
Para continuar trabalhando, o ator Bruce Willis, 70 anos, escondeu de Hollywood o seu quadro de demência frontotemporal e de afasia nos primeiros anos após o diagnóstico da doença. A informação foi noticiada recentemente pelo site Australian News, que teve acesso antecipado ao livro The Unexpected Journey, escrito por Emma Willis, esposa do astro da franquia Duro de Matar.
A obra deve chegar às livrarias em setembro, contando detalhes da vida do casal e o convívio com a doença mental. De acordo com Emma Willis, não se trata de uma autobiografia, mas uma publicação de autoajuda, voltada a famílias que enfrentam doenças neurodegenerativas.
A família de Willis anunciou em março de 2022 a aposentadoria do ator e revelou o diagnóstico de afasia, distúrbio cerebral que afeta a capacidade de comunicação, incluindo tanto a expressão como a compreensão, seja para fala, leitura ou escrita. Em 2023, seus familiares disseram que a condição havia progredido: o ator tem demência frontotemporal, que, além da linguagem, causa alterações no comportamento e na personalidade.

Emma conta que antes de tornar público o diagnóstico de afasia o casal decidiu lidar em segredo com a condição de Bruce. O ator queria continuar trabalhando o máximo possível, mesmo diante das limitações impostas.
Assim, Willis pediu aos diretores que seus personagens tivessem menos diálogos. Ele também chegou a usar um ponto eletrônico no ouvido, operado por um amigo de confiança, que passava as suas falas durante as filmagens.
Em três anos, 21 filmes

O estilo de interpretação de Bruce Willis, marcado por pausas e um ritmo cadenciado, contribuiu para que a afasia permanecesse escondida por um bom tempo. E Willis trabalhou muito nos seus últimos anos de carreira: entre 2021 e 2023, foram lançados 21 filmes com o ator. Vou repetir: vinte e um filmes no intervalo de três anos. Eram todos títulos de ação ou policiais de baixo orçamento, incluindo a trilogia do Detetive Knight.
Por uma ironia injusta, Willis viu-se forçado a se aposentar na mesma temporada em que o Framboesa de Ouro — prêmio de galhofa lançado em 1981 por um publicitário de Hollywood — criou uma categoria especial, a da Pior Interpretação de Bruce Willis, com oito filmes de 2021 estrelados pelo ator: Apex, Emboscada, A Fortaleza, Fuga da Morte, Impasse, Invasão Cósmica (o premiado), Meia-Noite no Switchgrass e Sobreviva ao Jogo.
Willis, que nunca concorreu ao Oscar — seus principais prêmios são um Globo de Ouro (pela série A Gata e o Rato) e dois Emmys (por A Gata e o Rato e por uma participação especial em Friends) — merecia uma despedida muito mais honrosa.

Afinal, este é o cara que se transformou em exército de um homem só na franquia Duro de Matar (1988-2013), cujos cinco filmes arrecadaram US$ 1,4 bilhão mundialmente e tornaram o tira John McClane um dos mais memoráveis heróis de Hollywood.
Este é o cara que emprestou a voz para o bebê atento, cínico e sarcástico da comédia Olha Quem Está Falando (1989).

Este é o cara que encarnou o boxeador do relógio de ouro e da espada katana em Pulp Fiction (1994).
Este é o cara enviado de volta no tempo para descobrir a causa de um vírus que acabou com quase toda a população do planeta em Os 12 Macacos (1995).
Este é o cara que, na pele de um perfurador de petróleo, salvou a Terra da extinção ao destruir um asteroide em Armageddon (1998).

Este é o cara que, exibindo uma insuspeitada sutileza na interpretação, ajudou o diretor M. Night Shyamalan a praticar uma das maiores reviravoltas da história do cinema em O Sexto Sentido (1999).
Este é o cara que, ao repetir a parceria com Shyamalan, transformou Corpo Fechado (2000) no melhor filme de super-herói não baseado em quadrinhos e no início da mais inesperada trilogia cinematográfica.

Este é o cara que viveu o único tira honesto de Sin City: A Cidade do Pecado (2005), talvez a mais perfeita transposição dos quadrinhos para o cinema.
Este é o cara que lutou contra o tempo e contra todos em 16 Quadras (2006).
Este é o cara que fez um policial de coração mole em Moonrise Kingdom (2012).
Este é o cara que foi caçado por sua versão do passado (Joseph Gordon-Levitt) em Looper: Assassinos do Futuro (2012).
Este é o cara que, quando surgia em cena, com lábios crispados, olhar fuzilante e careca reluzente, costumava nos dar uma certeza: aí está um cara duro de matar.
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