
Além de um potencial golpe financeiro, a fraude no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) penaliza duplamente aposentados e pensionistas que buscam informações sobre eventuais descontos indevidos e o seu ressarcimento.
A barreira digital imposta pela necessária familiaridade com smartphones, reconhecimento facial e gestão de senhas é alvo de queixas por parte de um público formado, sobretudo, por idosos.
Como ativar a biometria no aplicativo Meu INSS
A identificação biométrica poderá ser feita utilizando a impressão digital ou a foto, recursos disponíveis no aplicativo Meu INSS. Para habilitar ou conferir a biometria, o beneficiário deve seguir os seguintes passos:
- Acesse o aplicativo Meu INSS
- Faça o login pelo CPF e a senha da conta gov.br do beneficiário
- Procure pelo ícone "Meu Perfil", localizado no canto superior direito da tela
- Clique na opção "Biometria" no menu
- Ative a biometria no dispositivo e siga as instruções para configurar o reconhecimento facial ou a impressão digital
Essa autenticação será comparada com bases de dados oficiais do governo federal, garantindo que o pedido realmente parta do titular do benefício.
Na esteira da operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União (CGU), que trouxe a fraude à tona, seguiram-se dias de dúvidas por parte de beneficiários. Em um país onde a habilidade digital não é privilégio da maioria, o INSS optou por oferecer apenas um aplicativo de smartphone e um número de telefone como canais de contato.
"É mais seguro ir nos Correios ou no INSS"
— Eu não sou muito ligada nesse lance de internet. É melhor e mais seguro ir nos Correios ou no INSS — diz a pensionista Elcia Nóbrega de Araújo, 67 anos. Ela é uma das pessoas que optou por ir aos Correios em busca de informações sobre descontos indevidos no seu benefício.
Zero Hora percorreu agências do INSS e dos Correios em Porto Alegre para ouvir as principais dificuldades. Desde 30 de maio, unidades dos Correios são uma alternativa para quem busca atendimento presencial.
Conforme balanço mais recente do INSS, 3.305.288 de pessoas no país consultaram detalhes de descontos contratados com entidades associativas. Destas, 2.501.916 (75,7%) utilizaram o aplicativo "Meu INSS"; outras 292.951 (8,9%) foram atrás de informações pelo telefone 135; e 510.421 (15,4%) através dos Correios. A quase totalidade (97,3%) disse não reconhecer os descontos.
— Descobri um desconto que eu não sabia, não sei o que que é, acho que era uma associação. Pra mim é novidade - afirma a aposentada Iara Beatriz de Araújo, 68. Sob a alegação de "trancar tudo" no aplicativo Meu INSS, ela desistiu de usar o smartphone e buscou uma unidade dos Correios no Centro Histórico de Porto Alegre.
A dificuldade em utilizar e compreender ferramentas digitais é conhecida como analfabetismo digital. Um fenômeno estudado por especialistas, que alertam para a falsa impressão de que todos estão conectados e dominam a tecnologia. Segundo o Censo de 2022, nove em cada dez brasileiros vivem em domicílios com acesso à internet, o que não significa familiaridade com o universo digital.

— A gente não tem estudo e não lida com isso. O celular é pra ligar e receber ligação. Então tem que estar pedindo uma força para os outros — diz o aposentado João Cleodir Lemes, 77. Morador do bairro Sarandi, em Porto Alegre, ele é analfabeto. O idoso foi orientado a ir a uma unidade dos Correios após um funcionário do banco onde saca o benefício ajudá-lo a identificar um desconto indevido no contracheque.
Além das diferentes formas de analfabetismo, as limitações físicas também são ignoradas. São casos como a da aposentada Vera de Lourdes Santos, 70, recentemente submetida a uma cirurgia de catarata e que precisou de atendimento presencial dos Correios.
— A minha neta que usa o celular porque eu não sei fazer nada. É "alô" e "oi". Pra mim é difícil ficar lendo e entender — relata a aposentada.
Especialistas opinam
Apesar das dificuldades enfrentadas pelo público mais velho, a aplicação da tecnologia em serviços públicos é saudada por especialistas. Porém, é necessário aprimorar processos. Um dos aspectos considerados positivos em aplicativos e serviços online é a possibilidade de eles chegarem a mais pessoas.
— Isso caiu como uma luva para governos que, historicamente, não conseguem atender todo mundo. Canais digitais sempre parecem uma boa saída para atender as pessoas em escala — avalia o colunista de GZH Rafael Martins, que também é CEO e cofundador da plataforma de educação Share e professor em cursos de graduação e pós-graduação.
Para ele, um dos pontos que deve ser aprimorado é a realização de testes de aplicativos e de recursos por pessoas não nativas do mundo digital. A avaliação é a mesma de Guilherme Menezes, professor e palestrante de inclusão digital do público sênior.
— A primeira sugestão que eu dou é ouvir. Quem trabalha nas áreas de TI é o público jovem, que tem um domínio muito grande da tecnologia, e que sabe como a população jovem utiliza. Mas se ouve muito pouco as dificuldades e as necessidades desse público mais velho — afirma o professor.
Letras e números maiores
Entre as sugestões que ele aponta, estão o uso de letras e números maiores, e evitar a mudança frequente da posição de links dentro dos sites.
—Até a título de rotina, para a pessoa procurar as coisas sempre nos mesmos lugares, visualmente falando -— diz Guilherme Menezes.
A centralização de serviços sob a plataforma gov.br também é elogiada, por unificar diversos serviços e informações para o cidadão sob uma única senha e de forma padronizada. Porém, as camadas de segurança que exigem biometria e reconhecimento facial ainda são desafiadoras.
— A dificuldade é muito grande para o idoso que não consegue programar o celular para ter reconhecimento facial. Além disso, muitos idosos não têm mais fisicamente a digital no dedo para poder abrir o celular. Nestes casos, eles precisam ter senhas de números ou o padrão de pontos para desenhar — salienta Guilherme Menezes.
Em uma realidade brasileira em que há também dificuldades na qualidade da internet, outra sugestão para facilitar a vida de idosos é oferecer um espaço físico para demandas digitais.
— Ter centros presenciais são uma boa alternativa, pelo ponto de alguém poder ajudar as pessoas a manusear, mas também por ter a infraestrutura necessária para utilizar o serviço —sugere Rafael Martins.
Agências em Porto Alegre
- Avenida 21 de Abril, 41 - bairro Sarandi
- Avenida Bento Gonçalves, 2080 - bairro Partenon
- Avenida João Antonio Silveira, 1825 - bairro Restinga
- Rua 25 de Julho, 46 - bairro São João
- Avenida Wenceslau Escobar, 3033, loja 101 - bairro Tristeza
- Avenida Protásio Alves, 5718 - bairro Vila Jardim
- Avenida Professor Oscar Pereira, 44 - bairro Azenha
- Avenida Venâncio Aires, 1096 - bairro Farroupilha
- Avenida Bento Gonçalves, 9500 (campus da UFRGS) - bairro Agronomia
- Rua Siqueira Campos, 1100 - bairro Centro Histórico
- Avenida Eduardo Prado, 2165 - bairro Vila Nova
- Rua Manoelito de Ornellas, 50, sala 204 - bairro Praia de Belas
- Rua Coronel Bordini, 555 - bairro Moinhos de Vento
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