
A notícia dada na coluna pelo jornalista Paulo Egídio de que um grupo de vereadores do PL e do Novo propôs a revogação do título de cidadã de Porto Alegre à reitora da UFRGS, Márcia Barbosa, é “de corar frade de pedra”, como diria Ciro Gomes diante de uma coisa vergonhosa. A “desomenagem” é uma retaliação aos vereadores de esquerda que se recusaram a aprovar a concessão do mesmo título ao comunicador Tiago Pavinatto, da Jovem Pan de São Paulo.
Em respeito às crianças e adolescentes que sabem respeitar as combinações com a professora, não dá para dizer que seja “muito quinta série” o que propõem os vereadores Comandante Nádia (PL), Coronel Ustra (PL), Jessé Sangali (PL), Alexandre Bobadra (PL), Ramiro Rosário (Novo) Tiago Albrecht (Novo), Marcos Felipe Garcia (Cidadania) e Mariana Lescano (PP). É coisa de adulto birrento, que não combina com parlamentares eleitos para representar a cidade.
“Só faltou dizer que o título que eu estaria concedendo foi o primeiro em décadas, acredito que na história da Câmara, a não ser aprovado”, reclamou Nádia em mensagem à coluna.
A presidente da Câmara alega que “os títulos são do mandato do parlamentar. Concordando ou não, é direito do vereador homenagear quem ele entenda importante, desde que preencha os requisitos. Ao longo dos 252 anos, assim aconteceu na Câmara de Vereadores”.
De fato, é prerrogativa do vereador sugerir. Para ser aprovada, a homenagem precisa ser aprovada por 24 dos 36 vereadores. O título a Pavinatto teve 23. Os vereadores de esquerda justificaram o voto contrário alegando que o comunicador nada fez pela cidade de Porto Alegre para merecer o título — e que é “apenas um comunicador de extrema direita”.
Nádia argumenta que "o voto 'sim' de muitos vereadores é feito apenas para alcançar os 24 votos necessários, e ajudar o proponente” e que “se não houvesse acordo parlamentar, muitos não conseguiriam alcançar dois terços na Câmara e os indicados ao título, ficariam sem”.
Sendo assim, que se mude a lei municipal e se acabe com a exigência de aprovação por dois terços. Não tem sentido manter um troca-troca. Ou a escolha é de dois terços da Câmara ou se acaba com essa farsa.
Cancelar a homenagem aprovada em junho para a reitora da UFRGS apequena a Câmara. Se os vereadores em questão acham que Márcia Barbosa não deve receber o título porque é identificada com a esquerda, não deveriam ter votado a favor. Revogar agora só serve como autocarimbo de vingativos.
Seria mais adequado a vereadora Comandante Nádia convencer os colegas dos partidos de esquerda de que Tiago Pavinatto merece figurar na lista de cidadãos de Porto Alegre. Ela descreveu no projeto o currículo e as qualidades do advogado e resumiu no último parágrafo os motivos para homenageá-lo: “Tiago Pavinatto é, assim, uma personalidade que reúne em si mesmo os atributos de um verdadeiro agente de transformação cultural, jurídica e social. Sua trajetória, marcada pela defesa intransigente da liberdade de expressão, da dignidade humana e do Estado de Direito, revela-se inspiradora e alinhada aos mais elevados valores cultivados pela cidade de Porto Alegre: o amor à liberdade, o apreço ao saber e o compromisso com a justiça”.
À coluna, a vereadora disse que “o silêncio da oposição” para a indicação dela demonstra “imaturidade política”.



