
Lançado nos cinemas na primeira semana de julho, Superman (2025) estreou precipitadamente nas plataformas digitais de aluguel ou compra, em agosto, o que limitou seu potencial de bilheteria — estacionou nos US$ 615,1 milhões. Nesta sexta-feira (19), a partir das 4h, o filme chega ao menu da HBO Max.
Superman é fraquinho. O ator David Corenswet, visto em Pearl (2022) e Twisters (2024), se esforça bastante, mas ele não é um super-homem para salvar da mesmice e da bobice o filme escrito e dirigido por James Gunn. A nova aventura cinematográfica do primeiro super-herói dos quadrinhos — foi criado em 1938 por Jerry Siegel e Joe Shuster — não consegue voar alto para alcançar o pódio no ranking dos 10 títulos estrelados pelo personagem da DC (confira a lista mais abaixo).
Talvez o melhor do filme nem seja algo original: são as ora empolgantes, ora emocionantes recriações, pelos compositores John Murphy e David Fleming, da clássica trilha musical de John Williams para o Superman de 1978.
Antes de desandar para a toada destruição & piadinhas, o Superman de 2025 até que começa muito bem, incluindo os geniais letreiros iniciais — "Três séculos atrás, três décadas atrás, três anos atrás etc" —, que fazem tanto um resumo do surgimento do universo DC e do personagem quanto estabelecem um ponto de alta tensão ao final, ao informar que três minutos atrás o Homem de Aço perdeu uma batalha pela primeira vez.
O responsável foi o chamado Martelo da Boravia, um vilão que age sob as ordens de Lex Luthor, o arquiinimigo do super-herói. Luthor é interpretado por Nicholas Hoult, que abre mão do humor para se distanciar das versões anteriores (Gene Hackman, Kevin Spacey e Jesse Eisenberg).

Não quer dizer que o filme deixe de apostar em uma tonelada de piadas, embora poucas tenham rendido risadas na sessão para a imprensa (as melhores envolvem os autômatos da Fortaleza da Solidão; as piores, todas com a redação do Planeta Diário, com coadjuvantes inúteis ou insossos). Nem que Hoult consiga se destacar, apesar da gana corporativa que tenta imprimir ao papel.
Diretor e roteirista egresso da Marvel, onde comandou a bem-sucedida trilogia dos Guardiões da Galáxia (2014, 2017 e 2023), James Gunn procura equilibrar os elementos cômicos, como o cão Krypto e a namorada influencer de Luthor, com assuntos sérios, como as campanhas de difamação digital e a corrupção na indústria de armamentos.

A ação do protagonista para impedir o ataque de um país fictício do Leste Europeu, a Boravia, aliada dos Estados Unidos, a outra nação de mentirinha, Jarhanpur, uma suposta ditadura com ares de Oriente Médio, gera críticas da própria namorada de Clark Kent/Superman, a repórter Lois Lane (papel de Rachel Brosnahan). Quais são os limites do Homem de Aço em questões geopolíticas? Ele pode interferir na soberania de um país? Se existisse de verdade, qual seria sua atitude diante dos tantos conflitos que assustam o mundo?
O filme não avança muito nas respostas, e também não desenvolve muito a provocação ao xenófobo presidente dos EUA, Donald Trump: Superman, um símbolo estadunidense, é, no fundo, um imigrante. Não é por falta de diálogos. Superman é bastante falado, bastante expositivo: os personagens estão sempre dizendo o que vão fazer, sempre contando o que estamos vendo (inclusive ao "desvendarem" um segredo que estava na cara o tempo todo). Também é bastante barulhento: Metrópolis vira cenário de destruição por causa de um monstro gigante, por causa de um combate corpo a corpo, por causa de uma "fissura dimensional"...

Os efeitos visuais são muito bem feitos, mas seu impacto já havia sido diluído nos sucessivos trailers. A ação em si não traz nenhum tipo de inovação, com a possível exceção na exibição dos poderes do Metamorpho (Anthony Carrigan), um dos novos personagens — entre os outros, estão o Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillion), o Sr. Incrível (Edi Gathegi), a Mulher-Gavião (Isabela Merced) e a Engenheira (María Gabriela de Faría).
Um diferencial, deve-se reconhecer, está no retrato do Superman. Se as encarnações anteriores (Brandon Routh e Henry Cavill) realçavam o caráter divino do personagem e conectavam a sua imagem e a sua trajetória com as de Jesus Cristo, James Gunn busca mostrar o lado humano do alienígena vindo do planeta Krypton, um sujeito que, como todos nós, tem seus pecados, comete suas burradas e sente medo. Novamente, porém, isso precisa ser dito com todas as letras, como se o público não soubesse prestar atenção e ler nas entrelinhas.

