
Se estivesse vivo, o cineasta Carlos Reichenbach, que nasceu em Porto Alegre mas foi levado pela mãe para São Paulo ainda bebê, completaria 80 anos neste sábado (14). Por coincidência, Carlão, como era conhecido, morreu no mesmo dia do seu 67º aniversário, em 2012, devido a complicações cardíacas. Para homenageá-lo, a Cinemateca Capitólio, no Centro Histórico, preparou uma programação especial.
Nesta sexta-feira (13), às 20h, o Projeto Raros vai exibir com entrada franca — mas com classificação indicativa 18 anos — No Vale das Deusas Acromegálicas (Beneath the Valley of the Ultra-Vixens, EUA, 1979), filme de Russ Meyer (1922-2004).
A sinopse divulgada pela Capitólio diz assim: "Acredite ou não, mesmo em Smalltown USA ainda existem pessoas insatisfeitas e desamparadas em meio à abundância. Levonna e Lamar poderiam ter o relacionamento perfeito, se não fosse a obsessão de Lamar com a entrada traseira. O último filme da fase gloriosa da produção de Russ Meyer nos anos 1970, com roteiro de Roger Ebert, protagonizado pela diva Kitten Natividad".

Este filme era um dos preferidos de Carlão dentro do chamado cinema extremo. Dono de um espírito jovem e libertário, defensor e praticante de um cinema urbano, anárquico e dedicado ao proletariado, Reichenbach designava assim os filmes "que de alguma forma rompem convenções, levam suas ideias e propostas de forma e/ou conteúdo anticonvencionais às últimas consequências ou subvertem deliberadamente os conceitos acadêmicos da gramática cinematográfica".
O cineasta fazia uma ressalva importante: "Não serão considerados relevantes para esta avaliação os filmes que, de alguma forma, procurem estimular a intolerância e o preconceito; muito menos aqueles que visam exclusivamente o lucro fácil ou a exploração mercenária da ignorância alheia".
No Vale das Deusas Acromegálicas é, nas palavras do diretor brasileiro, uma "obra-prima do deboche vulgar e fescenino. Sátira retumbante ao machismo e a boçalidade do americano classe-média. Meyer é no fundo um feminista desvairado com suas heroínas de fartos consoles, que trajam roupas de couro e gostam de cobrir seus machos de porrada".
No domingo (15), às 17h, também com entrada franca, a Capitólio apresenta Filme Demência (1986), considerado um dos melhores títulos do próprio Carlos Reichenbach, que também legou ao mundo obras como A Ilha dos Prazeres Proibidos (1977), Anjos do Arrabalde (1987), Alma Corsária (1993), Dois Córregos (1999), Garotas do ABC (2003) e Falsa Loura (2007).

Na trama de Filme Demência, um pequeno industrial de cigarros, falido economicamente e em crise doméstica, sai de casa e passa a refugiar-se em visões e alucinações. Como na lenda de Fausto contada por Goethe, terá de encontrar seu correspondente Mefisto, que durante a história lhe aparecerá de várias formas e personalidades, ora como traficante noturno, ora como uma cândida velhinha.
O ator gaúcho Enio Gonçalves encarna o protagonista, acompanhado no elenco por Emilio di Biasi, Imara Reis e Rosa Maria Pestana. A cidade de São Paulo serve de cenário para as caminhadas desse personagem.
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