
O Batman Day, uma data criada pela DC Comics e pela Warner Bros. em 2014 para assinalar os 75 anos de existência do super-herói, é celebrado sempre no terceiro ou quarto sábado de setembro.
Para comemorar, a Sessão Nostalgia da Sala Paulo Amorim, na Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, vai exibir um dos melhores filmes de super-herói já feitos. Trata-se de Batman: O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), de Christopher Nolan, que valeu a Heath Ledger (1979-2008), na pele do Coringa, o Oscar póstumo de ator coadjuvante.
A exibição será às 19h deste domingo (21), com ingressos a R$ 10. Depois, haverá um bate-papo mediado pela jornalista Bruna Haas Pacheco, idealizadora do projeto, e com a minha presença. Também vou autografar exemplares do meu livro O Morcego e a Luz: 80 Anos de Batman no Cinema (editora BesouroBox, 2023). Sei que é dia de Gre-Nal, mas vou ficar muito feliz se você puder ir!
Por que ver (ou rever) "O Cavaleiro das Trevas"

Diferentemente do que sugere o título, este é um filme do Coringa, muito antes do filme Coringa (2019). Quem começa dando as cartas em Batman: O Cavaleiro das Trevas é justamente o vilão, em interpretação tão magnética e tão ofuscante de Heath Ledger que permite comparação com o Marlon Brando de Uma Rua Chamada Pecado (1951) ou Apocalypse Now (1979). Por sua vez, a primeira aparição do Homem-Morcego chega a ser chocha, apesar de Christian Bale imprimir a voz grave e tenebrosa que o personagem dos quadrinhos pede.
Christopher Nolan dirigiu um pesadelo sombrio e vertiginoso. Mais acelerado — e mais coeso — do que Batman Begins (2005), O Cavaleiro das Trevas estabeleceu um novo paradigma para o gênero ao conjugar ação e reflexão. Entre combates corporais e perseguições automobilísticas, entre exibições de bat-utilidades e explosões de prédios, discutem-se temas perenes (o que é um herói e o que separa o Bem do Mal, por exemplo) e dilemas modernos (como os riscos de combater o crime com extremismo).
Com US$ 1 bilhão angariado nas bilheterias, merecia ter concorrido ao Oscar de melhor filme. Mas O Cavaleiro das Trevas teve de se contentar com o prêmio póstumo de ator coadjuvante para Ledger, morto em janeiro de 2008, antes mesmo da estreia da superprodução, com apenas 28 anos, vítima de overdose acidental de remédios, e a vitória em edição de som. Houve outras seis indicações: fotografia, edição, direção de arte, efeitos visuais, maquiagem e mixagem de som.
Qual é a trama do filme?

A trama de O Cavaleiro das Trevas tem início com um assalto a banco, orquestrado pelo Coringa, que vai deixar fulos da vida os mafiosos de Gotham City — filmada sobretudo em Chicago, dentro da leitura realista proposta pelo diretor britânico, avesso a truques digitais. Paralelamente, Batman, o ainda tenente Gordon (Gary Oldman) e o incorruptível promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart) se unem para limar da cidade os criminosos.
O enredo e o tom sóbrio, quase noir, bebem bastante de três dos melhores gibis do super-herói da DC: Batman: Ano Um, de Frank Miller e David Mazzhucchelli, O Longo Dia das Bruxas, de Jeph Loeb e Tim Sale, e A Piada Mortal, tour de force do Coringa com roteiro de Alan Moore e arte de Brian Bolland.
Nolan não chega a explorar a origem do vilão, como faz A Piada Mortal, mas, no filme, o personagem alude ao dos quadrinhos quando reinventa aqui e ali o seu passado — uma tática declarada pelo Coringa na HQ. É como se zombasse daqueles que buscam uma explicação lógica para a maldade.
Cinema e quadrinhos se encontram sobretudo na abordagem da dualidade de Batman (um herói com impulsos negativos) e na tese do Coringa de que basta um dia ruim para transformar o mais íntegro dos cidadãos em um lunático, basta o caos para nivelar bons e maus.
— Insanidade é como gravidade — afirma o Coringa de Heath Ledger. — Basta um empurrãozinho.
Não é por acaso que O Cavaleiro das Trevas acompanha o surgimento de outro vilão essencial: o Duas-Caras. Ele é o símbolo tanto do lado escuro de Batman quanto da proposição do Coringa.
Não é por acaso que, na cena em que o Homem-Morcego suspende o psicopata de ponta-cabeça, Nolan movimente a câmera de modo a igualar a posição dos dois interlocutores. Um não é mais o inverso do outro, mas seu espelho.
A homenagem de Christopher Nolan a "Fogo Contra Fogo"

Christopher Nolan é assumidamente apaixonado por Fogo Contra Fogo (1995), filmaço policial dirigido por Michael Mann e estrelado por Al Pacino e Robert De Niro. Ele inclusive mediou um painel com o diretor e os dois atores realizado em 2016 e incluído nos extras da edição definitiva em Blu-ray lançada no ano seguinte.
Em Batman: O Cavaleiro das Trevas, Nolan prestou reverência a Fogo Contra Fogo. Começa pela escalação de Willian Fichtner e inclui a fotografia fria e azulada, o peso da cidade, o caráter obsessivo dos personagens e, claro, um mirabolante assalto a banco por uma quadrilha mascarada.
A maior homenagem não poderia ser outra: a cena de Pacino e De Niro no restaurante é referenciada no interrogatório do Batman com o Coringa. Tanto no posicionamento da câmera e na edição do diálogo (plano e contraplano, plano e contraplano) quanto no teor da conversa, em que o vilão diz ao herói que eles são duas caras da mesma moeda: "Você me completa!".
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