
No espírito enciclopédico do escritor argentino Jorge Luis Borges, Gilberto Schwartsmann decidiu contar como adquiriu sua coleção de obras raras e primeiras edições. Mas com um detalhe: misturando verdade e ficção.
É difícil saber onde termina uma e começa outra ao ler seu novo livro, O Colecionador de Mentiras, reunião de narrativas breves que acaba de sair pela Sulina (424 páginas, R$ 89,90 o livro físico e R$ 57,90 o e-book).
A sessão de autógrafos na 71ª Feira do Livro de Porto Alegre será no dia 14, às 19h, na Praça de Autógrafos Maurício Sirotsky Sobrinho, junto com outro título do autor: Odisseu — O Herói Humano (também pela Sulina). Antes, às 18h, Schwartsmann fala sobre Odisseu no Clube do Comércio (Rua dos Andradas, 1.085, 4°andar), com mediação de Balala Campos.
Médico, escritor, bibliófilo e atualmente presidente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), Schwartsmann é uma figura polivalente na cena cultural do Rio Grande do Sul: publica livros de diferentes gêneros literários, tem encenadas peças de teatro de sua autoria e organiza exposições com obras de seu acervo de raridades.
Fazem parte de sua biblioteca uma edição de 1597 do Decameron de Boccaccio, uma de 1724 dos Ensaios de Montaigne e uma de 1889 da obras completas de Shakespeare, entre outras preciosidades que ganharam histórias em O Colecionador de Mentiras.
Em cada um dos 41 contos, ele — ou melhor, seu alter ego ficcional — narra como adquiriu uma obra em específico. O relato pessoal logo dá passagem ao fantástico, envolvendo encontros com escritores mortos há muito tempo e personagens da literatura.
"Para mim, tudo se tornou verdade no momento em que o texto ficou pronto", diz Schwartsmann na entrevista a seguir, em que fala sobre o processo de criação da obra.
Leia a entrevista com Gilberto Schwartsmann

Ao entrecruzar referências literárias e intelectuais que são às vezes verdadeiras e às vezes fictícias, o livro traça um grande panorama do conhecimento humano. Essa era uma de suas intenções?
Certa vez, Borges disse numa entrevista que a realidade para ele era o que a sua imaginação fazia com os fatos.
Eu também penso assim. Para mim, sobretudo nas artes, os limites entre o real e o imaginário são imprecisos. Os meus textos são o resultado do que fica na minha memória das minhas leituras e das minhas demais experiências.
Ao imaginar um texto, é essa a matéria-prima que imagino vir à superfície. Sem planejar, os "fantasmas" dos livros que li parecem se recombinar no texto.
Não imagino que eu escreva qualquer coisa que já não tenha sido escrita ou pensada por alguém. Eu sempre me impressionei com o fato de que alguém possa ter escrito algo há séculos e nós possamos nos identificar com os seus sentimentos quase imediatamente. Nós, seres humanos, somos muito parecidos e entendemos bem os sentimentos dos outros.
Há quantos por cento de verdade e quantos por cento de mentira no livro?
Para mim, tudo se tornou verdade no momento em que o texto ficou pronto. Como alguém já disse, "o texto é a morte do autor".
Do ponto de vista narrativo, como o senhor categoriza essas histórias? Seriam contos, como está na ficha catalográfica, ou alguma outra definição?
Acho que são histórias curtas, quase remontagens de outras histórias, que brincam com o fantástico.
Cada passagem do livro parece ser uma piscadela para o leitor que souber identificar as referências mencionadas. O senhor acredita que o leitor ficará curioso para beber da fonte?
Penso que se o leitor não desistir da leitura eu já me darei por satisfeito. E se o texto despertar a sua curiosidade, ao ponto de que ele sinta vontade de buscar outras leituras, aí então eu me sentirei muito feliz e recompensado.
Por falar em imaginação, se o senhor pudesse encontrar pessoalmente um escritor citado no livro, qual escolheria?
Encontro sempre os escritores que leio, não apenas quando escrevo, mas também no cotidiano.
Sou um leitor muito compenetrado e me surpreendo muitas vezes relembrando muitas passagens que são narradas nos livros que leio. Tenho um grande respeito pelo "poder da palavra", como dizia Victor Hugo.
Quantos livros raros o senhor tem hoje?
Tenho uma bela coleção de primeiras edições e obras raras, que me agrada pela sua alta qualidade. Possuo muitas obras que representam bem o que de mais belo o ser humano produziu na literatura ocidental desde o surgimento da escrita. A quantidade das obras é significativa, mas não me impressiona tanto.
Mesmo sendo um colecionador de livros raros em papel, o senhor também tem o costume de ler e-books, os livros eletrônicos?
Até gostaria, mas não tenho lido quase nada de novo e não me atrevi a trair o livro de papel e tinta. Contudo, eu observo que muitas pessoas leem muito nos tablets. Eu fico contente, pois eles leem e é isso que conta.
Sou ainda refém do livro tradicional e gosto mesmo é de retornar aos livros que já li e que possuo no meu acervo. Eles sempre dão um jeito de me surpreender a cada releitura. Um bom livro traz o que nele está escrito e mais um infinito de possibilidades que surgem a partir dele. Acho que o importante é ler a boa literatura. O resto é secundário.

Atividades do autor na 71ª Feira do Livro de Porto Alegre
Dia 14/11:
- Às 18h no Clube do Comércio (Rua dos Andradas, 1.085, 4°andar): Schwartsmann fala sobre Odisseu — O Herói Humano, com mediação de Balala Campos
- Às 19h na Praça de Autógrafos Maurício Sirotsky Sobrinho: o autor autografa O Colecionador de Mentiras e Odisseu



