Cientistas localizaram um mecanismo molecular em camundongos que ajuda as células do câncer de pele a confundir o sistema imunológico do animal, de acordo com um estudo publicado esta quarta-feira na revista científica britânica Nature. A descoberta, se reproduzida em humanos, pode um dia resultar em tratamentos capazes de bloquear este mecanismo e, consequentemente, o crescimento do câncer, destacou a pesquisa.
Nos experimentos com ratos, os cientistas demonstraram pela primeira vez que uma proteína chamada interferon-gama (IFN-gama) desempenha um papel chave na disseminação do melanoma, uma forma sabidamente agressiva de câncer resistente à quimioterapia padrão.
O mesmo tipo de radiação ultravioleta que causa queimaduras de pele fez com que os glóbulos brancos do sangue infiltrassem a pele dos roedores, explicou Glenn Merlino, cientista do Instituto Nacional do Câncer dos EUA e principal desenvolvedor do estudo.
As células brancas do sangue, ao contrário, "podem produzir o IFN-gama. Acreditamos que o IFN-gama pode provocar o melanoma em nosso sistema modelar e, talvez, nas pessoas", destacou em mensagem enviada por e-mail.
Os cientistas descobriram que injetar anticorpos nos ratos que bloqueiam o IFN-gama interrompeu este processo sinalizador, reduzindo efetivamente o risco de aparecimento de câncer de pele induzido por UV.
- Nós estamos tentando desenvolver inibidores que sejam mais práticos que os anticorpos, uma molécula pequena, por exemplo - disse Merlino.
De forma ideal, este tratamento significaria que alguém exposto a grandes doses de radiação UV - como longos verões na praia sem protetor, por exemplo - poderia escapar da ameaça potencialmente letal do câncer de pele.
- Mas nós nunca encorajaríamos tal exposição ao sol, mesmo se tal tratamento estivesse disponível - alertou Merlino.
Casos de melanoma cutâneo estão crescendo mais rápido do que qualquer outro tipo de câncer.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano 2000, cerca de 200 mil casos de melanoma foram diagnosticados e houve 65.000 mortes associadas a este tipo de tumor.
A descoberta pode derrubar suposições sobre os vínculos entre as proteínas de interferon e o câncer.
Até agora, acreditava-se que os interferons impedissem a formação de tumores cancerígenos. Um em particular, o interferon-alfa, tem sido amplamente usado para tratar o melanoma, tanto como uma droga de primeira linha quanto como auxiliar.
Uma pesquisa anterior levantou dúvidas sobre a eficácia do tratamento, que também tem sérios efeitos colaterais.
A maior incidência registrada foi na Austrália, onde as taxas anuais são de 10 a 20 vezes as da Europa, respectivamente, para homens e mulheres.
Os maiores fatores de risco são a alta exposição ao sol e outras fontes de UV como câmaras de bronzeamento, além de fatores genéticos. A doença é muito comum em pessoas de pele clara, olhos azuis e cabelos ruivos ou claros.