
Cedo da manhã, antes de o sol nascer, saímos para curtir um dia de belas paisagens e boa comida em Quinze de Novembro, no noroeste do Estado. Para quem parte de Porto Alegre, são quase quatro horas de viagem, em um trajeto que começa na BR-290. Depois, pegamos a BR-386 em direção a Ibirubá e, no trevo de entrada da cidade, seguimos por mais 30 quilômetros pela RS-824.
Ao chegar, fomos recompensados por termos madrugado: o nascer do sol à beira do lago artificial formado pela Usina Hidrelétrica do Passo Real, inaugurada em 1970, é um espetáculo.

Bela recepção também tivemos na fazenda Canaju, onde o café da manhã, com ovos mexidos, bolos salgados e doces, já estava servido ao ar livre. Toda a experiência custa R$ 40. Por lá, encontramos um grupo de alunos que conhecia a propriedade e aprendia na prática alguns conceitos de biologia.
– Tudo parece ser preparado em casa, com bastante amor e carinho por pessoas que se importam – opinou o estudante Gabriel Lazarotto.
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A refeição veio a calhar: era preciso guardar energia para a trilha que estava por vir. Ali, o burburinho do café deu lugar aos sons da natureza. Quando chegamos à mata fechada, os celulares foram confiscados.
– É para ficar longe das tecnologias, pois hoje as pessoas estão muito focadas e esquecem de olhar ao seu redor – disse a agricultora Júlia Lageman Becker.
Por alguns minutos, Júlia, que orientou o passeio, nos convidou a meditar sentados sobre almofadas brancas. Ela pediu para fecharmos os olhos e falou: "Vocês vão conhecer uma pessoa maravilhosa, que merece todo amor e atenção. Quando eu tocar no ombro de vocês, abram os olhos e conhecerão essa pessoa". Ao abrir os olhos, Júlia está com o celular na nossa frente – e o que aparece é a nossa imagem. Foram lindas as reações! Depois, fomos convidados a pegar um papel com uma palavra sob a nossa almofada. A minha era gratidão – e era realmente o que eu estava sentindo!
Nosso tour continuou no centro de Quinze de Novembro, onde conhecemos um pouco a história do município e aprendemos sobre a influência alemã nas construções e na cultura local.
– A colonização de Quinze de Novembro começou em 1915, com a chegada das primeiras famílias de descendentes de alemães vindos da região de São Leopoldo – relatou o músico Heine Schneider.

Na praça Clara Saft, o Museu Municipal é a referência para quem quer dar um pulinho ao passado. Nas prateleiras, muita história, com objetos como máquinas de escrever e os primeiros aparelhos de TV e rádio. Mas o que mais desperta a curiosidade ali é a história de um gigante que teria passado pela cidade. No museu, há uma réplica do que seria a bota desse rapaz.
– O homem existiu. O nome dele era Ângelo Guerreiro, mais conhecido como Chicão. Era um andarilho, vivia de cidade em cidade. Nasceu em Nova Palma e passou pela nossa região, onde trabalhava como construtor e peão de estância – conta a monitora do museu, Cláudia Franke Hagemann, acrescentando que Chicão acabou se tornando atração de um circo que passou por Quinze de Novembro.

Também na praça, fica o Museu de Ciências Naturais, com animais empalhados das diversas espécies. Em ambos, a entrada é gratuita.
De volta à estrada, nosso próximo destino foi o balneário Águas da Fonte, um parque particular onde almoçamos apreciando uma bela vista (entrada a R$ 10, refeição a R$ 25).
– Trabalhamos para que as pessoas possam vir aqui passar algumas horas na natureza, com área para pesca, cabanas, camping e piscinas – disse o proprietário do balneário, Paulo Alberto Meinen.
De uma localidade do interior a outra, passamos por várias tendas rurais com frutas da época, doces em compota e salames, entre outras delícias. Tudo produzido por agricultores da região.
Para entrar ainda mais nesse clima, chegamos à Fazenda das Pedras, uma propriedade especializada em hotelaria e treinamento de cavalos. Depois de aprendermos um pouco sobre a encilha e os cuidados com os animais, fomos convidados a dar uma volta pela propriedade e conhecer um pouco das belezas da zona rural.
Em uma outra tenda, encontramos um cartaz com os dizeres: "Toque o sino e aguarde". Não tinha ninguém cuidando, mas não demorou muito para a agricultora aparecer. Minha primeira pergunta não poderia ser outra: "Ninguém leva os produtos sem bater o sino?".
– Muito difícil, ninguém nunca levou nada. É tudo na base da confiança – respondeu Iladir Prediger Scarsi.

Foi assim, com fé na humanidade, que cheguei à nossa última parada: o vilarejo Sede Aurora, onde o roteiro é religioso. A igreja, construída na década de 1950, ainda preserva os vitrais da época, trazidos da Itália. Ao lado, um museu guarda os objetos do padre Paulo Bortolini, que fundou a igreja, como batinas e sinos. Na mesma quadra, há uma gruta de pedras.
Ali, encerramos o passeio navegando com uma lancha emprestada nas águas da barragem que transformou Quinze de Novembro em ponto turístico. No verão, alguns disponibilizam embarcações para aluguel, mas não são todos e não há um preço tabelado.
O sol, que nos recebeu quando chegamos, veio se despedir também – para que levássemos ótimas lembranças e imagens desta pequena cidade.

#PartiuRS é uma série multimídia que mostra as belezas do Estado. Além do ZH Viagem, a série pode ser acompanhada aos sábados, no Jornal do Almoço, da RBS TV, no Supersábado, da Rádio Gaúcha, e em um site especial no G1. A coordenação é de Mariana Pessin (mariana.pessin@rbstv.com.br)