
As esferas coloridas no céu que teriam sido avistadas por moradores do litoral norte gaúcho na noite de 23 de junho podem ter uma explicação científica, segundo especialistas consultados por GaúchaZH. No lugar de objetos voadores não identificados, as esferas coloridas seriam meteoróides, fragmentos de grandes rochas espaciais.
Segundo o físico e astrônomo Luiz Augusto da Silva, com experiência de 40 anos na área, o relato das testemunhas que afirmam ter visto as esferas por volta das 19h30min refere-se ao típico fenômeno de fragmentação de um bólido. A partícula de rocha, com alguns milímetros de diâmetro, penetra na atmosfera da Terra e produz este meteoro consideravelmente mais brilhante. É um fenômeno mais raro de ocorrer, explica Silva:
_ Não existe nenhuma conexão com objetos não identificados. Tenho 99% de convicção de que foi um bólido, e é um fenômeno relativamente comum.
Até as cores relatadas por quem afirma ter visto as esferas, destaca o físico e astrônomo, são caraterísticas desses meteoros e produzidas por átomos de sódio e de ferro, ionizados durante a passagem da partícula na atmosfera da Terra.
_ Não me resta a menor dúvida, trata-se do ingresso de um bólido na atmosfera terrestre. O horário é típico de aparição destes meteoros brilhantes. São mais comuns no início da noite e no final da madrugada e a trajetória é compatível. Pode ter passado mais de uma ou duas centenas de quilômetros mar adentro _ justifica Silva.
A altura do possível objeto em relação ao horizonte pode ter sido baixa e, por isso, acredita Silva, não foi captada pelas câmeras da Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros (Bramon, na sigla em inglês). Na data e horários indicados, o doutor em engenharia Carlos Jung, do Observatório Heller & Jung, associado à Bramon, afirma não ter qualquer registro de movimentação na área indicada. O observatório tem um software de registro de análise de meteoros que cobre com 19 câmeras em 360 graus todo o Rio Grande do Sul, além de Santa Catarina, Paraná, parte de São Paulo, Uruguai, parte da Argentina e Paraguai. O único registro de meteoro feito pela Bramon naquela noite, na região indicada, ocorreu duas horas depois, 21h32min, conforme o vídeo abaixo.
No início da noite desta terça (30), o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica informou por meio de nota que "no dia 23 de junho de 2020, o controle do espaço aéreo transcorreu dentro da normalidade e não houve registro de ocorrência aeronáutica na região mencionada. Ainda, informamos que não houve, na ocasião, atividade aérea oriunda da Ala 3 - Base Aérea de Canoas".
Quatro planetas chamam a atenção
Com relação ao vídeo feito por um morador de Balneário Pinhal, também em 23 de junho, cerca de uma hora antes do relatado pelos demais moradores, Silva argumenta que pode ter sido outro bólido. E sobre a descrição feita pelo morador de Santa Catarina, que fotografou luzes no céu, o físico e astrônomo também sugere que pode ter sido outro meteoro ou um planeta em conjunção com a lua. No horário indicado, por volta das 0h40min, apenas o planeta Marte estava mais visível no horizonte, segundo a estação da Bramon.
_ Fica difícil de dar uma opinião mais precisa para esse caso. Mas quando existe uma ocorrência que é divulgado na mídia, gera o efeito cascata. As pessoas começam a prestar a atenção em coisas que não prestariam porque foram alertadas. E começam a surgir os casos secundários. A natureza é cheia de armadilhas que levarão as pessoas a imaginarem coisas estranhas quando não são tão estranhas assim _ argumenta.
Neste momento, conforme o astrônomo, há quatro planetas chamando a atenção: Vênus, que parece um farol em direção Nordeste, por volta das 6h, Marte, que é vermelho e ganhará ainda mais brilho nas próximas semanas com ápice em outubro, surgindo perto da meia-noite e por volta das 3h da madrugada fica na direção Leste, a 45 graus de altura, e Júpiter e Saturno, quase lado a lado a Leste, surgindo brilhantes no início da noite.
Física impediria encontro de civilizações
O físico Cesar Eduardo Schmitt, criador do projeto Astronomia para Crianças, tem a mesma opinião do físico e astrônomo Luiz Augusto da Silva e acrescenta que haveria uma impossibilidade física de um objeto voador não identificado aparecer na Terra porque as distâncias são muito longas no espaço. Para Schmitt, desde que a humanidade teve a capacidade de pensar, há a necessidade de acreditar que não estamos sozinhos no Universo.
Schmitt ressalta que a possibilidade de existir vida em outros planetas no Universo é muito grande, mas a probabilidade de uma civilização encontrar a outra cai a zero em razão das distâncias.
_ No nosso sistema solar não temos nenhuma civilização inteligente e nem próxima de nós na nossa galáxia. Para que uma civilização chegasse na Terra teria que viajar por centenas ou milhares de anos na velocidade da luz, que já é uma impossibilidade física, porque teria que se movimentar a cada segundo 300 mil quilômetros para chegar aqui. Digamos que uma civilização exista a uma distância de 2 mil anos luz da Terra, algo que seria do outro lado da rua em termos de Universo, e saia hoje na velocidade da luz para nos visitar. Ela chegariam aqui daqui a 2 mil anos e, provavelmente, quando chegassem não teria mais civilização. Do jeito que estamos tratando a Terra, nos destruiremos antes _ explica.