uma ópera que tem a presença de melodias muito bem escritas e elementos típicos da música brasileira. Antes do final, tem uma parte com um ritmo brasileiro muito parecido com o samba — explica o maestro.
Também estão no elenco a soprano Yasmini Vargas (Princesa Isabel) e o tenor Flávio Leite (Gastão). Ao todo, são nove cantores, alguns dos quais ainda estudam canto ou participam de forma amadora. Isso se dá porque O Engenheiro é a primeira encomenda da Academia de Ópera Sinos, do Sistema Nacional de Orquestras Sociais (Sinos), lançada no último dia 7 com o objetivo de introduzir o gênero musical-teatral em projetos que atuem no ensino de instrumentos. Como diretriz, as instituições parceiras devem receber jovens artistas para trabalhar no espetáculo. Além do Theatro São Pedro de Porto Alegre, outros locais já embarcaram na ideia, a exemplo da Fundação Clóvis Salgado, do governo de Minas Gerais, da Orquestra Ouro Preto e do Theatro São Pedro de São Paulo.
Segundo Matté, o convite para participar veio da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), parceiros do Sinos. A intenção é que as composições sejam pensadas para uma estrutura de orquestra de câmara, para que possam circular Brasil afora. No caso de O Engenheiro, cerca de 20 instrumentistas se apresentam, entre o conjunto de cordas, sopros e percussão. Outras três obras, que serão apresentadas em outras cidades, foram encomendadas pelo projeto aos compositores João Guilherme Ripper, André Mehmari e Eli-Eri Moura.