Em 1945, quando a Segunda Guerra estava terminando, Maria José Matos da Silva nasceu. Filha de agricultores em Terra de Areia, com 10 irmãos, a batalha de Zezé começou cedo. Trabalhou na lavoura, numa tafona fazendo farinha, fez açúcar, rapadura, frequentou a escola apenas nos primeiros quatro anos do ensino fundamental, e, ainda muito jovem, foi operária numa fábrica de sacos de papel, em Canoas. Com 18 anos era empregada doméstica no apartamento de uma família que morava na Rua Jerônimo Coelho, centro de Porto Alegre. Aos domingos, depois de cumprir suas obrigações, aproveitava os raros momentos de folga, para espairecer, sentada num banco da Praça da Matriz. Tinha especial fascínio pelo prédio do Theatro São Pedro. Ficava, ali, imaginando como seria por dentro. Apesar da curiosidade nunca ousou entrar naquele templo cultural. Até que, em 2008, com 63 anos de idade ela ingressou pela primeira naquela casa de espetáculos para receber, juntamente com outras 24 mulheres o Troféu Ana Terra destinado aquelas que se destacam na administração pública ou privada, em programas sociais e na promoção da cidadania na área social, em seu município ou região. Nesse mesmo ano, algum tempo depois, ela não só subiria no palco do São Pedro para, novamente, receber uma homenagem, como seria ovacionada e aplaudida de pé pela platéia lotada.
Cerca de trinta anos atrás, uma iniciativa do padre Álvaro, com quem conviveu quando morou em Gravataí, inoculou em Dona Zezé o irrefreável espirito da solidariedade. Nessa época, como voluntária, ela ajudou o sacerdote na operação de um forno comunitário que distribuia pães para famílias carentes. Dona Zezé levou a ideia para Capão da Canoa, onde voltou a viver. Casada com seu Caulino (in memorian), que foi colocador de esquadrias, mãe de 4 filhos, Zezé começou atendendo 20 famílias e usando 20kg de farinha para fazer os pães. Hoje, com 72 anos, 6 netos (entre 30 e 2 anos de idade), Dona Zezé, com a ajuda de outras voluntárias, transforma em pão, por semana, no Forno Comunitário Madre Assunta, em Capão da Canoa, 130 kg de farinha para atender 120 famílias. Não é difícil para a experiente senhora selecionar aqueles que merecem e devem entrar na lista de registro para a doação. "Muitos chegam chorando..." diz ela. Dona Zezé, já não precisa comprar fiado, ou fazer faxinas extras, para adquirir a matéria prima, como tantas vezes fez, preocupada em não conseguir cumprir a missão a que se propôs. O som das palmas, no Theatro São Pedro, ainda ecoa na memória de Dona Zezé, mas bom mesmo é quando ela escuta o barulho do telefone (51) 3625-5138, quem sabe é mais alguém, dando uma força e entrando nessa corrente do bem.