O que Superman não deixa claro, surpreendentemente, é quais são os próximos passos do universo cinematográfico da DC. Ok, a tal Gangue da Justiça liderada por Guy Gardner é o embrião para uma nova Liga da Justiça, e o epílogo confirma uma expectativa aventada pela imprensa e pelos fãs. Mas as duas cenas pós-créditos não dão pista nenhuma sobre o futuro.
Talvez o DC Studios tenha ficado traumatizado pelo mico de Adão Negro (2022), que terminou anunciando um quebra-pau colossal entre o personagem do título, vivido por Dwayne "The Rock" Johnson, e o Superman interpretado por Henry Cavill. Dois meses depois da estreia, James Gunn, que havia sido recentemente empossado como um dos presidentes do estúdio, demitiu Cavill, o que fez The Rock romper com a DC.
Em Superman, tudo o que temos é uma cena bonitinha e, depois, uma piadinha.
Ranking Superman: os 10 filmes, do pior ao melhor

A estreia do Superman dirigido por James Gunn e protagonizado por David Corenswet convidou a formular um ranking dos filmes do Homem de Aço.
Friso filmes porque ficaram de fora os seriados cinematográficos das décadas de 1940 e 1950 protagonizados primeiro por Kirk Alyn e depois por George Reeve e as encarnações do personagem na TV e no streaming, como as séries Lois & Clark: As Novas Aventuras de Superman (1993-1997), com Dean Cain no papel do super-herói, Smallville (2001-2017), com Tom Welling na pele do jovem Clark Kent, e Superman and Lois (2021-2024), com Tyler Hoechlin vestindo o uniforme.
Por outro lado, entram na lista não apenas as aventuras solo. Confira o ranking, do pior ao melhor filme:
10º) Superman IV: Em Busca da Paz (1987)

De Sidney J. Furie. Roteiro pobre e efeitos toscos, tendo como "ápice" a cena em que o Homem de Aço interpretado pelo saudoso Christopher Reeve (1952-2004) reconstrói a Muralha da China, derrubada por um vilão criado a partir do DNA de um fio de cabelo seu. Não com as mãos, nem com supervelocidade: com os olhos mesmo! Além da curiosidade mórbida, vale pelos dois ou três minutos em que o personagem discursa na Organização das Nações Unidas (ONU), refletindo sobre seu papel no planeta e apresentando os seus planos para a paz mundial. (HBO Max)
9º) Superman III (1983)

De Richard Lester. A presença de Richard Pryor, no papel de um hacker vilanesco, faz o filme protagonizado por Christopher Reeve abusar da comédia. Talvez tenha deixado marcas em alguns diretores atuais que se aventuram pelo gênero. (HBO Max)
8º) Liga da Justiça (2017)

De Zack Snyder e Joss Whedon. O filme em que o Batman (Ben Affleck) forma a superequipe da DC, o que inclui ressuscitar o Superman encarnado por Henry Cavill, é uma maçaroca sem personalidade: tem a visão amarga de Snyder, sua mão dura e seu pendor para a violência, mas também piadinhas constrangedoras e uma paleta de cores mais solar, na tentativa de se aproximar das aventuras dos Vingadores no Universo Cinematográfico Marvel, cuja estreia foi sob o comando de Whedon. Uma peça de humor involuntário foi o porco apagamento digital do bigode que Cavill estava usando nas refilmagens, por causa de seu papel em Missão Impossível: Efeito Fallout (2018). (HBO Max)
7º) Liga da Justiça de Zack Snyder (2021)

De Zack Snyder. Inconformados com Liga da Justiça, os fãs, ainda em 2017, movimentaram-se para exigir que a Warner (dona da DC) liberasse a versão de Snyder. O diretor ganhou de US$ 40 milhões a US$ 70 milhões para dobrar a duração do filme. Com quatro horas, a aventura não é muito melhor do que a anterior, mas desenvolve o herói Ciborgue e os vilões Darkseid e Lobo da Estepe e é mais coerente do ponto de vista artístico. Ou seja, temos muita breguice, muita computação gráfica, muita câmera lenta e um Superman (Henry Cavill) que, em vez de ser o defensor dos fracos e dos oprimidos, surge como agressor dos fortes e dos poderosos. A utilização do uniforme preto não tem sentido nenhum na história, a não ser atender ao fetiche de quem leu os gibis sobre a morte e a ressurreição do kryptoniano publicados na metade inicial da década de 1990. (HBO Max)
6º) Superman: O Retorno (2006)

