
Prestes a completar 90 anos, Mauricio de Sousa é um ícone nacional. O criador da Turma da Mônica publicou histórias em quadrinhos que cativaram gerações e ganharam versões em carne e osso no cinema e na televisão. Agora chegou a vez de a mente por trás desses sucessos ter sua trajetória contada nas telas.
Dirigido por Pedro Vasconcelos e coescrito por ele com Paulo Cursino, Mauricio de Sousa: O Filme chega aos cinemas do país no dia 23 de outubro. Para viver o personagem principal, foi escalado um profundo entendedor do artista: seu filho Mauro Sousa.
Em entrevista a Zero Hora, o ator e o cineasta contaram detalhes da produção, que começou a ser idealizada ainda em 2019. Com a bênção de Mauricio, veio toda a pesquisa para a criação da história.
O longa-metragem foi rodado no final de 2022 e, de lá para cá, entrou em pós-produção com a ideia de sincronizar o lançamento com a data do nonagésimo aniversário do quadrinista, em 27 de outubro, marcando também o mês das crianças.
— Mauricio foi fundamental — diz Pedro. — Ele tem uma cabeça incrível, lembra de tudo e foi contando para mim, trazendo também livros que já havia escrito sobre sua história. Ele participou de tudo. É o maior contador de histórias do Brasil.

Da infância ao primeiro gibi
Todo o roteiro passou pelos olhos atentos do pai da Mônica, que mostrou o caminho para que a narrativa fosse a mais fidedigna possível. O diretor explica que, como a vida de Mauricio é cheia de momentos especiais, a ideia foi fazer um recorte que vai da infância ao primeiro gibi publicado.
O público é convidado a conhecer de onde brotaram as inspirações para a formação de seu gigantesco leque de personagens — é revelado que, antes de Bidu, seu primeiro personagem autoral a ser publicado, Mauricio imaginou e desenhou, ainda criança, o Capitão Picolé. Um indício de que a criatividade que o acompanharia a vida inteira já estava aflorada em seus primeiros anos. Mauro lembra:
— Quando ele (Mauricio) assistiu a um dos primeiros cortes do filme, apontava para a tela e falava: "Foi assim mesmo aconteceu". E continuava a cena, contando aquela história. Ele revivia de uma forma muito real o que estava assistindo.
Um "filme em quadrinhos"
Mauricio de Sousa: O Filme começa ainda na década de 1940, quando o criador da Turma da Mônica desfrutava de uma infância feliz em Mogi das Cruzes. Foi na cidade da Região Metropolitana de São Paulo que ele descobriu a paixão pelos desenhos, depois de brilhar cantando em programas de talentos nas rádios locais.
A decisão de viver de seu dom foi apoiada pelo pai, Tonico (Emílio Orciollo Netto), por sua mãe, Nila (Natalia Lage), e principalmente por sua avó, Dita (Elizabeth Savala). Dessa forma, o pequeno Mauricio (Diego Laumar) cresceu e foi atrás de seu sonho. Recebeu alguns "nãos" e precisou entrar em outras áreas — como reportagem policial — para chegar mais perto de seu objetivo.
A contação da história trabalha como se fosse o próprio Mauricio lendo uma longa carta para o público. Com a câmera quase sempre estática, o diretor volta e meia trabalha closes no rosto de Mauro, dando enfoque no brilho nos olhos do ator e em seu sorriso. Não existem grandes antagonistas ou polêmicas na obra. É um tom quase onírico, limando qualquer parte que pudesse fazer pesar o clima. O diretor explica:
— Eu queria que o filme tivesse a energia gostosa das histórias do Mauricio. Sempre me perguntei: "Como o Mauricio dirigiria esse filme?". Fui tentando encontrar pontos de conexão com os quadrinhos. A brincadeira da câmera estável é para fazer como se fosse um "filme em quadrinhos".
"Não queria fazer uma imitação"
Com 95 minutos de duração, Mauricio de Sousa: O Filme também explora a vida de casado do artista. Com a sua primeira esposa, Marilene (Tathi Lopes), ele teve quatro filhos, incluindo Mônica e Magali, que se transformariam em protagonistas de suas histórias em quadrinhos. Todos os seus 10 herdeiros de três uniões, de uma forma ou outra, estão em sua obra — Mauro Sousa, por exemplo, virou Nimbus.
Equilibrar a intimidade do progenitor e a imagem icônica de Mauricio de Sousa no Brasil foi o grande desafio para o ator principal. Apesar da aparência próxima à de seu pai, Mauro, artista do teatro, nunca tinha tido experiência como ator de cinema. Foram muitas barreiras a serem vencidas:
— Ele é meu pai, mas todo mundo o considera um grande pai. Lidar com essa responsabilidade exigiu muita concentração. Mas eu tinha a segurança de conhecer muito bem o personagem. Eu não queria forçar a barra, trazendo uma coisa muito caricata. Também não queria fazer uma imitação do Mauricio.
A produção fez um grande trabalho de reconstituição de época, escolhendo locações em Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro para se aproximar da arquitetura que cercava Mauricio na infância e na juventude. Para colocar o público dentro da intimidade dos retratados na obra, o design de produção recriou detalhes que estão presentes nas casas dos membros da família Sousa.
— Tinha uma máquina de escrever que era do mesmo tipo que meu pai usava. Inclusive eu tive que fazer aula porque nunca tinha usado. Tudo para ficar o mais natural possível. Foi detalhista nesse nível. Então, não tinha como meu pai não se identificar e não se ver na tela — completa Mauro.


