
A tarde deste sábado (12), na 68ª Feira do Livro de Porto Alegre, será para celebrar a poesia negra no Estado. Em especial, a vida e obra do poeta Oliveira Silveira (1941 - 2009). Serão autografados sete livros da Coleção Literatura Negra, publicados pelo Instituto Estadual do Livro (IEL), órgão da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul.
Dessa coleção, quatro livros de poesia serão lançados: Um Poema Por Dia, de Fátima Farias; Agò, de Lilian Rocha; Chegou Um Negro, de Jorge Fróes; e 130 Poemas — Antologia, de Ronald Augusto — todos às 15h, na Praça de Autógrafos Gerdau. Conforme Patrícia Langrois, diretora do IEL, esses lançamentos são de autores com trajetórias estabelecidas no campo da literatura e da cultura.
— De certa forma bastante diferentes entre si, essas publicações se complementam em estilos e temáticas. Oferecem um panorama da poesia gaúcha contemporânea como um todo, ainda que dentro de um contexto que tenta dar voz e visibilidade às experiências específicas dos autores negros, frequentemente assinaladas por eles de modo mais explícito por meio de referências históricas e religiosas, símbolos, momentos de denúncia social e relatos de vivências — diz Patrícia.
Ronald, um dos quatro autores com lançamento, é organizador de duas obras relacionadas a Oliveira Silveira, que serão autografadas no evento: Obra Reunida, às 15h, e Breve Fortuna Crítico-Afetiva, às 14h.
Por fim, também haverá sessão de autógrafos, às 14h, para o livro comemorativo 50 textos do 20 de Novembro. Com organização de Sandra Maciel e Mário Augusto da Rosa, a obra contém tanto poesia quanto prosa. O Dia da Consciência Negra, o qual o livro celebra o cinquentenário comemorado no ano passado, teve Oliveira Silveira como um dos idealizadores.
Ao lado de Antônio Carlos Côrtes, Vilmar Nunes e Ilmo da Silva, fundadores do grupo Palmares, o poeta porto-alegrense propôs a data para a população refletir sobre a questão racial. Eles consideravam o 20 de novembro, dia da morte de Zumbi dos Palmares, como um símbolo maior para luta dos negros pela liberdade total.
Natural de Rosário do Sul, na Fronteia Oeste, Oliveira Silveira se notabilizou como poeta e ativista dos movimentos sociais negros. Ele graduou-se em Letras – Português e Francês pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), sendo também professor de português e literatura no ensino médio. Como escritor, publicou mais de 10 títulos individuais de poesia — vide Pêlo Escuro e Poema sobre Palmares, entre outros —, além de ter participado de antologias e coletâneas no país e no Exterior.
Agregando poemas do autor, o livro Oliveira Silveira: Obra Reunida, que será autografado na Feira, está em sua segunda edição. A primeira foi produzida pelo IEL e pela Corag em 2012. Agora, a nova edição conta com apoio do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados do Ministério Público do Rio Grande do Sul, como parte do projeto Literatura Brasileira, Literatura Negra.
Obra Reunida está sendo distribuída gratuitamente na banca do IEL, assim como o livro Oliveira Silveira: Breve Fortuna Crítico-Afetiva. Organizador de ambos os títulos, o poeta Ronald Augusto destaca que Breve Fortuna… traz textos de diversos pesquisadores, poetas, artistas e intelectuais negros. É “crítico” porque há ensaios que aprofundam o legado de Oliveira Silveira, mas também “afetivo” porque traz relatos pessoais sobre a figura do poeta.
— Muita gente pesquisa sobre Oliveira Silveira, mas fica restrito aos estudos literários. Não se torna tão público — diz Ronald. — Esse livro rompe a barreira do campo acadêmico e traz o poeta para o universo do leitor em geral.

Ronald avalia que existe um clima antirracista crescente em algumas esferas da sociedade, algo que se disseminou a partir da luta histórica de todos os movimentos negros. Nesse contexto, ele aponta que a poesia de Oliveira Silveira entra nesse interesse que parte da sociedade tem de conhecer e enfrentar de forma franca o debate sobre racismo.
Contudo, Ronald frisa que a poesia de Oliveira Silveira não se esgota no combate ao racismo:
— Ele vai ser lido por muito tempo porque ele é um grande poeta. Para quem quer fazer poesia, tem que passar pelo Oliveira Silveira, independente se for branco ou negro.
Também ressalta-se a percepção afrogaúcha da poesia de Oliveira Silveira. Ronald aponta que o poeta lida com tópicos do regionalismo, reconhecendo-se como um herdeiro das tradições culturais sul-riograndense, porém, era crítico em relação a esse tema.
Ronald exemplifica com o poema Obrigado, Minha Terra, em que Oliveira Silveira agradece a tudo que o Rio Grande do Sul lhe deu, mas sem perdoar o racismo sofrido. "Obrigado pelo preconceito/ com que até hoje me aceitas/ Muito obrigado pela cor do emprego/ que não me dás porque sou negro (...) Agradeço de todo o coração/ e sem nenhum perdão", escreveu.
— É um regionalismo forte, como a gente vê o Nordeste presente na poesia de João Cabral de Melo Neto, por exemplo. Trata-se de um regionalismo transfigurado, renovado e contemporâneo — sublinha Ronald. — Só que ele não esquece que o Estado tem uma história horrorosa em relação a suas populações negras.
