Uma forte dor nas costas, transformada em desespero pela falta de tato do médico ao transmitir o diagnóstico, levou Maria Mesquita, a mãe de Jeferson Augusto Mesquita, a desistir de viver. Enquanto ela e a família acreditavam que a dor não passava de um sintoma da idade avançada, o profissional, sem nenhuma cerimônia, seca e impiedosamente, informou-lhe que o incômodo tratava-se de um câncer no pulmão.
Como se não bastasse a gravidade da doença, a falta de preparo - ou simples descaso com os sentimentos alheios - do médico ao contar a má notícia fez com que ela ficasse imediatamente em choque, segundo o filho. Como forma de minimizar os danos desse tipo de abordagem, o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, lançaram o livro Comunicação de Notícias Difíceis: Compartilhando Desafios na Atenção à Saúde. É uma espécie de "cartilha das más notícias".
Os 10 mil exemplares serão distribuídos para todas as redes vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com Priscila Magalhães, responsável pela coordenação da Política Nacional de Humanização do Inca, o objetivo do programa é que a publicação contribua para a inclusão e a valorização do tema nas relações entre os profissionais de saúde e os pacientes e familiares.
- Espera-se também que a leitura dos artigos estimule a discussão e a multiplicação de iniciativas similares - diz.
Priscila sabe que receber a má notícia é muito ruim, mas acredita que também os médicos sofrem, devido à sensação de impotência do profissional, o que torna ainda mais difícil para eles desempenharem o triste papel de mensageiros. Para a psicóloga, os médicos se decepcionam com o diagnóstico negativo e a impossibilidade de cura.
- É difícil enfrentar o insucesso, os limites ou os efeitos adversos dos tratamentos. Existem notícias difíceis do ponto de vista social, psicológico, dos cuidados de enfermagem, da falta de recursos e medicamentos - comenta.
A intenção é que histórias como a da mãe de Jeferson não se repitam. A desventura de dona Maria - e da família - começou no sábado de carnaval de 2008. Com dores nas costas, procurou atendimento emergencial. Fez uma série de exames e, depois de 15 dias, recebeu a notícia de que estava com câncer no pulmão.
- Ninguém desconfiava de nada. O médico perguntou o que ela sentia e, quando ela respondeu que estava cansada, ele disparou: "A senhora está com câncer" - recorda o filho.
Segundo ele, houve falha na comunicação da equipe e, talvez por isso, o médico achou que todos esperavam apenas a confirmação. Mesquita acredita que a mãe começou a morrer a partir daquela notícia.
- Ela ficou deprimida, se entregou, embora, à época, ela dissesse que estava lutando para viver - afirma.
O filho diz que procurou outras opiniões, tentou acalmar a mãe, mas os esforços foram em vão.
- Eu sei que a doença é cruel, mas a forma como foi abordada teve papel fundamental, agravando o estado dela, ainda que apenas o psicológico - ressalta.
Maria morreu em 2009.
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