
Pelí, para os íntimos, era uma figura que lembrava, guardadas as devidas proporções, o pintor Toulouse-Lautrec, quer seja por sua deficiência física ou por sua admirável arte de expressão. Era também boêmio, como seu "sósia" francês. Nasceu em Kutná Hora, Tchecoslováquia, em 11 de setembro de 1896, recebendo na pia batismal o nome de Frantisek Josef Pelichek .
Desembarcou em Porto Alegre em princípios da década de 1920, depois de passagem por Rio de Janeiro e Curitiba. Notável pintor e pastelista, foi professor e diretor interino do Instituto de Belas Artes, onde ocupou a cadeira de desenho e pintura. Dedicou o ofício de seus pincéis e paleta à cultura gaúcha, retratando nossas paisagens, costumes e tradições. Foi ilustrador de algumas das capas da Revista do Globo e de outros periódicos.
Em meados de 1920, talvez bafejados pela Semana de Arte Moderna de 1922, um grupo de amigos que se reunia na parte de baixo do Metrópole Hotel, na esquina da Rua da Praia com a Rua General Câmara (Largo dos Medeiros), resolveu fundar o grupo informal Os Treze, com o objetivo de criar diretrizes nas artes plásticas de então, figurando, entre eles, Francis Pelichek, Tasso Corrêa, Fábio de Barros, Hélios Seelinger, Fernando Corona, entre outros.
Em 1936, Pelichek foi um dos integrantes da Associação Rio-Grandense de Belas Artes que aqui se fundou. Sua arte nos cartões-postais também glorificou a Revolução de 1930, comandada por Getúlio Vargas. Dois destes postais da série Alegórica (seis exemplares), editados pela Livraria do Globo, também se transformaram em capas da Revista do Globo: 3 de outubro de 1930 (nº 1) e o desfile militar (nº 6). O nº 3 desta série apresenta um gaúcho/caubói que é o autorretrato do artista.
A arte, como propaganda do novo regime, valeu-se também da popularidade dos cartões-postais. Outra série semelhante, mas editada pela Livraria Selbach, com pelo menos oito exemplares que enaltecem a Revolução Farroupilha no seu centenário e os costumes gaúchos, foi igualmente impressa e distribuída. A ilustração do convite para a exposição do centenário farroupilha (1835-1935), realizada no Parque da Redenção, de 20 de setembro a 20 de dezembro de 1935, mostrando uma carga de cavalaria farrapa (editado pela Livraria do Globo), é obra de Pelichek. O bilhete postal da primeira exposição agrícola, pastoril e industrial do RS (20/11 a 10/12/1931), promovida pela Federação das Associações Rurais do RS, editado pela Livraria do Globo, também é do mesmo artista.

Sua obra era tão importante, que o diretor do Instituto de Artes, doutor Tasso Corrêa, tomou a iniciativa de contatar o doutor Eli Costa, curador dos bens deixados pelo pintor, pedindo a doação de quadros e objetos artísticos no mesmo mês do falecimento do artista. Informava, por meio de correspondência oficial, que entraria em contato com uma herdeira, parente do pintor e residente na Europa, para conseguir a efetiva doação. Deu certo! O Arquivo Histórico do Instituto de Artes da UFRGS é depositário deste acervo documental, incluindo os diários do artista, escritos em tcheco e com diversos desenhos.
Pelichek morreu em Porto Alegre, em 1º de agosto de 1937, no Hospital da Beneficência Portuguesa, em decorrência de uma cirurgia no estômago. Foi sepultado no cemitério da Santa Casa de Misericórdia, na cidade que escolheu para viver e que, quem sabe, algum dia, reconhecendo sua contribuição, lhe dê um nome de rua...
Colaboração e acervo: Miguel Duarte