Além de ser fator de risco para mais de 50 doenças e responsável por 200 mil mortes por ano no Brasil, um estudo comprova que o cigarro pode afetar de forma negativa a atuação de antibióticos e interferir na eficácia de tratamentos.
A pesquisa foi realizada no curso de Odontologia da Faculdade São Leopoldo Mandic, com sede em Campinas e será apresentada pela cirurgiã-dentista Fabiana Pinchetti Nolasco, no Congresso Mundial de Odontologia que ocorre em outubro, nos Estados Unidos.
A conclusão da pesquisa aponta que para compensar a redução do efeito do medicamento no organismo, dentistas e médicos precisariam ministrar doses maiores do remédio para os pacientes fumantes. A nova dosagem implica, porém, no risco de potencializar também os seus efeitos colaterais, como alteração de paladar e diarréia, entre outros problemas.
A pesquisa avaliou a biodisponibilidade - quantidade efetiva do medicamento - do antibiótico Metronidazol em pacientes fumantes, normalmente receitado em casos de tratamentos de doenças periodontais, como gengivite e periodontite, além de tratamentos ginecológicos, entre outros.
- Planejamos fazer novas pesquisas que envolvam outros grupos de remédios, que também causam esse problema - informa Juliana Cama Ramacciato, professora da São Leopoldo Mandic e uma das orientadoras da pesquisa.
O estudo, realizado em parceria com a área de Farmacologia da Faculdade de Odontologia da Unicamp - Universidade Estadual de Campinas - destaca que o cigarro pode interferir na ação do Metronidazol no organismo de fumantes, o que significa a alteração de sua metabolização e uma possível interferência na eficácia do tratamento de doenças com o uso deste medicamento.
- É normal uma parte do medicamento ser perdida antes de ser utilizada. Mas, o efeito do cigarro reduz ainda mais a quantidade do medicamento absorvida pela organismo, quando ministrado via oral - acrescenta Juliana.
Os pesquisadores selecionaram um grupo de pessoas que fumavam 20 cigarros por dia e um grupo de não fumantes.
- O objetivo foi analisar a concentração do Metronidazol na corrente sanguínea e na saliva antes, durante e após a ingestão do medicamento nestes pacientes, para verificar se o hábito de fumar diminui as concentrações normalmente atingidas pelo antibiótico testado - explica Rogério Heládio Lopes Motta, professor da São Leopoldo Mandic e responsável pelo estudo.