
Não é só a Disney que sabe fazer live-action. Aliás, a primeira versão com atores de uma animação da DreamWorks, Como Treinar o seu Dragão (How to Train your Dragon, 2025), que estreia nesta quinta-feira (12) nos cinemas, é superior aos dois títulos lançados pelo centenário estúdio na temporada — o famigerado Branca de Neve, que acaba de chegar ao streaming, e o popularíssimo Lilo & Stitch, que caminha para o US$ 1 bilhão nas bilheterias.
Inspirado na série de livros da escritora inglesa Cressida Cowell, o Como Treinar o seu Dragão original foi dirigido por Dean DeBlois e Chris Sanders — curiosamente, a mesma dupla que realizou Lilo & Stitch (2002) na Disney. O filme concorreu ao Oscar de melhor longa de animação e de melhor música, composta por John Powell, e arrecadou US$ 494,8 milhões.
O sucesso deu início a uma exitosa trilogia, sempre sob o comando de DeBlois: Como Treinar o seu Dragão 2 (2014) faturou US$ 621,5 milhões, e Como Treinar o seu Dragão 3 (2019) fez 519,8 milhões. Os dois títulos também foram indicados à premiação da Academia de Hollywood. Houve ainda três séries de TV, seis curtas, vários games e adaptações para os quadrinhos.

O Como Treinar o seu Dragão de 2025 também tem direção de Dean DeBlois, que manteve praticamente intacto o roteiro. Ou seja: produzido pela Universal, dona da DreamWorks, o live-action limita-se a ser a versão mais realista possível da história estrelada por vikings e dragões.
Mas o diretor, sua equipe técnica e seu elenco fazem isso com tamanha dedicação que agigantam a experiência — sobretudo se assistida nas salas IMAX, com tela enorme que intensifica a imersão e sistema de som que potencializa o caráter épico da música composta por John Powell.
A combinação dos talentos dramáticos dos atores com os recursos da computação gráfica contribui para ressaltar os elementos de aventura, de drama e de comédia da história. Que, apesar de ser ambientada na época dos vikings e de contar com criaturas mitológicas, aborda temas atemporais e muito humanos. Como Treinar o seu Dragão é um filme sobre filhos que querem provar seu valor para os pais e é um filme sobre tolerância e convivência em tempos de guerra e medo.
A trama de "Como Treinar o seu Dragão"

A trama de Como Treinar o seu Dragão se passa na fictícia Ilha de Berk, na Escandinávia, que era habitada pelos vikings. Exímios navegadores, eles prosperaram entre o final do século 8 e o começo do século 11, deixando marcas — ora na base da espada e do saque, ora na base do comércio e da cultura — pela Europa, pela África do Norte, pela costa do Canadá e por territórios da Ásia.
Segundo o filme, só uma coisa assustava os vikings: dragões. Tanto é que o rito de passagem na aldeia consiste em matar uma dessas criaturas aladas e cuspidoras de fogo.

O protagonista, o adolescente Soluço, é cativantemente interpretado por Mason Thames, ator revelado no terror O Telefone Preto (2021). O garoto, que está mais para nerd do que para guerreiro, contraria ordens do pai, Stoico, o Imenso (papel de Gerard Butler, dublador do personagem na animação), o chefe do vilarejo, e tenta ajudar a rechaçar um ataque dos monstros voadores.
Sua ação é bastante desastrada, mas, com a geringonça que inventou na oficina onde trabalha como auxiliar de ferreiro, Soluço acerta um dragão do tipo Fúria da Noite: temível, veloz, destrutivo e que ninguém consegue ver.

Disposto a matar seu primeiro dragão para conquistar o respeito da comunidade e, principalmente, do pai, o rapaz desiste ao descobrir o que capturou. Aquele dragãozinho preto está mais para um bicho de pelúcia excêntrico do que para uma fera perigosa. Soluço o batiza como Banguela e passa a cuidá-lo e domesticá-lo em segredo.
Em paralelo, as lições que Soluço aprende com Banguela ele coloca em prática no treinamento de combate a dragões ministrado por Bocão (papel de Nick Frost, das comédias Todo Mundo Quase Morto e Chumbo Grosso). As aulas na arena também contam com a participação de Astrid, garota destemida que faz o coração do protagonista bater mais forte e que é encarnada por Nico Parker, a Sarah Miller da série The Last of Us. Aos poucos, os jovens poderão mostrar aos adultos que um outro caminho é possível, um outro mundo é possível.

A despeito de não haver surpresas no desenvolvimento da história, tudo funciona muito bem em Como Treinar o seu Dragão. Desde o elenco humano aos personagens digitais, que são realistas quando têm de ser e "cartunizados" quando vale a pena — caso do Banguela, que ganha em expressividade por não fugir muito da sua versão na animação original.
Na transformação da lenda em realidade, merecem destaque também a direção de fotografia de Bill Pope — o mesmo de outro belo live-action, Mogli, o Menino Lobo (2016) —, que sabe a hora de iluminar ou de escurecer uma cena e de empregar movimentos de câmera vertiginosos ou delicados; e os figurinos de Lindsay Pugh, ainda que, nas roupas de Soluço, haja o acréscimo do indefectível capuz para aproximá-lo dos garotos dos dias mais atuais.
Mais live-actions da DreamWorks?

Já é certo que haverá uma sequência, Como Treinar seu Dragão 2, a ser lançada em 2027. E o provável sucesso comercial deste primeiro live-action da DreamWorks permite especular se outras animações do estúdio vão ganhar versões em carne, osso e um tanto de computação gráfica — ou até inteligência artificial.
Considerando o catálogo da empresa, eu apostaria em O Príncipe do Egito (1998), A Origem dos Guardiões (2012) e as franquias Shrek, Os Croods e O Poderoso Chefinho.
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