
No fim de semana que marca os 20 anos da primeira sessão de Batman Begins (2005), o Domingo Maior da RBS TV exibe Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012), que deu fim à trilogia dirigida por Christopher Nolan. O filme que vai ao ar às 23h35min deste domingo (1º) foi o campeão de bilheteria entre os três títulos, com US$ 1,1 bilhão, mas não goza do mesmo prestígio junto aos fãs.
Na trama, oito anos se passaram desde os acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas (2008). Batman (Christian Bale), após assumir a culpa pela morte de Harvey Dent — mantendo incólume a imagem do promotor público que, transformado em Duas-Caras, havia cometido atrocidades em Gotham City —, está aposentado.
Seu alter ego, Bruce Wayne, virou um bilionário recluso. Não dá bola a Miranda Tate (Marion Cotillard), investidora em um projeto de energia limpa, e não percebe que falta dinheiro para ajudar um orfanato, como se queixa o policial John Blake (Joseph Gordon-Levitt).

O sacrifício de Batman, porém, concedeu à cidade tempos de paz, erguidos sob a Lei Dent, que aprisiona bandidos sem julgamento nem direito a condicional. Mas Bruce ouve dos lábios rubros de Selina Kyle, a Mulher-Gato (Anne Hathaway):
— Uma tempestade está chegando.

Essa tempestade vem em forma humana (ou quase). É Bane (Tom Hardy, apavorante com seu rosto encoberto por uma máscara e sua voz distorcida), vilão criado em 1993 nos gibis.
O terrorista surge aos olhos do espectador na acachapante cena de abertura, a bordo de um avião da CIA. Como comenta o roteirista David S. Goyer, que escreveu a trama com os irmãos Christopher Nolan e Jonathan Nolan, no livro The Art and Making of the Dark Knight Trilogy (2012), eis outro inimigo que, como o Coringa, suscita paralelos com Batman — outro órfão que desenvolveu a mente e o corpo para infligir o terror.

Bane, Selina Kyle, John Blake, Miranda Tate. Os personagens vão aparecendo na tela, como peças de outro engenhoso e fascinante quebra-cabeças montado por Nolan, a exemplo de seu filme anterior, A Origem (2010).
O tabuleiro move-se constantemente, embalado pela música ribombante e tensa composta por Hans Zimmer e ancorado pela edição de Lee Smith, que, como é característico na obra de Nolan, aposta tanto em flashbacks quanto em flashforwards.

O Cavaleiro das Trevas Ressurge em nenhum momento se esquece de que é um filme de super-herói — exibe com gosto a parafernália do personagem, não poupa cenas de combate corpo a corpo, pontua o enredo sinistro com alívios cômicos (sobretudo via Mulher-Gato), pede a suspensão da descrença ao espectador.
Mas também oferece a ele muito mais do que diversão escapista. Não encena um debate sobre o bem versus o mal, mas sim sobre o bem e o mal coexistindo sob a capa do Batman. Não é um filme sobre um vilão que quer dominar o mundo — aliás, o vilão nem quer dominar o mundo; seu propósito é político, revolucionário, anárquico (uma das inspirações declaradas de Nolan foi o romance de Dickens Um Conto de Duas Cidades, ambientado na Revolução Francesa, e a trama ecoa o movimento Occupy Wall Street).

Não é um filme em que os efeitos visuais falam mais alto do que os atores — pelo contrário: os atores é que falam muito, em diálogos sobre o que é ser herói, sobre as máscaras que vestimos diariamente, sobre a perda da esperança e o medo da morte.
Mas também não é um filme só para pensar. Toca fundo no coração — tanto o do protagonista quanto o do espectador. Nolan sabe que cordas puxar na memória afetiva dos fãs. Revisita cenas dos filmes anteriores — de modo a sugerir que tudo nessa trilogia foi prévia e inteligentemente elaborado — e alude a aspectos fundamentais da batmitologia em seu longo e intenso clímax.
Não escondo que chorei — e três vezes — quando assisti ao filme no cinema. Lágrimas correram na cena do poço, na cena da revelação de um nome e na cena derradeira dessa trilogia que eu veria de novo agora, de cabo a rabo.
Mas também admito que o tempo de lá para cá realçou os vários problemas de Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Vão desde erros bobos de continuidade até as muitas decisões do roteiro que desafiam a mínima lógica (como todos os policiais de Gotham caírem em uma armadilha), passando pelas mortes indignas, rápidas demais ou simplesmente ridículas de dois dos personagens principais.
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