De Bryan Singer. O filme realça o caráter divino do Homem de Aço, que, em vez de voar, literalmente ascende ao céu, fazendo poses que remetem à imagem de Cristo na crucificação (até uma perna está flexionada). O pedaço de kryptonita que Lex Luthor (um Kevin Spacey sádico e xarope) usa como arma lembra os pregos que prenderam Jesus à cruz. Um pecado, contudo, é ser reverente em demasia ao clássico Superman (1978). Ao escolher um ator baseado sobretudo na sua semelhança com Christopher Reeve, Singer anulou a personalidade que o novato Brandon Routh poderia imprimir ao personagem. (HBO Max)
5º) Superman (2025)

De James Gunn. O filme protagonizado por David Corenswet começa lá no alto, equilibrando a ação, o drama épico, as referências aos fãs dos quadrinhos e as inevitáveis doses de humor. Os letreiros de abertura são geniais, a orquestração de Lex Luthor (Nicholas Hoult) na batalha entre Superman e o Martelo da Boravia é digna de um grande vilão, e a visita à Fortaleza da Solidão rende tanto admiração, pela ambientação, quanto risadas, por conta da ironia dos autômatos. Mas não demora para o filme começar a cair no genérico e não mais conseguir se levantar. (HBO Max)
4º) Batman vs Superman (2016)

De Zack Snyder. Kryptonianos que me perdoem, mas a ordem na formulação do título não deixa dúvida: este é um filme do Batman. Para começar, as primeiras cenas recontam o episódio crucial para a transformação de Bruce Wayne em Homem-Morcego: o assassinato de seus pais, Thomas e Martha (guarde este nome). A mente do Cavaleiro das Trevas é a única que se abre para um mergulho do espectador, via pesadelos pretéritos ou sonhos distópicos. É por seu ponto de vista que surgem na história o Homem de Aço (Henry Cavill) e a então grande novidade do universo cinematográfico da DC, a hipnotizante Mulher-Maravilha (Gal Gadot). O próprio Batman era uma novidade: Ben Affleck. E o quebra-pau entre os dois personagens presta tributo a uma clássica história em quadrinhos, O Cavaleiro das Trevas (1986), enfatiza o lado estrategista do Morcegão e dá a ele uma frase antológica, digna de meme: "Diga-me, você sangra?". (HBO Max)
3º) Superman II (1980)

De Richard Lester. Superman (Christopher Reeve) enfrenta novamente Lex Luthor (Gene Hackman), agora aliado dos três prisioneiros do extinto planeta Krypton — general Zod (Terence Stamp), Ursa (Sarah Douglas) e Non (Jack O'Halloran) — que, no preâmbulo do primeiro filme, haviam sido banidos para a Zona Fantasma por Jor-El (Marlon Brando), o pai de Kal-El. Segundo alguns críticos, Superman II é até superior ao primeiro, a despeito das brigas, demissões e renúncias nos bastidores — Hackman, por exemplo, recusou-se a continuar trabalhando após os produtores despedirem o diretor original, Richard Donner, e acabou substituído por um dublê de corpo! (HBO Max)
2º) O Homem de Aço (2013)

De Zack Snyder. O terço final põe literalmente por terra o que foi erguido nos dois iniciais, justamente por causa de demoradas e monótonas cenas de destruição. Antes, a feliz combinação entre o roteiro, a concepção visual de Snyder e a música de Hans Zimmer reconduz Superman ao Olimpo do qual ele foi o pioneiro ocupante, em 1938. Mas é menos à mitologia grega e mais à Bíblia que o filme alude. Como na aventura de 2006, a jornada do kryptoniano em O Homem de Aço espelha a de Jesus: o onisciente pai do além, os anos de provação de Clark Kent em empregos ordinários (como os 40 dias no deserto), os milagres, a idade do sacrifício pela humanidade — em uma cena, o herói interpretado por Henry Cavill se apresenta com 33 anos. (HBO Max e Telecine)
1º) Superman (1978)

De Richard Donner. Continua encantador este que é um dos primeiros filmes do gênero. Boa parte da sua magia deve-se a Christopher Reeve, que não somente nos fez acreditar que era possível voar e até inverter a rotação da Terra: o ator imbuiu o personagem da força, da nobreza e da esperança que são associadas ao Superman — acrescentando doses generosas de charme e senso de humor. Com orçamento de US$ 55 milhões, o Superman de Donner era, à época, o longa-metragem mais caro da história. Disputou três categorias do Oscar — melhor música original (assinada pelo mestre John Williams), montagem e som — e ganhou um prêmio especial, por seus efeitos visuais. Na trama, Marlon Brando interpreta Jor-El, cientista que envia o seu filho à Terra pouco antes da destruição do planeta Krypton. Criado como Clark Kent, o garoto desenvolve superpoderes e, já adulto, torna-se um super-herói defensor da sociedade contra ameaças e malfeitores. O grande Gene Hackman (1930-2025) faz o vilão Lex Luthor, e Margot Kidder (1948-2018) encarna a repórter Lois Lane. (HBO Max)
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