Utilizar medicação à base de corticosteroides sem acompanhamento médico pode trazer uma série de preocupações e problemas extras ao paciente que trata de inflamações, alergias e sintomas autoimunes. Presente em pomadas para irritações na pele, bombinhas para asma, comprimidos para tratamento de urticárias e doenças crônicas relacionadas ao sistema imunológico, os corticoides são considerados fármacos de rápida resposta, essenciais em tratamentos de imunossupressão (diminuição da resposta imunológica do organismo).
No entanto, especialistas alertam sobre a necessidade do acompanhamento médico para quem toma esse tipo de medicação, responsável por diversos efeitos colaterais.
- Quando usado pelo tempo certo, em dose e potência corretas, o corticoide é eficiente e preciso. Não é preciso ter medo - afirma Marly da Rocha Otero, presidente da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia no Distrito Federal.
No entanto, devido à facilidade de compra, sem necessidade de receita médica, várias pessoas fazem uso prolongado da medicação.
- Qualquer coceira vira motivo para comprar uma pomada, comprimidos são usados para alergia respiratória sem critérios, entre outros casos, mas isso é um erro - explica a médica.
A analista de contas Lenna Cristalino dos Santos, 40 anos, fez uso de prednisona durante 10 dias sem recomendação médica para tratar de urticárias que apareceram no corpo.
- Fui ao pronto-socorro depois de cinco dias de coceira e ardência na pele. Mas não tenho certeza do que causou o problema - conta Lenna.
Ela afirma que o médico prescreveu uma injeção - aplicada no momento da consulta para diminuir a reação - e comprimidos de prednisona a serem administrados por cinco dias.
- O efeito foi rápido. Como ainda restavam algumas erupções, resolvi tomar o remédio por mais tempo. Não sabia que isso poderia me fazer mal. Em nenhum momento fui informada que não deveria prolongar o tratamento, nem pelo médico, nem pelo farmacêutico que me vendeu o remédio.
Segundo Priscila Parente, farmacêutica clínica, a administração de corticoides para casos de inflamação e alergias não deve ser prolongada. Tomar remédios além do tempo estipulado, como Lenna fez, pode ser perigoso:
- É importante seguir à risca o que foi prescrito. Tratamentos desse tipo não costumam ultrapassar os 10 dias de medicação. Em emergências, alguns médicos receitam o corticoide para aliviar sintomas rapidamente. Mas é essencial que a paciente procure um profissional após isso, com o objetivo de identificar o porquê da irritação na pele.
Para Priscila, prolongar a medicação pode ser grave, já que provavelmente ela não está tratando o motivo da alergia ou da inflamação, apenas diminuindo os sintomas.
- O paciente precisa de um atendimento individualizado. Nenhum medicamento vai ser isento de efeitos colaterais, e só um profissional pode avaliar qual é aquele que melhor vai se adaptar ao tratamento.
Efeito rebote
Um dos riscos do uso incorreto de corticosteroides está no fato de que a medicação pode confundir o sistema imunológico a longo prazo. Essas substâncias são sintetizadas a partir do hormônio cortisol, produzido pela glândula suprarrenal. Quando a medicação é administrada por mais de um mês, por exemplo, essa glândula pode entender que não é mais necessário produzir sua cota do hormônio.
Natasha Ferraroni, alergologista e imunologista, explica que, ao parar o tratamento, o paciente vai ter o chamado efeito rebote, decorrente do uso incorreto de corticoides.
- A doença pode voltar repentinamente porque o sistema de defesa do corpo fica debilitado. A pessoa fica suscetível a inflamações, e infecções podem ocorrer sem apresentarem sintomas - explica Natasha.
Efeitos colaterais
Pacientes que fazem tratamento prolongado com corticoides sem acompanhamento médico contínuo estão mais suscetíveis a efeitos colaterais:
A síndrome de Cushing é caracterizada por:
- Cara de "lua cheia", com bochechas avermelhadas
- Acúmulo de gordura nas costas (corcova de búfalo)
- Aumento da gordura abdominal
- Atrofia muscular (braços e pernas finos)