Exibido em duas sessões durante o 15º Festival Varilux de Cinema Francês, O Conde de Monte Cristo (Le Comte de Monte-Cristo, 2024) estreia nesta quinta-feira (5) em três salas de Porto Alegre: Cinemark Barra, Cinesystem Bourbon Country e GNC Moinhos.
É uma nova adaptação do clássico literário publicado entre 1844 e 1846 por Alexandre Dumas pai, em colaboração com Auguste Maquet. Desde 1908, quando Hobart Bosworth estrelou um filme mudo em Hollywood, já houve dezenas de versões para o cinema ou para a TV. Entre as mais famosas, estão a de 1975 estrelada por Richard Chamberlain e a de 2002 protagonizada por Jim Caviezel. A história também inspirou seriados como Revenge (2011-2015) e produções da Argentina, da Coreia do Sul, da Índia, da Inglaterra, da Turquia...
Orçado em 42,9 milhões de euros, o novo filme vem na esteira do sucesso de público na França de outros dois longas-metragens baseados em obras de Dumas pai: Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan (2023) e Os Três Mosqueteiros: Milady (2023), ambos dirigidos por Martin Bourboulon. Juntos, somaram 6 milhões de espectadores no país. Roteiristas desse díptico, Matthieu Delaporte e Alexandre de La Patellière assumem a direção em O Conde de Monte Cristo, que foi além nas bilheterias: vendeu mais de 9 milhões de ingressos.
Trata-se de uma das mais célebres histórias sobre vingança. O protagonista é interpretado por Pierre Niney, vencedor do prêmio César de melhor ator pela cinebiografia Yves Saint Laurent (2014). Vítima de uma conspiração, o jovem marinheiro Edmond Dantès é preso no dia de seu casamento com Mercedes (Anaïs Demoustier) por um crime que não cometeu. Após 14 anos de detenção no castelo de If, ele consegue escapar e se torna, como diz o personagem, "o braço armado de um destino que é cego e surdo".
Como há muitas reviravoltas na trama, as três horas de duração transcorrem sem cansar o espectador. Contribuem também o requinte da produção (desde a direção de fotografia assinada por Nicolas Bolduc aos cenários e figurinos), a música composta por Jérôme Rebotier e as boas atuações. Além de Niney, vale destacar Bastien Bouillon (de A Noite do Dia 12) como Fernand de Morcerf, Patrick Mille (de Os Três Mosqueteiros) como Danglars, Anamaria Vartolomei (de O Acontecimento) como Haydée e o italiano Pierfrancesco Favino (de O Traidor) como o abade Faria. É esse personagem que oferece lições valiosas a Edmond. Entre elas, o valor inestimável do conhecimento, do aprendizado.
Os quatro temas universais de "O Conde de Monte Cristo"
Codiretor de O Conde de Monte Cristo, Matthieu Delaporte esteve no Brasil no início de novembro para divulgar as exibições do filme no Festival Varilux de Cinema Francês. Veio acompanhado do ator Patrick Mille, que interpreta o capitão de navio Danglars. Zero Hora participou de uma rodada de entrevistas realizado no hotel Fairmont Copacabana, no Rio. Delaporte adiantou que mais uma outra grande história francesa será adaptada, mas manteve o seu nome em segredo. Confira os principais trechos da conversa:
O Conde de Monte Cristo chega aos cinemas logo depois da nova adaptação francesa de Os Três Mosqueteiros, que também foi um sucesso de público. Há uma demanda na França por superproduções de histórias que de certa forma durante um bom tempo tinham sido sequestradas por Hollywood?
Matthieu Delaporte: Sim, foram sequestrados por Hollywood, mas faz alguns anos que não estão mais nessa condição. Porque Hollywood não faz mais esses filmes. Hoje não há mais Titanic, Dança com Lobos. Hoje, os super-heróis da Marvel dominam, esmagam. E também não há mais jovens Coppolas ou jovens Tarantinos. Hoje, os criativos nos Estados Unidos vão trabalhar nas séries. O cinema ficou completamente industrializado. Tem um desejo do espectador francês, mas também, espero, um desejo do público do mundo inteiro.
Patrick Mille: Acabamos de chegar de Los Angeles, onde havia um festival de filmes franceses. Nós fizemos cinco sessões para quase 3 mil professores do Ensino Médio da Califórnia. E as reações deles, as perguntas deles depois das sessões eram como na França. Incrível.
Aproveitando esse gancho, qual é o grande poder de atração da história do Conde de Monte Cristo?
Mille: Injustiça, vingança, amor e redenção. Quatro temas universais.
Qual foi o principal desafio na adaptação de um clássico tão conhecido?
Delaporte: O desafio foi encontrar uma maneira diferente de fazer o que já foi feito. Para achar uma maneira pessoal, reinventar alguma coisa que já existe. E, no fundo, ser mais fiel ao espírito do livro do que à palavra. Trair para para traduzir melhor.
O personagem Danglars é o catalisador, é quem provoca toda a desgraça do mundo e também o que torna Edmond um vingador. Pode falar sobre a construção do personagem e a relação com o protagonista?
Mille: Eu fiz um trabalho de invenção da infância do Danglars para ver por que ele é tão violento, tão mau. Fui buscar inspiração nas novelas marítimas, como O Lobo do Mar (1904), de Jack London. Meu personagem é outra vítima de uma injustiça. Danglars só cumpriu a ordem do patrão, que era a de nunca parar o navio quando se avista alguém no mar, porque pode ser uma emboscada de piratas. Mas ele acaba punido por isso. Mais adiante, quando ele reencontra o Edmond, sem reconhecê-lo, o Danglars já é um nobre. A falta de instinto do Danglars para se dar conta de quem é o Conde de Monte Cristo mostra como o dinheiro ilude as pessoas. E, depois, meu personagem vai ensinar, e também aprender, outra lição: a de que cada ação tem consequência.
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