
O Dia do Cinema Brasileiro é comemorado em duas datas. O 5 de novembro lembra a exibição pública inaugural: em 1896, foram projetados oito curtas-metragens para a elite do Rio de Janeiro, na Rua do Ouvidor.
No dia 19 de junho de 1898, o ítalo-brasileiro Affonso Segretto, a bordo de um navio, registrou as primeiras imagens em movimento no país: sua chegada à Baía da Guanabara.
Para celebrar esta data, fiz uma lista com 19 dos melhores filmes brasileiros disponíveis na Netflix. A única regra foi não repetir diretor. Clique nos links se quiser saber mais.
1) Vidas Secas (1963)

De Nelson Pereira dos Santos. A adaptação do romance de Graciliano Ramos sobre a família do retirante Fabiano (Átila Iório) e sua cachorrinha, Baleia, que partem pelo sertão em busca de melhores condições de vida, compõe a Trilogia do Sertão com Deus e o Diabo na Terra do Sol (de Glauber Rocha, 1964) e Os Fuzis (Ruy Guerra, 1963). No Festival de Cannes, o realismo da cena da morte de um animal chocou a imprensa e o público.
2) Pixote: A Lei do Mais Fraco (1981)

De Héctor Babenco. Com crueza, retrata a dura realidade de crianças em situação de rua em São Paulo, com foco em um menino chamado Pixote (Fernando Ramos da Silva) que se envolve no crime, com as drogas e com a prostituição. No elenco, Marília Pêra.
3) Carlota Joaquina, Princesa do Brasil (1995)

De Carla Camurati. Marco da retomada do cinema nacional nos anos 1990, é uma cinebiografia da mulher de personalidade forte (vivida por Marieta Severo) que alcançou o posto de Imperatriz do Brasil entre 1825 e 1826.
4) Central do Brasil (1998)

De Walter Salles. Conta a história do menino Josué (Vinícius de Oliveira), que, depois da morte de sua mãe, inicia uma jornada para reencontrar o pai que ele não conhece. No seu caminho aparece Dora (Fernanda Montenegro), uma professora aposentada que sobrevive escrevendo cartas para analfabetos na estação carioca. Ganhou o Urso de Ouro de melhor filme e o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim, recebeu o Globo de Ouro de longa estrangeiro e concorreu ao Oscar nas categorias de filme internacional e melhor atriz.
5) Bicho de Sete Cabeças (2000)

De Laís Bodanzky. Rodrigo Santoro estrela este drama pungente baseado em relato autobiográfico de Austregésilo Carrano Bueno. O tema são os abusos cometidos contra dependentes químicos internados em hospitais psiquiátricos.
6) Eu Tu Eles (2000)

De Andrucha Waddington. A comédia dramática aborda a condição da mulher na sociedade arcaica do sertão a partir da inusitada trajetória de Darlene (personagem de Regina Casé). Ela vê seu casamento desestabilizar quando um primo do marido vai morar com o casal. Ele acaba se tornando o segundo esposo de Darlene. Mas um rapaz mais jovem também se juntará à família, completando a trinca de maridos.
7) Cidade de Deus (2002)

De Fernando Meirelles. O filme brasileiro que se tornou um marco no cinema mundial faz um mosaico sobre o surgimento, o desenvolvimento e a hegemonia do tráfico de drogas em um conjunto habitacional da zona oeste do Rio, entre os anos 1960 e 1980.
8) Edifício Master (2002)

De Eduardo Coutinho. O diretor visita 37 moradores de um prédio de clásse média com 276 apartamentos localizado em Copacabana, no Rio. Os personagens compartilham suas histórias de vida, suas pequenas alegrias e suas perenes frustrações. É o documentário que eu levaria para uma ilha deserta.
9) Deus É Brasileiro (2003)

De Cacá Diegues. O diretor alagoano assina esta adaptação de um conto do baiano João Ubaldo Ribeiro. Antonio Fagundes faz o papel do todo-poderoso, que empreende uma viagem pelo Nordeste à procura de um substituto — Ele está cansado dos erros cometidos pela humanidade e resolveu tirar umas férias. Misto de comédia existencial/folclórica e filme de estrada com pegada social, foi um dos primeiros longas-metragens do ator Wagner Moura, aqui, interpretando o malandro Taoca, o guia de Deus no Agreste.
10) O Homem que Copiava (2003)

De Jorge Furtado. Na zona norte de Porto Alegre, o jovem André (Lázaro Ramos) falsifica uma nota de R$ 50 para comprar um presente na loja onde trabalha seu amor platônico, Sílvia (Leandra Leal) — enquanto o hilariante Cardoso (Pedro Cardoso) faz de tudo para seduzir a lindíssima Marinês (Luana Piovani). Nesta colagem de gêneros e de referências, o diretor tirou do esquecimento um monumento histórico da Capital.
11) Elena (2012)

