
Jared Leto é uma das figuras mais controversas de Hollywood, um astro do tipo ame ou odeie. Basta ver que ele foi indicado aos prêmios de melhor e de pior coadjuvante pelo mesmo filme, Casa Gucci (2021): competiu no SAG Awards, do Sindicato dos Atores dos EUA, e ganhou o Framboesa de Ouro, no qual também concorria na categoria pior combo na tela — em parceria com "seu rosto de látex de 7 kg, suas roupas esquisitas ou seu sotaque ridículo".
O currículo de Leto, 53 anos, conta com o já clássico Réquiem para um Sonho (2000), uma vitória no Oscar de ator coadjuvante, por Clube de Compras Dallas (2013), e o cultuado Blade Runner 2049 (2017), oscarizado nas categorias de direção de fotografia e efeitos visuais. Mas sua atuação nessa ficção científica dividiu opiniões, e a lista também tem bombas como Morbius (2022), que rendeu outro Framboesa de Ouro, agora de pior ator, e papéis ainda mais constrangedores, como a sua versão do Coringa em Esquadrão Suicida (2016).
Pesam contra o ator acusações de má conduta sexual com mulheres e até adolescentes e sua fama de comportamento excêntrico ou mesmo tóxico nos sets de filmagem. Ainda assim, Jared Leto é escalado para protagonizar superproduções da Disney, como Tron: Ares (2015), que tem um orçamento estimado de US$ 180 milhões e estreou nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (9).
Dirigido pelo norueguês Joachim Rønning, o mesmo de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar (2017) e Malévola 2 (2019), Tron: Ares é o terceiro filme de uma franquia bissexta.
Tudo começou com o visionário Tron: Uma Odisseia Eletrônica (1982), de Steve Lisberger, em que o jovem e talentoso engenheiro de computação Kevin Flynn (interpretado por Jeff Bridges) descobre que Ed Dillinger, um executivo da sua empresa, a ENCOM, está roubando seu projeto de um novo videogame. Flynn acaba sendo transportado para dentro do mundo digital.

Demorou 28 anos para surgir uma continuação, Tron: O Legado (2010), de Joseph Kosinski, em que o filho de Flynn, Sam (Garrett Hedlund), assombrado pelo misterioso desaparecimento do pai, também é puxado para um universo cibernético. A sequência desse filme estava nos planos desde a época de sua estreia, mas foi sendo adiada e trocada de mãos até se tornar Tron: Ares.
Se você não viu os dois primeiros filmes, não se preocupe: um prólogo acelerado mas suficientemente explicativo situa a história até aqui e os principais personagens da nova trama de ação e ficção científica.

De um lado, temos Eve Kim, atual CEO da ENCOM, empresa associada a palavras positivas, como luz e promessa. Ela é vivida por uma atriz visivelmente pouco à vontade no gênero — Greta Lee, de Vidas Passadas (2023). Já Evan Peters, premiado com o Emmy de coadjuvante por Mare of Easttown (2021) e indicado como melhor ator por Dahmer: Um Canibal Americano (2022), se diverte na pele do antagonista, Julian Dillinger, neto do vilão do Tron original e CEO da Dillinger Systems, que emprega a tecnologia no âmbito militar.
Tron: Ares altera o fluxo da franquia: em vez de mergulhar no ambiente digital, o filme traz de lá seres cibernéticos, dando a eles corpo e voz. Por meio da inteligência artificial (IA), Julian criou Ares (o personagem de Jared Leto), construído para ser um supersoldado — seu nome, vale lembrar, vem do deus da guerra na mitologia grega —, obediente, "previsível e dispensável".

O problema é que criaturas como Ares e Athena (papel de Jodie Turner-Smith, de Queen & Slim) têm um prazo de validade muito curto no mundo real: duram apenas 29 minutos. Se não quiser ver melar seu negócio com o governo dos EUA, Julian precisa roubar da ENCOM o chamado Código de Permanência, que dá perenidade ao que nasceu via IA.
Como ficção científica, Tron: Ares é bastante superficial e esquemático na discussão sobre o tema quente e complexo da inteligência artificial. Como filme de ação, exerce algum encanto por uns 15 minutos, por causa dos rastros de neon vermelho que colorem as ruas escuras da cidade enquanto motocicletas geradas pela IA se deslocam velozmente. Mas logo nos acostumamos com o efeito e com o visual, e não surge nada de muito espetacular para engajar o público.

O que salva o espectador do sono e dá ares épicos ao filme é a trilha sonora. Calma, não é da banda Thirty Seconds to Mars, que tem Jared Ledo como vocalista e guitarrista.
Quem compôs a pulsante música foram Trent Reznor e Atticus Ross, que venceram o Oscar por A Rede Social (2010) e por Soul (2020, com Jon Batiste) e o Emmy pela minissérie Watchmen (2019). Em Tron: Ares, eles assinam sob o nome do grupo de rock industrial que o primeiro formou em 1998, o Nine Inch Nails, e fazem ecoar em seus sintetizadores elementos das obras de Wendy Carlos para o Tron de 1982 e do Daft Punk para Tron: O Legado. Se o filme não chega a provocar vontade de levantar da poltrona, a trilha sim — mas para dançar.
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