
O Telefone Preto 2 (Black Phone 2, 2025), que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (16), deu engano.
Nos seus melhores momentos, que são escassos, é só mais um filme que usa o horror sobrenatural para mostrar diferentes formas de lidar com o trauma.
E é só mais um terror que adota uma estética analógica: como se passa em 1982, há cenas rodadas com câmeras Super 8 — recurso que o diretor Scott Derrickson já havia empregado em A Entidade (2012) e no primeiro O Telefone Preto (2021) —, e a textura granulada das imagens se faz acompanhar por efeitos sonoros que remetem aos arranhões de um disco de vinil.
Por sua vez, a música composta por Atticus Derrickson, filho do cineasta, é eficaz na construção de uma atmosfera entre o sinistro e o onírico, mas logo vem uma sensação de déjà-vu auditivo: parece um derivado da trilha de Michael Stein e Kyle Dixon na série Stranger Things, outra obra ambientada na década de 1980.
Nos seus piores momentos, que vão se avolumando, esta continuação investe em muitos clichês narrativos e visuais, repete descaradamente a mecânica de A Hora do Pesadelo (1984) e transforma o personagem interpretado por Ethan Hawke em uma paródia do vilão absolutamente aterrador do primeiro filme. Se antes o trabalho corporal era a grande arma do ator para imprimir medo e até pânico, agora o Sequestrador (Grabber no original) dispõe de um arsenal de frases de efeito que podem soar ridículas, como "O inferno não é fogo, mas gelo" e "Eu sou um poço sem fim de pecado".

A história de O Telefone Preto 2 se passa quatro anos depois dos acontecimentos de O Telefone Preto, que foi um tremendo sucesso de bilheteria: custou US$ 18 milhões e arrecadou US$ 161 milhões. Naquele filme, Scott Derrickson e seu parceiro habitual, o roteirista C. Robert Cargill, adaptaram um conto homônimo de Joe Hill, filho dos escritores Stephen King e Tabitha King. O diretor e Cargill também assinam o novo roteiro.
Protagonista do live-action Como Treinar o seu Dragão (2025), Mason Thames volta a encarnar o adolescente Finn, que em O Telefone Preto sofreu nas mãos do Sequestrador. No novo filme, o garoto surge revelando as marcas daquele episódio traumático. Finn abraçou a negação e usa a violência para escamotear o pavor que ainda sente.
Já sua irmã caçula, Gwen (papel de Madeleine McGraw), vem tendo pesadelos — ou visões, pois ela tem poderes sobrenaturais. Ela tem uma postura mais proativa, prefere encarar de frente aquilo que a atormenta: quando descobre que seus sonhos sobre um acampamento localizado nas Montanhas Rochosas e sobre crianças mutiladas têm ligação com o passado de sua mãe, que havia se suicidado antes mesmo dos eventos narrados em O Telefone Preto, Gwen convence o irmão a irem até lá para investigar.

No gelado acampamento, Finn e Gwen conhecem coadjuvantes praticamente inúteis na trama, como o supervisor Mando (Demián Bichir) e sua sobrinha, Mustang (Arianna Rivas), e voltam a encarar o Sequestrador — o personagem de Ethan Hawke não ressuscitou: virou uma assombração à la Freddy Krueger, da franquia A Hora do Pesadelo, com toques do Jason Vorhees da saga Sexta-Feira 13, que começou em 1980.
Ao cavoucar o passado do personagem e trazer à tona um desejo de vingança, O Telefone Preto 2 anula a sua aura maligna e sua capacidade de perturbar, que no primeiro filme eram amplificada justamente pela falta de explicações. Se antes o Sequestrador era quase um símbolo dos perigos urbanos que espreitam crianças e adolescentes, agora é só mais um vilão mascarado dos filmes de terror.
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