Acontece com muita gente: diante de um prato farto em cortes de peixe cru, a primeira reação é refugá-lo, contrapondo o sabor e a textura tão peculiares à lembrança de iguarias mais comuns e quentinhas, onipresentes em nosso circuito gastronômico. Foi assim com o contador Roger Kayser, 28 anos. Na primeira vez que provou comida japonesa, não gostou, mas também não desistiu. Depois de algumas tentativas, adaptou-se à novidade. Hoje são uma ou duas refeições por semana.
- Me tornei um viciado - brincou, servindo-se do bufê do Sushi One, no bairro MontSerrat, na Capital, na noite de quarta-feira.
Aberto há um ano, com investimento de R$ 1,5 milhão, o Sushi One é um dos protagonistas do aumento expressivo do número de restaurantes da culinária típica do Japão na Capital. De acordo com o Sindicato da Hotelaria e Gastronomia de Porto Alegre (Sindpoa), existem 84 estabelecimentos cadastrados que se enquadram nesse perfil na cidade, quantidade que quase se iguala à dos locais que ofertam a iguaria preferida dos gaúchos - são 101 as churrascarias filiadas à entidade. Desde 2009, 59 novos endereços de sushi iniciaram suas operações.
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O movimento se intensificou a partir de 2011. Até na Expointer, uma das maiores feiras agropecuárias da América Latina, símbolo da pujança da produção rural do Estado, o sushi está representado este ano, pelo elegante Barko, que oferece também carnes assadas.
Valorização da vida saudável
Para Henry Starosta Chmelnitsky, presidente do sindicato, a disparada segue a tendência de valorização da vida saudável:
- Essa é a tendência em qualquer cidade do Brasil e do mundo. Para nós, esse crescimento sempre é bom. Queremos nossa gastronomia atualizada.
A moda extrapola os pontos tradicionais que concentram opções para refeições e lazer, alcançando áreas residenciais longe do Centro. Moradora do Lindoia, na Zona Norte, Michelle Saudades, 30 anos, até pouco tempo precisava fazer longos deslocamentos para saciar o desejo pelas receitas que aprecia pela leveza. Agora, a administradora dispõe de quatro opções nas cercanias. Na terça-feira, com mãe e irmã, degustou um sushi flambado no Sashiburi.
- Antes tinha de ir à caça, muitos restaurantes nem tinham telentrega - conta.
Em mesa próxima, Santiago, quatro anos, entretinha-se com um yakissoba. Do prato pedido pelos pais, os advogados Lauson Balconi, 39, e Roberta Cauduro, 37, o menino pescou um sashimi de salmão.
- Não lembro de ele (Santiago) dizer não para sushi. Já aconteceu mais de uma vez de irmos a restaurante japonês ou pedir em casa por causa dele - conta Roberta.
Quem quer impressionar em casa
O entusiasmo do público com a comida japonesa não movimenta apenas os restaurantes. Comerciantes de ingredientes e utensílios de cozinha para o preparo das receitas e professores de culinária também comemoram a ótima fase dos negócios.
Com peixaria, empório e oito temakerias (a mais recente abriu na semana passada, na Zona Norte), a marca Japesca é uma das principais referências em sushi na Capital. Para quem busca um lanche prático e rápido, há temakis (cones) a partir de R$ 6, como o de kani (caranguejo).
Já os chefs caseiros, que querem recepcionar e impressionar amigos e familiares de vez em quando, encontram peixes nobres (incluindo cortes limpos e sem espinhos), algas e arroz, além de acessórios como facas, sudare (esteirinha) e louça para servir.
- A gente conseguiu popularizar e democratizar o acesso à culinária japonesa. As pessoas começaram a tomar coragem de conhecê-la - comenta Paulo Göttert, sócio-gerente da Temakeria Japesca.
Professor de sushi e consultor de restaurantes, Linio Cardoso Filho ministra cursos há 10 anos. No princípio, recorda ele, as turmas tinham cerca de 10 alunos cada uma. Hoje, os grupos reúnem até 70 inscritos, das mais variadas faixas etárias, incluindo até crianças.
Linio comercializa cupons para as oficinas em sites de compras coletivas, com descontos convidativos, de mais de 70%. São dois módulos de três horas e meia de aulas práticas, com direito a degustação, apostila com receitas e certificado.
Na primeira etapa, Linio ensina a fazer arroz, hossomakis (rolos finos) e uramakis (rolos grossos), niguirisushi (lâmina de peixe sobre bolinha de arroz) e temakis, passando também algumas noções de limpeza de peixe e montagem de combinados. Depois, os aprendizes passam a lidar com matérias-primas mais nobres, como camarão, ovas e polvo, e elaboram molhos especiais.
- Dou muita aula para amadores e cozinheiros de final de semana, mas 30% dos alunos estão focados em abrir um negócio próprio ou trabalhar na área - comenta o professor.
Colaborou Jéssica Rebeca Weber