De Petra Costa. Trata- se do poético inventário de um prolongado luto. Ao recriar os passos da sua irmã mais velha, Elena, e tentar compreender os caminhos, desvios e o atalho por ela tomados, a diretora mineira revive uma dor que trazia entranhada desde os sete anos. Em Nova York, onde a mana sonhava em seguir carreira de atriz, a documentarista percorre ruas e lugares guiada pelos relatos em fitas cassete enviados à família. O passado ressurge em filmes e vídeos caseiros que atestam a amorosa relação entre as duas irmãs. Cenas dramatizadas, como as de Petra e sua mãe boiando sobre a água, sublinham elementos elegíacos e etéreos.
12) Casa Grande (2014)

De Fellipe Barbosa. Pelo olhar de um adolescente de 17 anos (Thales Cavalcanti), acompanhamos a derrocada de uma família burguesa do Rio de Janeiro. No meio do caminho, o diretor aborda a desigualdade social e a política de cotas, a hipocrisia das elites e sua relação com os empregados domésticos (o título faz referência explícita ao livro Casa Grande & Senzala, lançado em 1933 pelo sociólogo Gilberto Freyre), o machismo estrutural e os anseios sexuais da faixa etária.
13) Que Horas Ela Volta? (2015)

De Anna Muylaert. Mostra a relação e os conflitos entre patrões e domésticas. Em uma atuação arrebatadora, Regina Casé interpreta Val, empregada em uma casa de classe média alta em São Paulo. Ela é "da família", mas quando sua filha chega de Pernambuco para prestar vestibular, a garota começa a questionar a desigualdade social e a não se conformar com as interdições – nem sempre explícitas – impostas pela elite. Jéssica (Camila Márdila) não sabe nem quer saber de "seu lugar": ao contrário da mãe, ela já entende que a sociedade não é estática.
14) Simonal (2018)

De Leonardo Domingues. O filme estrelado por Fabrício Boliveira abarca 15 anos de vida e carreira do cantor Wilson Simonal (1938-2000), do início como integrante do conjunto vocal The Dry Broys, em 1960, até o estrelato nacional e a queda em desgraça por causa de sua ligação com um órgão repressor do governo federal à época da ditadura militar, em um episódio que envolveu o sequestro e a tortura de seu ex-contador.
15) M-8: Quando a Morte Socorre a Vida (2019)

De Jeferson De. Maurício (Juan Paiva) é o único negro na turma de Medicina de uma faculdade do Rio. Na aula de anatomia, ele fica intrigado pelo fato de todos os corpos serem de pessoas negras. Tem mais a ver com os mortos do que com os vivos, reflete o filho de uma auxiliar de enfermagem. A partir de então, o protagonista passa a ter alucinações a respeito de um dos cadáveres, o M8 do título. O jovem não vai sossegar até encontrar a identidade daquele homem, como não sossegam as mães negras enquanto não encontram os corpos de seus filhos, tombados pela violência do tráfico ou da polícia.
16) A Vida Invisível (2019)

De Karim Aïnouz. No Rio de Janeiro dos anos 1950, a jovem Eurídice (Carol Duarte) é uma pianista talentosa e reprimida. Suas aventuras sexuais são as da irmã, Guida (Júlia Stockler), que lhe conta sobre os avanços íntimos de um marinheiro grego. Uma protege a outra, e só se separam quando Eurídice, tocando seu piano, acoberta as escapadas noturnas de Guida. Até que um dia a separação se agiganta. Antes cúmplices, as irmãs tornam-se invisíveis uma para a outra.
17) Propriedade (2022)

De Daniel Bandeira. Em Recife, onde a rica estilista Teresa (Malu Galli) ainda se recupera de um episódio de violência urbana. Seu marido propõe passar uns dias na fazenda da família, para onde vão a bordo de um carro novo, todo blindado. Chegando lá, o casal depara com uma revolta dos empregados, que trabalham sob condições análogas à escravidão e agora correm o risco de serem despejados. O único refúgio para a protagonista é o interior do veículo, onde o vidro separa dois mundos.
18) Retratos Fantasmas (2023)

De Kleber Mendonça Filho. É um documentário bastante pessoal e bastante livre sobre um mundo fantasma. Antes, os cinemas de calçada eram o ponto de encontro da sociedade, formando filas quilométricas; com o tempo, a salas de rua foram dando lugar a estacionamentos, igrejas e farmácias.
19) Homem com H (2025)

De Esmir Filho. Provocou um fenômeno muito bonito nos cinemas, onde foi visto por mais de 620 mil espectadores: ao final das sessões, o público aplaudiu o filme como se estivesse em um teatro. Motivos não faltaram. A cinebiografia é despudorada, sensível e arrebatadora, fiel ao espírito do artista retratado, o cantor Ney Matogrosso (encarnado por Jesuíta Barbosa), hoje com 83 anos.
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