
Diretor de obras marcantes do cinema brasileiro, como o curta Ilha das Flores (1989) e os longas O Homem que Copiava (2003) e Saneamento Básico, o Filme (2007), além de títulos que mereciam mais visibilidade, caso do documentário O Mercado de Notícias (2014), o cineasta gaúcho Jorge Furtado foi o convidado especial do 1º Encontro Inovacine RS, realizado recentemente no Teatro Unisinos, em Porto Alegre.
Inovacine RS é o apelido, digamos assim, do Ecossistema de Inovação da Indústria Audiovisual do Rio Grande do Sul, realizado pela Secretaria da Cultura do Estado com apoio do Instituto Estadual de Cinema (Iecine), em parceria com Sulflix e Primeiro Corte e tendo como instituição de ensino a Unisinos, por meio do Curso de Realização Audiovisual.
O objetivo do ecossistema é conectar profissionais, empresas e instituições para desenvolver soluções colaborativas diante dos principais desafios do setor. Já participam do Inovacine RS 70 empresas do audiovisual gaúcho.
Na sua apresentação, para profissionais do setor, estudantes e público em geral, Jorge Furtado falou sobre "40 coisas que aprendeu em 40 anos de cinema" — a data redonda foi comemorada em 2024, quando inclusive ele recebeu o Troféu Eduardo Abelin no Festival de Gramado. As lições, como é típico na filmografia de Furtado, cruzam referências de várias áreas. Citam cineastas, como Billy Wilder, atores, como Paulo José, dramaturgos, como Shakespeare, filósofos, como Montaigne, músicos, como Gilberto Gil, escritores, como Kurt Vonnegut, e pintores, como Delacroix.
Ainda que não organizada em uma ordem específica, a lista de 40 aprendizados começa com o aspecto que ele considera o mais importante: ser fiel a si mesmo.
— É o que vale mais. Não se preocupem com algoritmos, tendências, pesquisas, o que as pessoas estão gostando ou o que querem os streamings. Eles não têm ideia na verdade, ficam inventando coisas — disse Furtado. — A maneira que a gente tem de enfrentar as inteligências e as burrices artificiais é ser humano, porque isso eles não sabem fazer nem vão saber nunca.
Confira, a seguir, as 40 coisas que Jorge Furtado aprendeu em 40 anos de carreira no cinema e na TV. No site da Casa de Cinema de Porto Alegre (clique neste link), as lições estão aprofundadas, com comentários e mais citações.
- "Seja fiel a você mesmo." (Shakespeare, em Hamlet)
- Cinema é trabalho de equipe.
- Contamos histórias para saber quem somos.
- "O povo sabe o que quer, mas o povo também quer o que não sabe." (Gilberto Gil)
- Criar é mover-se do caos para a ordem.
- "Escrever é reescrever." (Anne Lamott)
- Preconceito é burrice.
- Quem se acha original apenas confessa sua ignorância.
- "Se você não tem o fim, não tem história". (Paulo José)
- Tudo que escrevemos num roteiro deve ser visível ou audível.
- O orçamento é a estética.
- Plano-sequência quase sempre é preguiça.
- Pequenas ideias, grande angular. Maneirismos e piruetas formais costumam envelhecer mal.
- Tudo deve ser feito para que o ator possa fazer bem o seu trabalho.
- "Uma vez que o ator foi escolhido para o papel, o diretor já fez 90% do seu trabalho." (Alexander Mackendrick)
- Concentre-se na encomenda.
- "A principal função de um texto é manter o leitor lendo." (Kurt Vonnegut)
- Determine seus padrões como autor, eles são seu patrimônio.
- "Explicações demoram um tempo horrível. Conte as aventuras primeiro." (Lewis Carroll)
- "Trate as cenas como as festas: chegue tarde e saia cedo." (Billy Wilder)
- Parte da criação é criar o método para criar.
- Paradoxo do concurso: roteiros ruins podem parecer bons para quem poucas vezes (ou nunca) esteve num set tentando filmar uma cena.
- O que não conta a história não faz parte da história.
- Cada cena é um filme.
- "Dê ao leitor ao menos um personagem pelo qual ele pode simpatizar." (Kurt Vonnegut)
- "Quase todos os problemas de um filme podem ser resolvidos com um roteiro melhor." (Richard Lester)
- Humor é uma forma avançada de filosofia.
- "O importante é que sejam amigos!" (Paulo José)
- Em filmagens, se puder, evite crianças, animais e líquidos.
- Documentário: é aquele filme que o autor (ou produtor) informa que é um documentário.
- "O prazer não é infalível como guia crítico, mas é o menos falível." (W. H. Auden)
- "Trata-se de fazer com que o quadro seja mais interessante do que a parede." (Delacroix)
- "Flashback é coisa de comunista. Nem sempre o passado esclarece ou justifica o presente." (Carlos Manga)
- O conto não perde tempo.
- "Há filmes que fazemos porque amamos. Há filmes que fazemos porque estamos em outubro." (Paul Newman)
- O cérebro humano é obcecado por procedimentos.
- "Há milumaestórias na mínima unha de estória." (Haroldo de Campos)
- A vida de qualquer um dá um filme. "Cada homem leva em si a forma inteira da condição humana." (Montaigne)
- Dramaturgia é um baile de máscaras. Ao escrever, você precisa ser todos os seus personagens.
- Ninguém é obrigado a ver o seu filme.
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