
O Clube de Cinema de Porto Alegre realiza neste sábado (18), às 10h15min, uma sessão com entrada franca de Nosferatu: O Vampiro da Noite (Nosferatu: Phantom der Nacht, 1979). O filme do diretor alemão Werner Herzog será exibido no Auditório do Goethe-Institut, na Capital (Rua 24 de Outubro, 112). A apresentação será de Vicente Renner.
Trata-se de uma homenagem a um dos grande clássicos do terror e um dos títulos fundadores do Expressionismo Alemão: Nosferatu (1922), de F.W. Murnau. Essa foi uma adaptação clandestina do romance Drácula (1897), de Bram Stoker.
A solução encontrada pelo roteirista Henrik Galeen foi simplesmente trocar a ambientação (em vez de Londres, a fictícia Wisborg) e os nomes dos personagens. Por exemplo, o vampiro da Transilvânia se chama Conde Orlok, Thomas Hutter é o corretor de imóveis Jonathan Harker, e Ellen, sua esposa, Mina.
Murnau foi um gênio do movimento que buscava substituir a descrição objetiva da realidade por uma percepção subjetiva e que usava o jogo de luzes e sombras para ilustrar personagens atormentados e temas inquietantes. No seu Nosferatu (disponível no Telecine do Amazon Prime Video), o diretor lançou mão de inovações técnicas e truques de efeitos visuais, como a imagem em negativo de árvores brancas sobre o céu negro.
Interpretado por Max Schreck, com próteses nos dedos e nas orelhas, Orlok é apresentado ao público quase sempre debaixo de portais e arcos arredondados. O contraste fixa a imagem de uma figura pontiaguda, portanto, "afiado como uma faca e ferino como uma serpente", conforme comparou a doutora em Comunicação Anelise de Carli em texto publicado em Zero Hora na época do centenário do filme.
O clássico de Murnau foi tema do filme A Sombra do Vampiro (2000), em que E. Elias Merhige recria os bastidores da produção de 1922, e ganhou uma releitura no Nosferatu (2024) de Robert Eggers, que espelhou nas interações de Orlok com Ellen os relacionamentos tóxicos e abusivos.
Em Nosferatu: O Vampiro da Noite, Werner Herzog pôde adotar os nomes usados por Bram Stoker, pois o livro já havia caído em domínio público. Assim, Klaus Kinski interpreta o Conde Drácula, Bruno Ganz faz o papel de Jonathan Harker, Roland Topor dá vida a Renfield, e Walter Ladengast é Van Helsing. Isabelle Adjani encarna a esposa de Jonathan, que no filme é chamada de Lucy, em vez de Mina — essa é a personagem da atriz Martje Grohmann.

Vicente Renner, que é funcionário público e um dos diretores do Clube de Cinema de Porto Alegre, comenta:
— Herzog fez uma inversão: a amiga, que no livro tem o nome Lucy, se chama Mina, e a protagonista, que no livro é a Mina, se chama Lucy. Nunca vi o diretor falando sobre isso, mas imagino que seja porque a Mina é um personagem com características bem conhecidas: ela é forte, proativa, participa ativamente da caçada ao Drácula etc. Herzog fez o filme com a ideia de enfatizar a relação de Nosferatu com o romantismo alemão. Então, ele queria personagens mais "passivos" e fatalistas, resignados com o próprio destino. A Lucy do filme e a Lucy do livro são completamente diferentes. A Lucy do livro é frívola e "mundana": a preocupação dela é com coisas práticas de uma mocinha da alta sociedade inglesa, com quem vai se casar etc. A Lucy do Herzog é quase um arquétipo romântico, não parece uma pessoa real.

Se o Nosferatu de Murnau foi um marco do Expressionismo Alemão, o Nosferatu de Herzog é um marco do Novo Cinema Alemão. O cineasta revisita a lenda do vampiro com "uma atmosfera poética e melancólica, transformando a história de Drácula em uma meditação sobre a solidão, o desejo e a decadência humana", diz Kelly Demo Christ, diretora de Comunicação do Clube de Cinema de Porto Alegre.
Vale destacar também a trilha sonora hipnótica da banda Popol Vuh, a fotografia de paisagens sombrias e silenciosas de Jörg Schmidt-Reitwein, o design de produção assinado por Henning von Gierke, que recebeu um Urso de Prata no Festival de Berlim, e, claro, a atuação de Klaus Kinski (1926-1991) como Drácula. Nosferatu: O Vampiro da Noite foi a segunda das cinco parcerias entre o ator e o diretor — as demais foram Aguirre: A Cólera dos Deuses (1972), Woyzeck (1978), Fitzcarraldo (1981) e Cobra Verde (1987). Depois, Herzog utilizou imagens de arquivo para realizar o documentário Meu Melhor Inimigo (1999), um retrato da sua relação de amor e ódio com Kinski.
É assinante mas ainda não recebe a minha carta semanal exclusiva? Clique AQUI e se inscreva na minha newsletter.
Já conhece o canal da coluna no WhatsApp? Clique aqui: gzh.rs/CanalTiciano




