
Há silêncios que dizem mais do que palavras enfileiradas de acordo com orientação dos advogados. É o caso do presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi), Milton Baptista de Souza Filho, ao se recusar a responder às perguntas da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes bilionárias no INSS.
Protegido por um habeas corpus concedido pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal, Milton compareceu à CPI, mas optou por não prestar esclarecimentos. Alegou não se sentir confortável após a operação da Polícia Federal que, na manhã do mesmo dia, bateu à sua porta e à sede do sindicato que preside.
A justificativa? Falta de “condições psicológicas” para enfrentar os parlamentares. Uma explicação que, embora juridicamente válida, soa como um escudo conveniente diante da gravidade das acusações.
O Sindnapi, que há 25 anos se apresenta como defensor dos aposentados, está no epicentro do escândalo que envolve suspeitas de inserção de dados falsos em sistemas oficiais, formação de organização criminosa e ocultação patrimonial.
Entre os dirigentes da entidade está José Ferreira da Silva, o Frei Chico — irmão do presidente Lula, que tem esse apelido, mas não é religioso. Frei Chico é de vice-presidente do sindicato. Embora não seja formalmente investigado, sua presença na diretoria da entidade levanta uma questão inevitável: até que ponto o poder político está sendo usado como escudo contra a responsabilização?
O presidente da CPI, senador Carlos Viana, foi direto ao ponto ao afirmar que há um “movimento de blindagem de pessoas próximas ao governo”. A blindagem, aliás, parece ser a tônica de um sistema que se recusa a prestar contas. A recusa de Milton em responder até mesmo perguntas básicas sobre o funcionamento do sindicato é um desrespeito não apenas ao Congresso, mas aos milhões de aposentados e pensionistas que podem ter sido lesados por práticas fraudulentas.
O silêncio, nesse caso, não é prudência — é afronta.
A sociedade brasileira, já tão calejada por escândalos de corrupção, merece respostas. Merece saber se o dinheiro suado de quem trabalhou a vida inteira foi desviado por quem deveria protegê-los. E merece, acima de tudo, que ninguém esteja acima da lei — nem presidentes de sindicatos, nem irmãos de presidentes da República.
A CPI do INSS tem diante de si uma oportunidade histórica de mostrar que a impunidade não é regra. Mas, para isso, será preciso coragem. Coragem para romper com os pactos de silêncio e com os escudos do poder. Porque, neste caso, o silêncio não é apenas ensurdecedor — é revelador.




