
Michael Madsen, ator estadunidense que morreu nesta quinta-feira (3), vítima de uma parada cardíaca em sua casa, na Califórnia, aos 67 anos, nunca concorreu ao Oscar, ao Globo de Ouro ou a qualquer prêmio importante.
No final da sua carreira, vinha atuando em muitos filmes de gosto duvidoso, produções baratas de ação, suspense ou terror. O último trabalho mais decente foi justamente com o diretor que mais acreditava no potencial dele: Quentin Tarantino.
Sob o comando de Tarantino, Madsen fez cinco filmes: Cães de Aluguel (1992), Kill Bill: Vol. 1 (2003), Kill Bill: Vol. 2 (2004), Os Oito Odiados (2015) e Era uma Vez em... Hollywood (2019). Outros títulos de destaque são A Experiência (1995), Donnie Brasco (1997) e Sin City: A Cidade do Pecado (2005).
Nesses filmes, o ator exibiu características que o tornavam ímpar: um olhar meio melancólico, meio fulminante, uma voz grave mas quase sempre sussurrada, um corpanzil que mal continha a fúria e a dor.
Se você nunca viu um filme com o ator, ou se você quer prestar uma homenagem, a dica é assistir a Cães de Aluguel (Reservoir Dogs), atualmente disponível para aluguel em Amazon Prime Video e Google Play.
Fugindo da polícia após um assalto a uma joalheria, uma gangue se reúne em um galpão, onde se levanta a suspeita de que há um traidor entre eles. Michael Madsen interpreta o Mr. Blonde, Harvey Keitel é o Mr. White, Tim Roth encarna o Mr. Orange, Steve Buscemi faz o Mr. Pink, Edward Bunker vive o Mr. Blue, e o próprio Quentin Tarantino aparece, na pele do Mr. Brown.

Todas as marcas tarantinescas já estão aqui: o manuseio inteligente dos códigos do cinema policial, a hiperviolência gráfica, os diálogos verborrágicos, a singular trilha sonora de raridades e esquisitices. Vide o emprego sinistro de Stuck in the Middle With You (1972) na cena que eternizou Michael Madsen: o seu personagem dança e cantarola o hit do Stealers Wheel enquanto tortura e corta uma orelha de um policial.
Nessa cena, que virou um ícone na carreira de Madsen e também na de Tarantino, há uma mistura de sadismo e carisma que torna a experiência deliciosamente desconfortável para o público. Condenamos o que Mr. Blonde faz, mas não conseguimos desgrudar os olhos.
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