
A plataforma Max resgatou do limbo digital um dos dois filmes que deram projeção mundial ao ator Ricardo Darín: O Filho da Noiva (El Hijo de la Novia, 2001), comédia dramática dirigida por Juan José Campanella que concorreu ao Oscar internacional e estava há muito tempo (talvez 10 anos!) indisponível no streaming.
O outro filme que ajudou a firmar Darín como o rosto do cinema argentino é Nove Rainhas (2000), de Fabián Bielinsky (1959-2006), presente no menu do Disney+ e agora também na Max. Aliás, o serviço de streaming adicionou a seu menu mais seis títulos com o astro portenho de 68 anos: Aura (2005), do próprio Bielinsky, Abutres (2010), de Pablo Trapero, Um Conto Chinês (2011), de Sebastián Borensztein, Sétimo (2013), de Patxi Amezcua, Um Amor Inesperado (2018), de Juan Vera, e A Odisseia dos Tontos (2019), também de Borensztein.
O Filho da Noiva foi a segunda das quatro parcerias de Campanella com Darín. Antes, ele fizeram O Mesmo Amor, a Mesma Chuva (1999). Depois, vieram Clube da Lua (2004) e O Segredo dos seus Olhos (2008), que conquistou o Oscar de melhor filme internacional.
O personagem principal da comédia dramática é Rafael, um quarentão em crise. Cheio de dívidas, ele vive a dúvida de vender ou não para uma empresa italiana o restaurante aberto pelo pai, Nino. Também se culpa por não visitar a mãe, Norma, que sofre de Alzheimer. Esses dois personagens são interpretados por Héctor Alterio e Norma Aleandro, atores que contracenaram no outro filme da Argentina premiado no Oscar internacional, A História Oficial (1985), de Luis Puenzo.
Não bastasse a ex-esposa acusá-lo de não ter tempo para a filha, o protagonista sente-se pressionado pela namorada (Natalia Verbeke) a assumir compromisso. Para completar, o pai de Rafa resolve realizar com Norma o casamento na igreja com o qual ela sempre sonhou.
Tudo isso leva Rafa a um ataque cardíaco. No hospital, ele reata a amizade com um sujeito que já havia visitado o restaurante: o ator Juan Carlos (Eduardo Blanco). Juan Carlos era quem salvava Rafa na infância, quando este se fantasiava de Zorro para provocar os garotos mais velhos, como mostra o prólogo de O Filho da Noiva.

O infarto e o reaparecimento de Juan Carlos não provocam uma súbita mudança no protagonista, como acontece usualmente em produções de Hollywood. A transformação é lenta e gradual. Muito mais real, mas nem por isso menos divertida.
Quando um padre diz que "Deus não é velho nem jovem, não é homem nem mulher, não é branco nem negro", Rafa retruca: "Não, padre, esse é o Michael Jackson". Campanella encontra ocasião para piadas mesmo lidando com temas como o Alzheimer e a crônica crise econômica da Argentina.
— Nós temos uma cultura do humor tragicômico — o cineasta explicou em entrevista à época em que O Filho da Noiva competiu no Festival de Gramado, de onde saiu com três Kikitos: melhor atriz da mostra latina, para Norma Aleandro, e melhor filme pela crítica e pelo júri popular. — É um humor sarcástico, tão judeu e italiano, capaz de rir de si mesmo.
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