
Estamos tão ocupados com a prisão de Lula, que ainda não tivemos tempo para entender tudo o que ela significa. Cada um tem o seu jeito de ver e sentir. Para mim, o ex-presidente atrás das grades simboliza a certeza definitiva e didática de que um homem sozinho nada pode.
Lula preso é um ponto de interrogação na crença de que o indivíduo é o centro do universo e de que todas as normas e os direitos devem em volta dele gravitar.
Lula acreditou no mito Lula. Achou que o apoio das massas e os elogios de Obama criariam anticorpos definitivos contra tudo, inclusive contra as consequências do atropelo da lei. Trocou, alicerçado nessa mentira, o projeto de governo por um projeto de poder.
Não existe indivíduo sem seu coletivo e suas circunstâncias. O peso excessivo para qualquer dos lados cria desequilíbrio. O colapso das promessas de ética e prosperidade de Lula gerou o fenômeno de uma migração gradativa em massa para o outro lado. O fracasso de Lula fez surgir o anti-Lula. O mesmo erro, no outro extremo.
Não existe um homem só, um pai da pátria, um semideus que resolverá nossos problemas e nos conduzirá ao Paraíso. Lula achou que esse homem era Lula. Perdeu. Perdemos todos.
Assisti, uma vez, a cães selvagens caçando um gnu na África. Enquanto uma parte da matilha atacava por um lado, a outra esperava a presa assustada no lado oposto. Sempre dá certo. Ou errado, para o gnu.