
O jornalista Henrique Ternus colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Não agradou aos prefeitos dos vales do Sinos e Paranhana a proposta do Piratini para concessão de rodovias estaduais do bloco 1. As principais críticas recaem sobre o que consideram um excesso de pórticos de pedágio e a ausência de cobrança para os usuários da RS-118, visto como uma "injustiça".
O plano prevê a ampliação, renovação e manutenção de oito rodovias entre a Região Metropolitana e a Serra — como a RS-115, RS-239 e RS-040 —, com investimento total de R$ 6,4 bilhões ao longo de 30 anos. Estão previstos 23 pórticos do modelo free flow e um aporte de R$ 1,5 bilhão do governo estadual, via Funrigs, para reduzir o custo das tarifas.
Ainda assim, o valor estimado de R$ 0,21 por quilômetro rodado é considerado alto pelos gestores locais. O prefeito de Igrejinha, Leandro Horlle, que preside a Associação dos Municípios do Vale do Paranhana (Ampara), considera o preço "acima do aceitável", e diz que a expectativa da região em torno do anúncio se transformou em "frustração".
— Da forma como foi apresentado, fica impossível circular em alguns locais sem pagar pedágio, isso interfere no cotidiano das pessoas da região. Se não houver alteração, os municípios daqui estão todos contra — aponta o prefeito.
Horlle também criticou a ausência de pedágios na recém-duplicada RS-118, e considera um "erro" fazer com que as outras arquem com o custo de manutenção da rodovia na Região Metropolitana.
"Exagero de pedágio"
Na mesma linha, o prefeito de Lindolfo Collor e presidente da Associação dos Municípios do Vale Germânico (Amvag), Gaspar Behne, está preocupado com o impacto nos comércios e no turismo, sugerindo que a quantidade de pórticos do free flow vai afastar empresas da região.
— A gente não é contra a concessão, a iniciativa privada melhora muito, mas é um exagero de pedágio. Mas por que o governo do Estado não investe o recurso nas rodovias que nós temos? Faça melhorias, não entregue para a iniciativa privada usufruir durante 30 anos dos pedágios. Estamos contra porque isso vai afetar o comércio local, indústrias principalmente.
Já André Brito, presidente da Granpal e prefeito de Taquari, tem ponderações pontuais sobre a proposta. Na sexta-feira (31), após assembleia da entidade, os prefeitos da Região Metropolitana decidiram contratar uma assessoria técnica para embasar uma posição oficial sobre o plano do Piratini.
— A dúvida que se tem é com relação ao custo, é o que foi mais pautado pelos prefeitos e que gera muitas dúvidas. Num primeiro momento, se observa ser um custo elevado. Os prefeitos não são contrários a pedágio, mas aos valores que são cobrados — pontua.
Nem tanto progresso
Sonho antigo do Vale do Sinos, a construção da RS-010 — apelidada de “rodovia do progresso” — foi incluída no pacote. O trecho de 41 quilômetros ligará a freeway, em Porto Alegre, à RS-239, em Sapiranga, com conclusão prevista para 2035.
Entretanto, o modelo proposto com três pórticos do free flow mais uma vez desapontou os chefes municipais. Leandro Horlle teme que a rodovia possa cair no ostracismo, já que, partindo do Paranhana, será mais barato chegar à Capital pela RS-020 (que também está inclusa no projeto e deve ser duplicada, com previsão de dois pórticos de pedágio entre Igrejinha e Gravataí).
Gaspar Behne lembra que o governo do Estado recentemente autorizou a construção de um trem de passageiros entre Porto Alegre e Gramado — que será totalmente feita por uma empresa e cujo trajeto deve ser paralelo à RS-010 —, e questiona se há necessidade de entregar os dois empreendimentos, tanto a ferrovia quanto a rodovia, à iniciativa privada.
Caminho sem volta
Ciente das resistências que enfrentou com o bloco 2, o Piratini esboçou um projeto considerado mais "redondo" para o bloco 1. A exclusão do pedágio na RS-118 atende a um apelo da comunidade de Gravataí, que temia a cobrança após a duplicação da rodovia executada pelo governo do Estado, e de cara o governo já garantiu aporte de R$ 1,5 bilhão para reduzir as tarifas — o mesmo montante destinado ao bloco 2 após críticas dos prefeitos do Vale do Taquari e do Norte gaúcho.
Mesmo assim, o governo entende — e os prefeitos concordam — que a concessão é um caminho sem volta. O que o Piratini aceitaria negociar para reduzir a tarifa é abrir mão de alguns trechos de duplicação, ou empurrar para mais adiante a realização de algumas obras previstas.
Na tentativa de conciliar o maior número de interesses possíveis, o governo está procurando individualmente os prefeitos para colher sugestões e explicar o que pode ou não ser feito, e abriu a consulta pública do edital na quinta-feira (30). A sociedade tem até 1º de dezembro para apresentar contribuições ao projeto.




