
Embora acabe sendo mal desenvolvida, uma bela ideia da minissérie Monstro: A História de Ed Gein (2025), que vem bombando na Netflix, é abordar a transformação do serial killer retratado em um ícone, seu impacto na criminalidade e sua influência na cultura pop.
Conhecido como o Açougueiro de Plainfield, por causa das atrocidades cometidas contra os corpos de suas vítimas e os cadáveres roubados do cemitério, Ed Gein (1906-1984) inspirou personagens de pelo menos três filmes famosos: Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, O Massacre da Serra Elétrica (1974), de Tobe Hooper, e O Silêncio dos Inocentes (1991), de Jonathan Demme.
Monstro: A História de Ed Gein recria os bastidores e cenas famosas desses três títulos. Psicose é o que ganha mais espaço na trama — EVITAREI MUITOS SPOILERS para quem não viu a minissérie nem o filme, que está disponível no canal Telecine do Amazon Prime Video (com sete dias de teste grátis) e do Globoplay.

São personagens da série o diretor Alfred Hitchcock (1899-1980), interpretado por Tom Hollander, a esposa dele, Alma, papel de Olivia Williams, o ator Anthony Perkins (1932-1992), encarnado por Joey Pollari, e o escritor Robert Bloch (1917-1994), vivido por Ethan Sandler.
Bloch foi o autor do romance de terror Psicose (1959), que deu origem ao roteiro de Joseph Stefano para o filme homônimo. O livro nasceu do seu fascínio pela história de Ed Gein — não tanto pelo personagem em si, mas pela situação de um assassino serial vivendo sem ser detectado e sem ser suspeito em uma típica cidadezinha do interior dos Estados Unidos.
Na minissérie, Bloch chega a arriscar uma explicação para os crimes de Gein, que teria sido profundamente abalado ao tomar conhecimento dos horrores perpetrados pelos nazistas nos campos de concentração, durante a Segunda Guerra Mundial: "Quando não entendemos uma coisa, precisamos normalizar aquilo. Às vezes, replicando".
Um dos tantos clássicos de Hitchcock, Psicose foi o maior sucesso comercial do mestre do suspense: custou US$ 807 mil e, no total, arrecadou US$ 50 milhões nas bilheterias (Janela Indiscreta, de 1954, é o segundo colocado no ranking, com US$ 38 milhões). Depois de rodar Um Corpo que Cai (1958) e Intriga Internacional (1959) em cores, o cineasta decidiu voltar a filmar em preto e branco — e com a mesma equipe técnica que fazia seu seriado na TV.
Janet Leigh (1927-2004) interpreta Marion Crane, secretária que rouba US$ 40 mil da imobiliária onde trabalhava, em Phoenix, no Arizona, para pagar as dívidas de seu amante. Na sua fuga, sai dirigindo sem destino pelas estradas, e quando começa uma tempestade vai parar no Motel Bates, um lugar decadente administrado pelo personagem que imortalizou o ator Anthony Perkins, Norman Bates, e pela autoritária mãe dele.

ALERTA DE SPOILER sobre um ponto crucial do filme.
Ainda que aos olhos de hoje o ritmo de Psicose pareça demasiado lento, o filme tem virtudes que permanecem intactas. Por natureza, diretores e atores vivem enganando os espectadores. Em Psicose, Hitchcock aplicou um dos maiores golpes do cinema e deu vida a um dos mais célebres plot twists: fez a plateia achar que estava contando a história de Marion, até que a famosa e fatídica cena do chuveiro mostrou que a história sendo contada era outra.
O assassinato da personagem de Janet Leigh talvez seja uma das mortes mais marcantes de todos os tempos. O cineasta e o diretor de fotografia John L. Russell (1905-1967) passaram uma semana filmando a cena, que dura 45 segundos e, na edição assinada por George Tomasini (1909-1964), usa 70 posições diferentes da câmera. Tudo é sublinhado pelas cordas nervosas da trilha sonora composta por Bernard Herrmann (1911-1975).

A minissérie Monstro: A História de Ed Gein reconstitui o choque provocado por Psicose nas plateias dos cinemas e faz uma releitura da cena, mas dentro da narrativa sobre o próprio Ed Gein.
Em 1998, o diretor Gus Van Sant refilmou Psicose quadro a quadro, mas em cores, trazendo no elenco Anne Heche, Vince Vaughn, Viggo Mortensen e Julianne Moore. Pouco apreciada, essa versão está disponível para aluguel em Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube.
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