
Bailarina (Ballerina, 2025) é um filme do universo John Wick, como aponta o subtítulo brasileiro, mas pode-se dizer que nasceu de uma aventura de James Bond. Em 007: Sem Tempo para Morrer (2021), Ana de Armas mostrou seus dotes para cenas de ação como aquelas vistas no título que tem sessões a partir desta quarta-feira (4) nos cinemas do país.
Aliás, a atriz cubana que concorreu ao Oscar por interpretar Marilyn Monroe (1926-1962) em Blonde (2022) seria personagem certa do escritor gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011) nas suas colunas publicadas em Zero Hora, nas quais gostava de listar nomes que condicionam destino. Em Bailarina, Ana pega em armas de tudo o que é tipo — pistolas, facas, rifles, granadas, lança-chamas, vasos, patins —, além de transformar o próprio corpo em uma máquina de matar.
Por falar em corpo, eis um ponto positivo de Bailarina — talvez o único. Embora Ana, 37 anos, seja considerada uma das mais sensuais estrelas de Hollywood, o filme jamais trata sua protagonista como um símbolo sexual. Não espere figurinos decotados nem diálogos maliciosos, muito menos cenas românticas.

De resto, Bailarina é perda de tempo (duas horas, fora os trailers e o seu deslocamento de ida e volta) e de dinheiro.
Com roteiro de Shay Hatten e direção de Len Wiseman, o mesmo de Anjos da Noite (2003) e Duro de Matar 4.0 (2007), Bailarina: Do Universo de John Wick se passa entre os eventos de John Wick 3: Parabellum (2019) e John Wick 4: Baba Yaga (2023). O início do filme, porém, está ambientado em um passado mais distante, para mostrar como surgiu a sede de vingança da personagem vivida por Ana de Armas.
Quando era criança, Eve Macarro viu seu pai, um assassino desertor, ser morto a mando do Chanceler, um vilão genérico interpretado sem ânimo por Gabriel Byrne. A menina acabou acolhida por Winston (Ian McShane), o gerente do Hotel Continental, o luxuoso território neutro no submundo dos matadores.
Mas é sob as asas da personagem de Anjelica Huston, a Diretora, que Eve vai crescer, tendo aulas cruéis de balé e de sobrevivência, até se tornar uma assassina da organização Ruska Roma. Já adulta, a protagonista vai em busca de vingança, em uma jornada que inclui a visita a uma cidadezinha onde a neve mal encobre as intenções letais de seus moradores, a descoberta de segredos do passado e a participação especial do próprio Keanu Reeves, que talvez tenha mais falas aqui, como coadjuvante, do que na soma de todos os filmes em que foi protagonista.
Por falar em soma, lanço um desafio a quem assistir a Bailarina: contar o número de mortes. A franquia John Wick sempre se notabilizou pela matança glamorizada, pela gourmetização da descartabilidade da vida humana. Os "primeiros pratos" servidos neste spinoff até que são bem feitos, abrindo o apetite de quem, no cinema, sob a guarda da ficção, se permitir apreciar a violência que é abominável da vida real.
Mas a cozinha nunca para de funcionar e, por mais que tente ser criativa, acaba nos empanturrando. Já nem sentimos mais o sabor, tampouco conseguimos diferenciar os ingredientes: o filme vira uma gosma, uma gororoba.
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