
O argumento dos senadores e deputados governistas para barrar a convocação do diretor vice-presidente do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), José Ferreira da Silva, o Frei Chico, é de que se trata de uma tentativa dos adversários de atingir o presidente Lula.
A lógica deveria ser outra: se Frei Chico não deve nada no escândalo do INSS, deveriam ser os governistas a propor seu depoimento, para tirar todas as dúvidas. Ao rejeitar a convocação, os aliados de Lula acabam por passar ao Brasil a ideia de que estão blindando Frei Chico por ser irmão do presidente.
Quem acompanha as CPIs sabe que todas são palanques políticos disfarçados de investigação. Que os parlamentares estão mais preocupados com os cortes para viralizar na internet do que em identificar culpados e propor soluções. Em geral, as CPIs andam a reboque do que a polícia e o Ministério Público já investigaram.
No caso específico do irmão de Lula, ele é vice-presidente de uma das instituições que mais arrecadou no período em que está sendo investigada a fraude do INSS. Os governistas alegam que o irmão de Lula não é investigado. Deveria ser, como todos os integrantes da diretoria de todas as instituições envolvidas. Se Frei Chico é inocente, repita-se, não tem de temer a investigação.
Há sete dias, o Sindnapi foi alvo da nova fase da Operação Sem Desconto. Foram cumpridos 66 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF), nos estados de São Paulo (45 mandados), Sergipe (12), Amazonas (1), Rio Grande do Norte (1), Santa Catarina (2), Pernambuco (2), Bahia (2) e no Distrito Federal (1).
Há tantos indícios de falcatrua no Sindnapi que o ministro André Mendonça mandou bloquear, na quarta-feira (15), R$ 189 milhões das contas da entidade. O valor equivale a tudo o que o sindicato recebeu em descontos feitos nas aposentadorias e pensões do INSS entre 2021 e 2025.
Além do Sindnapi, a medida atingiu o patrimônio pessoal do presidente da entidade, Milton Baptista de Souza Filho, conhecido como Milton Cavalo, que teve carros de luxo apreendidos. Os carros de luxo, aliás, são uma espécie de fetiche dos investigados pelas fraudes. A mesma operação atingiu o espólio de João Batista Inocentini, antigo presidente do sindicato, que morreu em 2023, e outros três dirigentes — o irmão de Lula não está entre eles.
Quando depôs à CPI, no dia 9 de outubro, Milton Cavalo se recusou a responder a quase todas as perguntas dos deputados e senadores, escorado em um habeas corpus concedido pelo ministro Flávio Dino. Só perto do fim da sessão, concordou em responder a um questionamento do deputado Paulo Pimenta sobre Frei Chico.
— Contrariando o meu advogado (que sugeriu ficar em silêncio), eu quero dizer que ele (Frei Chico) nunca teve esse papel administrativo no sindicato, só político… Político de representação sindical. Nada mais que isso. E não precisei, em nenhum momento, solicitar a ele que abrisse qualquer porta do governo — declarou.






