Envolver-se com as atividades da vida cotidiana, estar fora de casa, viajar e se estressar por causa do trabalho ou da escola são os principais fatores que afetam a adesão das usuárias aos contraceptivos orais. Esses fatores podem levar ao esquecimento ou atraso da tomada do comprimido, afetando a sua eficácia e, consequentemente, aumentando a chance de gravidez.
O índice de falha de um contraceptivo (número de gestações por cem mulheres que utilizam o método no período de um ano), segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), pode ser classificado como teórico e prático, cuja diferença é determinada, fundamentalmente, pela atitude e pela adesão das mulheres. No primeiro caso, se a pílula for administrada conforme as indicações da bula, seu índice de falha é de 0,3% em média. Mas, na prática, o chamado índice de falha real, que é influenciado pelo comportamento da usuária, e pode chegar até 8%.
Segundo o médico Luciano Pompei, coordenador da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o índice teórico é obtido por meio de estudos clínicos, quando as mulheres são monitoradas rigorosamente e devem obedecer a um calendário, dificultando o esquecimento.
- Esse índice é extremamente importante, pois sabemos qual a chance de falha atribuída exclusivamente ao método. Mas o que observamos na prática diária é que, na vida real, às vezes, as condições não são as ideais por causa da jornada tripla da mulher e de alguns hábitos da vida moderna. Até a balada pode atrapalhar, porque pode influenciar no horário em que a mulher toma a pílula - explica.
Os estudos clínicos mostram que logo no primeiro mês de uso da pílula anticoncepcional, aproximadamente 47% das mulheres esquecem-se de tomar o comprimido ao menos uma vez. Em três meses de administração, mais de 50% das pacientes já esqueceram três ou mais pílulas ao mês. Um outro estudo aponta que, de 65% a 80% das mulheres deixam de tomar pelo menos uma pílula por ciclo. Em um levantamento com mais de 27 mil espanholas, que usavam método combinado, cerca de 61,9% das entrevistadas responderam que se esqueceram ou atrasaram o uso do contraceptivo, 32,2%, de colocar o adesivo contraceptivo e apenas 12,6%, de por o anel contraceptivo.
- É muito importante conhecer os hábitos e o histórico da paciente. Se ela costuma esquecer-se de tomar a pílula, por exemplo, é preciso informá-la sobre outros métodos contraceptivos, como o anel contraceptivo, o adesivo, o injetável e o DIU, que se encaixam melhor no seu perfil e dependem menos da memória, caso ela não tenha outras restrições, como algumas doenças. A escolha do contraceptivo, que deve ser feita sob a orientação do ginecologista, deve se basear ainda na expectativa da mulher, na etapa da vida reprodutiva em que ela se encontra, na sensibilidade individual aos hormônios e nos fatores que influenciam a absorção do medicamento a ser utilizado - alerta.
Outras consequências
Esquecer a pílula durante o ciclo pode gerar efeitos importantes sobre o bem-estar emocional da usuária, levando a mais buscas de orientação médica e à utilização de pílulas anticoncepcionais de emergência (PAEs).
- A PAE tem um papel muito importante na contracepção, mas ela deve ser usada, como o próprio nome já diz, em casos de emergência. O problema é que não há evidência científica suficiente que mostre que a PAE tenha a mesma eficácia nos casos de esquecimento da pílula anticoncepcional comum e, consequentemente, não é possível garantir a segurança - explica o ginecologista.
Outros fatores que podem influenciar na falha, além do comportamento da usuária, são a utilização de outros tipos de fármacos, que podem causar interação medicamentosa, e problemas gastrointestinais, que, às vezes, provocam vômitos e diarreias, causando a eliminação do contraceptivo antes de sua absorção total.
Notícia
Esquecer de tomar a pílula aumenta de 0,3% para 8% a possibilidade de engravidar
Estudo aponta que de 65% a 80% das mulheres esquecem-se de tomar pelo menos um comprimido por ciclo
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