
Luzes da Cidade (1931), Tempos Modernos (1936), O Grande Ditador (1940), Luzes da Ribalta (1952)... Charlie Chaplin (1899-1977) deixou de herança uma coleção de clássicos inesquecíveis, mas o filme pelo qual ele queria ser lembrado é Em Busca do Ouro (The Gold Rush, 1925). Dentro das comemorações do centenário de sua estreia, festejado no dia 26 de junho, a Cinemateca Capitólio, em Porto Alegre, faz uma sessão especial do título neste sábado (5), às 19h. Os ingressos custam R$ 16.
Trata-se de uma cópia restaurada, a partir de materiais raros fornecidos por instituições como o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a Cineteca di Bologna (na Itália) e o British Film Institute (BFI), que resgata a montagem original de Chaplin, segundo o texto de divulgação da Capitólio.
Em Busca do Ouro foi o segundo longa-metragem de Charles Chaplin. No primeiro, O Garoto (1921), o gênio do cinema mudo aperfeiçoou seu célebre personagem, o Vagabundo, conhecido no Brasil como Carlitos e inspirado na vivência do próprio Chaplin — filho de artistas do music hall londrino, ele enfrentou a miséria e o abandono na infância.

Carlitos estreara em um curta de 1914. Chaplin buscou no guarda-roupa do estúdio de cinema um figurino que colocasse peças em contraste: calças largas e casaco apertado, sapatos enormes e chapéu-coco pequeno. A bengala, o bigodinho, o instinto de sobrevivência e o domínio da arte da pantomima completavam o pacote.
Na trama de Em Busca do Ouro, Carlitos tenta a sorte como garimpeiro em meio à corrida do ouro de 1898, no Alasca. Lá, ele conhece Big Jim (papel de Mack Swain), garimpeiro experiente que encontrou a pedra preciosa, mas perdeu a memória. Após uma tempestade de neve, diversas desventuras começam a acontecer, ao mesmo tempo em que o protagonista se apaixona por uma dançarina, Georgia (vivida por Georgia Hale).

Chaplin assumiu múltiplas funções nesta comédia — diretor, roteirista, produtor, ator, editor —, comandou centenas de figurantes e brindou o público com cenas antológicas, como a dança dos pãezinhos. Minucioso e perfeccionista, o cineasta levou três dias para filmar a sequência em que Carlitos e Big Jim cozinham uma bota — foram 60 takes!
Por falar em curiosidade, um dos mais famosos críticos de cinema que Porto Alegre já teve, Paulo Fontoura Gastal, o P.F. Gastal (1922- 1996), tem uma história anedótica envolvendo Em Busca do Ouro, conforme contado pelo saudoso Ricardo Chaves, o Kadão (1951-2025), em uma coluna Almanaque Gaúcho de Zero Hora.
Aos 18 anos, Gastal resolveu trabalhar em um cinema de Pelotas. Fazia a programação da sala e tomou conta da seção de cinema do jornal local. Consta que, quando Em Busca do Ouro chegou a Pelotas, Gastal conseguiu, antes da estreia oficial, realizar duas sessões especiais e foi assistir ao filme sozinho.
"Porque não convidaste alguns amigos?", perguntou o repórter José Amadio em entrevista publicada na Revista do Globo de 25 de outubro de 1947.
"Por que não seria a mesma coisa", respondeu Gastal. "Fiz como aquela pulga que tirou a sorte grande e comprou um cachorro só para ela."
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